‘Vivi por muitos anos com medo’, diz mulher que pulou de prédio para escapar de marido

“Só eu e meu menino sabemos o inferno que nós vivíamos”, descreve Jhenipher Sabriny de Oliveira, de 31 anos, sobre os anos que viveu ao lado de Pablo Henrique Oliveira Rodrigues, 32, indiciado por tentativa de feminicídio nesta quarta-feira (9). A mulher precisou pular do segundo andar de um prédio para se salvar dos ataques do companheiro.

Clique no botão para entrar na comunidade do BHAZ no Whatsapp

ENTRAR

O caso foi registrado em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, no dia 12 de fevereiro. O homem chegou a fugir para o Paraguai, mas se entregou à polícia nessa terça (8). 

Em conversa com o BHAZ, Jhenipher revelou que já era vítima de violência doméstica há anos, mas que nunca tinha procurado a polícia. Os dois estavam juntos há nove anos e casados há oito. Ela relata que no início do relacionamento, Pablo não demonstrava comportamento violento.

“Com o tempo ele foi evoluindo essas agressões. Começa com um xingo, com um tom mais alto e isso vai evoluindo a ponto de chegar às vias de fato. Eu já tomei soco, tapa na cara, empurrão”, lembra.

A versão é confirmada pelo filho de Jhenipher, um adolescente de 15 anos, que narra as agressões: “Esse homem era explosivo, ele xingava todo mundo, xingava os funcionários, xingava minha mãe e eu dentro do ambiente do trabalho e dentro de casa. Se a polícia for no apartamento vai ver marca de soco na porta do banheiro, na geladeira, na porta do quarto”.

O jovem ainda afirma que a rotina da família era marcada por conflitos e que ele chegou a ser expulso de casa pelo padrasto. O garoto também era alvo de violências físicas e emocionais por parte de Pablo. “Eu apanhava, tomava soco, chute na cara e chute no estômago. Ele também já me proibiu de comer dentro de casa, de mexer no armário”.

Segundo o rapaz, o homem tinha o costume de carregar uma machadinha dentro do carro e usava o objeto para ameaçar tanto o menino, quanto a mulher. “Eu não dava as costas para ele, porque eu tinha medo de ele meter uma faca nas minhas costas, porque ele era imprevisível. Tinha dias que ele parecia estar normal e do nada ele xingava a gente”.

Violência psicológica

Ainda conforme Jhenipher, ela viveu num ciclo de violências psicológicas enquanto esteve com o ex-companheiro. “A gente no início acredita que vai mudar, que vai resolver, que vai melhorar, mas chega um momento em que ele consegue criar uma camada que ele trabalha com o seu medo. Eu vivi por muitos anos com medo”, diz.

“Ele não aceitava a minha ausência. Se eu saísse da presença dele, ele me ligava 40 vezes num só dia. Ele me mandava mensagem: ‘Onde você tá?’ e xingava palavrão”.

Ela afirma que pensou em se separar do marido, mas que desistia da ideia por causa das ameaças constantes.

“Não podia nem falar desse assunto lá em casa, porque se não o pau quebrava. Além de ter todo o jogo psicológico, a agressão física, a verbal, ele ainda não deixa de você respirar, então assim, você não consegue se ver livre da pessoa”, finaliza.

Suspeito se entrega

Pablo chegou a fugir do país, mas se entregou à polícia no início da tarde desta terça-feira (8). Ele estava foragido desde o dia 10 de março, quando foi expedido o mandado de prisão.

“Tivemos conhecimento que ele fugiu pro Paraguai, mas isso foi antes da prisão ter sido decretada. Em razão disso, a gente chegou a acionar a Interpol, mas antes que os procedimentos fossem colocados em prática, ficamos sabendo que ele tinha voltado para o Brasil”, comenta Damasceno.

Entenda

Jhenipher pediu socorro até que os vizinhos apareceram e tentaram ajudar. Porém, como Pablo afirmou que era marido dela, eles deixaram o suspeito levá-la ao hospital e acreditaram que ela estivesse alucinando devido à queda.

O suspeito a colocou dentro do carro e deixou o condomínio onde moravam. No meio do caminho, o veículo cruzou com uma viatura da Polícia Militar, e Jhenipher colocou uma das mãos para fora para pedir ajuda. Os policiais abordaram o casal, mas o homem disse que levaria a mulher até a UPA Ressaca, em Contagem, e seguiu viagem.

Na unidade de saúde, Jhenipher soube a gravidade dos ferimentos: dois braços e duas pernas quebrados, além de fraturas na bacia e nos dois punhos. Ela ficou internada por 12 dias, tendo apenas o seu agressor como acompanhante.

“Eu fiz o jogo dele, não contei para ninguém porque eu tinha medo dele me matar ou matar a minha família. E ele não aceitava ninguém entrar, só ele”.

Pedido de ajuda

Jhenipher conseguiu ligar para uma advogada no dia 24 de fevereiro, durante o intervalo de tempo em que o marido precisou deixar o hospital. Ela contou sobre a violência e a representante procurou a polícia em busca de uma medida protetiva.

“Quando saiu a medida protetiva ela voltou para o hospital e passou para a equipe médica tudo o que tinha acontecido. Eles me trocaram de ala, de identidade, fizeram tudo o que podiam”, afirma.

A partir daí, a mulher continuou o tratamento longe do suspeito, que está foragido. Ela ficou internada até o dia três de março, quando recebeu alta médica.

O post ‘Vivi por muitos anos com medo’, diz mulher que pulou de prédio para escapar de marido apareceu primeiro em BHAZ.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.