O tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, preocupa agentes da indústria, do agronegócio e do comércio de Minas Gerais. O setor produtivo mineiro teme que o encarecimento das exportações afete diretamente vários segmentos. Além disso, cresce a apreensão com eventuais retaliações do governo brasileiro, que poderiam aumentar os custos de insumos importados e pressionar a produção local. Em manifestação nesta quinta-feira (10), um dia após o anúncio das taxas de 50% sobre as exportações brasileiras, as entidades pediram “diálogo e negociação”.
O presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Flávio Roscoe, se reuniu com a impensa na tarde desta quinta-feira (10) para falar sobre o cenário. Segundo Roscoe, a indústria siderúrgica mineira será a mais afetada pelo aumento nas taxas.
“São produtos que hoje são exportados para os Estados Unidos e têm dificuldade de ter acesso a outros mercados, porque o mundo está sobreofertado de aço em função da redução da demanda da China. Então, é muito difícil que o setor siderúrgico realoque essas exportações para outros mercados”, explica.
O presidente da Fiemg pontuou ainda que uma possível medida recíproca por parte do Governo Federal seria um “golpe” para o complexo local: “A nossa maior preocupação nesse momento é justamente uma retaliação do Brasil, que seria um outro golpe na indústria brasileira, porque as indústrias são complementares. Isso vai subir o custo das importações que o Brasil faz dos EUA. Com isso, várias empresas brasileiras vão ter algum custo das suas matérias-primas ou componentes aumentados”.
“Na nossa leitura e perspectiva, o melhor cenário, o melhor cenário possível, é um diálogo amplo, aberto, mediado, né. O que faz sentido é encontrar uma solução de negociação. Com essas retaliações todo mundo perde. É um jogo de perder”, completa.
Brics
Na avaliação de Flávio Roscoe, a imposição das tarifas está ligada à reunião de cúpula do Brics, bloco que reúne as maiores economias emergentes do planeta, no Rio de Janeiro. No último domingo (6), o grupo divulgou a Declaração Final da 17º Reunião de Cúpula, no qual, defendem a “importância do Sul Global como um motor de mudanças positivas, especialmente diante de desafios internacionais significativos”.
No manifesto, os países manifestam intenção de reduzir a dependência do dólar, promovendo o comércio em moedas locais entre os membros.
Trump enxergou a publicação como uma afronta e usou as redes sociais para ameaçar: “Qualquer país que se alinhe às políticas antiamericanas do Brics será taxado com tarifa extra de 10%. Não haverá exceções a essa política. Obrigado pela atenção em relação a essa questão”, escreveu no Truth Social.
Diante do cenário, o presidente da Fiemg entende que o governo brasileiro deveria manter um “posicionamento neutro” para evitar conflitos internacionais.
“O Brasil sempre foi um país neutro nas relações internacionais e nós entendemos que esse posicionamento é sempre muito positivo para o comércio. Porque evita retaliações de lado A ou do lado B. Então, nós entendemos que nesse momento ter uma posição neutra é muito favorável”.
Além de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, compõem o Brics a Arábia Saudita, o Irã, os Emirados Árabes, a Indonésia, o Egito e a Etiópia. Mais dez países são parceiros do grupo: Bielorrússia, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda, Uzbequistão e Vietnã.
Entidades mineiras se manifestam
Em nota enviada ao BHAZ, a Associação Comercial e Empresarial de Minas (ACMinas) disse que “recebeu com grande preocupação” a notícia sobre o tarifaço de Donald Trump.
Segundo o presidente da ACMinas, Cledorvino Belini, “a decisão unilateral dos Estados Unidos impõe barreiras injustificadas a produtos brasileiros, prejudicando setores estratégicos da nossa economia, em especial a indústria de base. Trata-se de um movimento que enfraquece o espírito de cooperação internacional e afeta empregos, investimentos e a competitividade de nossas exportações.”
A ACMinas defende a importância de uma resposta firme, porém diplomática, por parte do governo brasileiro, por meio do Ministério das Relações Exteriores e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, visando a reversão da medida e a preservação dos interesses da indústria nacional.
