Israel limita entrada de soldados sírios em cidade da Síria com minoria aliada, diz agência


Noticiário de TV sírio transmite ao vivo ataque de Israel a Damasco
Dois dias depois de uma trégua no conflito que forças da Síria travaram com os drusos, minoria aliada de Israel, forças israelenses limitaram nesta sexta-feira (18) o acesso de soldados sírios à cidade na Síria onde houve o combate.
“Em vista da instabilidade contínua no sudoeste da Síria, Israel concordou em permitir a entrada limitada das forças de segurança interna (sírias) no distrito de Sweida pelas próximas 48 horas”, disse a autoridade, que não quis ser identificada, a repórteres.
✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp
O governo da Síria anunciou nesta quinta-feira (17) a retirada das tropas da cidade de Sweida, no sul do país, onde soldados vinham lutando contra drusos, minoria étnica drusa protegida por Israel.
O combate, que durou quatro dias, deixou mais de 500 mortos, segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos. E abriu uma nova frente de conflito no Oriente Médio e estremeceu ainda mais as tensões entre Israel e o novo governo da Síria, que ensaiavam uma normalização das relações.
As forças israelenses intervieram no conflito e bombardearam alvos do Exército sírio em Sweida e até instalações do governo na capital Damasco.
O Exército sírio já se retirou de toda a província, afirmaram o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH) e testemunhas de agências de notícias.
A retirada ocorreu após um acordo de cessar-fogo entre na quarta-feira. O presidente recém-empossado da Síria, Ahmed al Sharaa, anunciou durante a madrugada que delegaria a segurança em Sweida para “facções locais” drusas, mas sem dar mais detalhes.
“As autoridades sírias retiraram suas forças militares da cidade de Sweida e de toda a província. Os combatentes drusos foram mobilizados”, declarou à AFP o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman. O Exército sírio completou a retirada durante a madrugada, no horário local.
A retirada coloca panos quentes sobre uma nova frente de conflito envolvendo Israel no Oriente Médio. As Forças Armadas israelenses atacaram a capital Damasco na quarta-feira, e atingiram o Ministério da Defesa, o quartel-general e as redondezas do Palácio Presidencial, após dias de combates em Sweida entre o Exército sírio e os drusos, minoria étnica que vive em regiões tanto de Israel quanto da Síria.
A região de Sweida, no sul do país e próxima às Colinas de Golã, foi palco de confrontos entre drusos, beduínos e forças de segurança governamentais, que deixaram mais de 370 mortos desde domingo, segundo a OSDH. Após a retirada do Exército sírio, um fotógrafo da AFP contou 15 corpos espalhados pelas ruas da cidade, e alguns deles estavam inchados. Leia mais abaixo sobre os drusos e sobre os combates em Sweida.
Israel já havia atacado o país vizinho depois que o regime do ex-ditador Bashar Al-Assad caiu na Síria, no fim do ano passado, alvejando lideranças de grupos jihadistas. Mas esta foi a primeira vez em que o Exército israelense afirmou estar atacando em defesa de uma causa alheia.
Quem são os drusos
Israel bombardeia capital da Síria
O conflito se originou quando drusos e beduínos —dois dos vários grupos minoritários que vivem na Síria— começaram a se enfrentar na cidade de Sweida, no oeste do país. O Exército sírio interveio, mas acabou abrindo um novo conflito contra a população drusa, durante o fim de semana.
Os drusos são um grupo minoritário formado a partir de um desdobramento do ismaelismo, um ramo do islamismo xiita, no século X. Hoje, eles são cerca de 1 milhão de pessoas em todo o mundo, e mais da metade vive na Síria.
A parte restante está majoritariamente no Líbano e em Israel, incluindo as Colinas de Golã —a região que as forças israelenses capturaram da Síria na Guerra de 1967 e anexaram em 1981.
Na Síria, os drusos vivem principalmente em Sweida — onde ocorreram os confrontos — e em alguns subúrbios de Damasco, como Jaramana e Ashrafiyat Sahnaya, ao sul da capital síria.
A situação já era tensa para esse grupo desde a chegada ao poder de um novo governo, formado pelo Hayat Tahrir al-Sham, ou HTS, o grupo jihadista que já foi afiliado ao Estado Islâmico e era o principal rival de Bashar al-Assad. Embora rígido, o governo da família Assad garantia liberdade religiosa.
Durante os 14 anos de conflito na Síria, os drusos tinham suas próprias milícias, em parte para se defenderem de militantes muçulmanos que os consideram hereges. Em 2018, membros do grupo Estado Islâmico atacaram os drusos na província de Sweida, matando mais de 200 pessoas e fazendo mais de duas dezenas de reféns.
