Quando a pesca com rede passa a ser perigosa para as baleias? Homem em prancha soltou animal preso em rede em SC


Homem em prancha se aproxima e solta baleia presa em rede de pesca em SC
O vídeo de um homem soltando uma rede de pesca presa em uma baleia-franca-austral acompanhada de um filhote em Palhoça, na Grande Florianópolis, viralizou nas redes sociais. Ele estava em cima de uma prancha e usou um remo para remover o apetrecho (assista acima).
Segundo Eduardo Renault-Braga, gerente do ProFRANCA, que monitora esses animais no litoral de Santa Catarina, baleias se enroscam em redes de pesca com certa frequência. “Na maioria dos casos, conseguem se livrar sozinhas dos resíduos, pois o atrito com as calosidades costuma romper as redes”, afirmou.
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🎣➡️ Para entender: Todas as modalidades de pesca podem ter algum tipo de interação com animais aquáticos. A técnica de emalhe, no entanto, costuma gerar mais ocorrências por causa do comprimento e da espessura da rede, segundo o superintendente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em Santa Catarina, Paulo Maués. Esse modelo utiliza redes verticais, fixas ou à deriva para capturar peixes que ficam presos nas malhas ao tentar atravessá-las.
Quando a modalidade passa a ser perigosa?
Maués explica que o risco ocorre quando a pesca é realizada em rotas de migração ou em áreas de concentração de baleias-franca, especialmente durante os meses de aparição e amamentação no litoral catarinense.
“Quando presas a esses apetrechos, as baleias podem sofrer ferimentos graves ou até morrer por afogamento, principalmente os filhotes, que ainda dependem da mãe para respirar e se locomover”, comenta.
A temporada de avistamento de baleias-francas ocorre geralmente de julho a novembro, mas os registros começaram mais cedo neste ano no estado, em 27 de maio.
A maior concentração, segundo ele, ocorre entre Garopaba e Imbituba, no Sul do estado, dentro da Área de Proteção Ambiental da Baleia Franca (APABF). Registros recentes também apontam a presença desses animais em praias de Florianópolis, como Morro das Pedras, Armação e Moçambique.
Ele ressalta que toda e qualquer interação com baleias e demais cetáceos deve ser previamente autorizada pelo Ibama.
“Essa exigência tem como objetivo principal garantir a segurança dos animais — especialmente dos filhotes — e também das pessoas envolvidas. Tais ações devem ser conduzidas exclusivamente por profissionais capacitados, para evitar acidentes e reduzir ao máximo os riscos à vida humana e à fauna marinha”.
Rede presa à baleia foi retirada por homem em Palhoça (SC)
Redes sociais/ Reprodução
Cuidados na pesca
Paulo detalha que os pescadores devem evitar colocar redes em locais reconhecidos como berçários naturais da baleia-franca, como baías e praias abrigadas do litoral centro-sul de Santa Catarina.
As redes também devem ser recolhidas ao final da atividade pesqueira, evitando que fiquem à deriva no mar. As chamadas “redes fantasmas”, segundo ele, representam uma ameaça significativa à fauna marinha, podendo causar enredamento e morte de diversas espécies.
“Além disso, é essencial que todas as redes estejam devidamente identificadas, conforme exigido pela legislação, e que sejam utilizados apetrechos adequados à atividade, minimizando os riscos de captura acidental de animais marinhos”, diz.
Áreas de refúgio
Santa Catarina tem algumas áreas especialmente protegidas no interior da APA da Baleia Franca, chamadas de áreas de refúgio, onde as baleias podem permanecer com o mínimo de interferências humanas durante sua fase de reprodução.
São consideradas áreas de refúgio:
Garopaba: Praia da Gamboa, Praia Central e do Silveira
Imbituba: Praia da vila, Praia d’água e Praia do Luz
Nessas áreas, é permitida a extração de mariscos para comercialização somente aos pescadores artesanais locais. É proibida a pesca de arrasto industrial de peixes a menos de 3 milhas náuticas da costa, nos limites da APABF.
Convivência
Apesar dos registros de enredamentos não serem raros, o analista ambiental chefe da APA da Baleia Franca, Stéphano Diniz, diz que os pescadores convivem geralmente sem grandes conflitos com as baleias. Ele destaca que o que ocorre de mais prejudicial são as redes de espera, que ficam fixas por vários dias no mar.
“Essas redes são proibidas em Santa Catarina não apenas pelas baleias, mas porque pode capturar incidentalmente outras espécies ameaçadas de extinção, que morrem no local.”, explica.
Baleia-franca
Ben Ami Scopinho/Arte
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