A entidade também destaca que esse episódio reforça a necessidade de diversificação dos mercados de exportação e o fortalecimento da diplomacia comercial brasileira.
A diplomacia também é defendida pelo Sistema Faemg (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais) juntamnete com o Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), que alerta para os impactos no setor produtivo brasileiro.
“O aumento das tarifas afeta especialmente as exportações do agronegócio brasileiro, com destaque para carnes, produtos florestais, café, suco de laranja, açúcar e etanol, que são os principais itens da pauta exportadora do Brasil para os EUA”, diz em comunicado.
Tarifaço de Trump
Nessa quarta-feira (9), Donald Trump enviou presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em que anuncia a imposição de uma tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras ao país norte-americano. Segundo Trump, as tarifas passam a valer a partir do dia 1º de agosto.
No documento, Trump justifica a medida citando o ex-presidente Jair Bolsonaro, que é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado. Ele também destacou ordens do STF emitidas contra apoiadores do ex-presidente brasileiro que mantêm residência nos Estados Unidos.
A forma como o Brasil tem tratado o ex-presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado em todo o mundo durante seu mandato, inclusive pelos Estados Unidos, é uma vergonha internacional. Esse julgamento não deveria estar ocorrendo. É uma Caça às Bruxas que deve acabar IMEDIATAMENTE!”, escreveu Trump.
O presidente norte-americano justifica a medida tarifária citando ainda supostos “ataques insidiosos do Brasil contra eleições livres e à violação fundamental da liberdade de expressão dos americanos”.
“A partir de 1º de agosto de 2025, cobraremos do Brasil uma tarifa de 50% sobre todas e quaisquer exportações brasileiras enviadas para os Estados Unidos, separada de todas as tarifas setoriais existentes. Mercadorias transbordadas para tentar evitar essa tarifa de 50% estarão sujeitas a essa tarifa mais alta”, afirmou o presidente norte-americano.
Trump prossegue a carta acusando o Brasil de praticar relação comercial injusta com os Estados Unidos: “Tivemos anos para discutir nosso relacionamento comercial com o Brasil e concluímos que precisamos nos afastar da longa e muito injusta relação comercial gerada pelas tarifas e barreiras tarifárias e não tarifárias do Brasil. Nosso relacionamento, infelizmente, tem estado longe de ser recíproco. Por favor, entenda que os 50% são muito menos do que seria necessário para termos igualdade de condições em nosso comércio com seu país. E é necessário ter isso para corrigir as graves injustiças do sistema atual”, escreveu.
Lula responde
Lula usou as redes sociais para responder ao anúncio. Em publicação no X, o presidente disse que o Brasil é um país soberano, que “não aceitará ser tutelado por ninguém”.
“O processo judicial contra aqueles que planejaram o golpe de estado é de competência apenas da Justiça Brasileira e, portanto, não está sujeito a nenhum tipo de ingerência ou ameaça que fira a independência das instituições nacionais”, continua a publicação.
O brasileiro também desmentiu a informação de que, na elação comercial entre Brasil e Estados Unidos, haveria um déficit norte-americano.
“As estatísticas do próprio governo dos Estados Unidos comprovam um superávit desse país no comércio de bens e serviços com o Brasil da ordem de 410 bilhões de dólares ao longo dos últimos 15 anos. Neste sentido, qualquer medida de elevação de tarifas de forma unilateral será respondida à luz da Lei brasileira de Reciprocidade Econômica. A soberania, o respeito e a defesa intransigente dos interesses do povo brasileiro são os valores que orientam a nossa relação com o mundo”.
O que diz Zema
O Governador de Minas Gerais, Romeu Zema, também se manifestou sobre a imposição de tarifas norte-americanas. “As empresas e os trabalhadores brasileiros vão pagar, mais uma vez, a conta do Lula, da Janja e do STF”, diz em postagem no X.
“Ignorar a boa diplomacia, promover perseguições, censura e ainda fazer provocações baratas vai custar caro para Minas e para o Brasil”, finaliza.
Com informações de Agência Brasil
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