Bióloga flagra cópula de pato-mergulhão, uma das aves mais ameaçadas do Brasil


Bióloga flagra cópula de pato-mergulhão, uma das aves mais ameaçadas do Brasil
Durante um monitoramento no Parque Nacional da Serra da Canastra, em Minas Gerais, neste mês de julho, a bióloga Camille Aleixo conseguiu registrar uma cena rara e valiosa para a conservação da biodiversidade: a cópula de um casal de pato-mergulhão (Mergus octosetaceus), uma das espécies mais ameaçadas de extinção no Brasil.
“Durante o monitoramento de um casal com ninho, foi possível flagrar e gravar a cópula do pato-mergulhão. Acordamos às 4 horas da madrugada e chegamos no território em que estávamos monitorando aproximadamente às 7h30 da manhã. Foram 4 horas de espera até o momento em que presenciamos a cópula”, conta Camille.
Os casais de pato-mergulhão são monogâmicos, têm laços duradouros, únicos parceiros e ficam juntos a vida toda até a morte de algum dos indivíduos
Camille Aleixo
O pato-mergulhão realiza a cópula sempre dentro da água. Durante a época reprodutiva, que vai de maio a agosto, o casal pode repetir o comportamento várias vezes ao dia.
O período de incubação, que leva 33 dias, se inicia quando a fêmea termina a postura de quatro a oito ovos. Após esse tempo, os filhotes caem na água para viver outro ciclo de vida e não voltam mais para o ninho. Os ninhos são feitos em buracos em barrancos às margens de rios e córregos, entre 4 e 40 metros do nível da água.
Pato-mergulhão registrado no Parque Nacional da Serra da Canastra, em Minas Gerais
Camille Aleixo
Camille relata que não imaginava fazer um flagrante tão especial. No dia anterior, ela já tinha presenciado o nascimento de quatro filhotes. “Todos os momentos do trabalho foram muito emocionantes. Fiquei sem palavras de ter tido um contato tão íntimo com o pato-mergulhão e ainda por cima fazer imagens de extrema importância contribuindo para a conservação da espécie”.
Para o biólogo Wellington Viana, que coordena o projeto ECOMergus na Serra da Canastra, o comportamento indica que o casal está indo bem na reprodução.
A estimativa atual da população mundial da espécie é de menos de 250 indivíduos — cerca de 60% deles vivem na Serra da Canastra
Camille Aleixo
“É natural esse comportamento, mesmo com a fêmea incubando os ovos. Em outros momentos da vida do casal, creio que serve para manter e fortalecer ainda mais os laços entre eles, assim como a confiança”, explica.
Os casais de pato-mergulhão são monogâmicos, com laços duradouros: ficam juntos a vida toda, até a morte de um dos indivíduos. Quando isso acontece, o sobrevivente busca um novo parceiro.
A estimativa atual da população mundial da espécie é de menos de 250 indivíduos — cerca de 60% deles vivem na Serra da Canastra.
O pato-mergulhão realiza a cópula sempre dentro da água
Camille Aleixo
“A situação é complicada, pois ele precisa de áreas preservadas. Vimos que ao longo do tempo as coisas não estão como deveriam ser, habitats vêm sendo degradados por várias ações humanas. Ainda bem que tem um parque nacional que ajuda a segurar essas ações”, afirma Wellington Viana.
A visita à Canastra foi a primeira experiência de Camille com a espécie em campo. Formada em biologia pela PUC Minas em 2020 e mestre em zoologia pela UFMG desde 2024, a bióloga trabalha atualmente na coleção científica de aves no Departamento de Zoologia da universidade, orienta alunos e ensina taxidermia. Mas, quando pode, gosta de atuar diretamente com pesquisa, monitoramento e conservação.
“Nunca se sabe o que a natureza pode nos dar. É sempre um prazer registrar a vida silvestre, independente da espécie”, conclui Camille.
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