O novo governo sírio, ao assumir, prometeu incluir as minorias, mas desde então há diversos relatos de perseguição a grupos minoritários protegidos sob a dinastia Assad. Apesar do Ministro da Agricultura da Síria, Amjad Badr, ser druso, relatos de ataques a civis drusos por forças afiliadas ao governo vinham se alastrando.
Como o conflito começou?
Soldados sírios celebram após combate com minoria drusa, apoiada por Israel, na cidade de Sweida, no oeste da Síria, em 16 de julho de 2025.
Karam al-Masri/ Reuters
O Observatório Sírio para os Direitos Humanos, grupo de monitoramento da guerra síria sediado no Reino Unido, afirmou que os confrontos começaram depois que membros de uma tribo beduína na província de Sweida montaram um posto de controle onde atacaram e roubaram um homem druso, levando a ataques retaliatórios e sequestros entre as tribos e grupos armados drusos.
As tropas do governo sírio foram então enviadas para a região na segunda-feira (14) para controlar os combates entre combatentes drusos e homens armados beduínos, mas acabaram entrando em conflito com as próprias milícias drusas.
Os drusos e beduínos acabaram chegando a um cessar-fogo, mas o combate entre soldados sírios e drusos seguiu, e a trégua ruiu. Nesta quarta, após os ataques israelenses, o líder religioso druso Sheikh Yousef anunciou ter alcançado um novo acordo de cessar-fogo com o governo sírio e disse que o trato entrou em vigor imediatamente.
Nova ofensiva
Israel atacou a capital síria Damasco no terceiro dia de ofensivas em território sírio. O Exército israelense afirmou ter atingido a entrada do Ministério da Defesa do país, o quartel-general das Forças Armadas da Síria e as redondezas do Palácio Presidencial.
Imagens registradas por TVs locais mostraram o ataque ao ministério ao vivo (veja no vídeo acima). Segundo o Ministério da Defesa sírio, uma pessoa morreu e 28 ficaram feridas no ataque.
Os militares israelenses disseram que “atingiram o portão de entrada do complexo do quartel-general militar do regime sírio” em Damasco e que continuavam “a monitorar os acontecimentos e as ações tomadas contra os civis drusos no sul da Síria”.
Segundo a mídia estatal síria, os ataques também atingiram Sweida.
A agência de notícias local Sweida24 afirmou que a cidade e os vilarejos próximos estavam sendo alvo de artilharia pesada e disparos de morteiros no início da quarta-feira. O Ministério da Defesa da Síria, em um comunicado divulgado pela agência de notícias estatal SANA, culpou os grupos fora da lei em Sweida pela violação da trégua.
O Ministério da Defesa pediu aos moradores da cidade que permanecessem em casa. Alguns moradores que a Reuters conseguiu contatar por telefone disseram que estavam escondidos em casa com medo, sem eletricidade.
Israel diz defender drusos
Desde que o regime do ex-ditador sírio Bashar al-Assad foi derrubado, Israel tem atuado em favor da população drusa na Síria, que é um dos alvos do novo governo de maioria islâmica.
Mas os Estados Unidos, aliados de Israel, não estão contentes com a nova ofensiva israelense e pediram nesta quarta que o governo de Benjamin Netanyahu suspenda os ataques à Síria, segundo uma reportagem do site de notícias norte-americano Axios.
De acordo com o site, o enviado especial do governo dos EUA à Síria, Tom Barrack, fez o pedido diretamente ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. A avaliação, diz a reportagem, é que Washington não quer interromper conversas que vem travando com o novo governo sírio para tentar normalizar as relações entre Israel em Síria.
Em maio, em um indicativo de aproximação com o novo governo sírio, o presidente dos EUA, Donald Trump, se reuniu com o presidente recém-empossado da Síria, Ahmed al-Sharaa, um líder islâmico que, até o fim do ano passado, era buscado pelo serviço secreto dos EUA por atividades terroristas.
Apesar da reprimenda dos EUA, as Forças Armadas de Israel indicaram que seguirão com a ofensiva na Síria em um comunicado emitido nesta quarta.
“As Forças de Israel continuam monitorando os acontecimentos e as ações do regime contra civis drusos no sul da Síria. Seguindo as diretrizes da cúpula política, as estão realizando ataques na área e permanecem preparadas para diversos cenários”, diz a nota.
O ataque desta quarta é o primeiro de Israel a Damasco desde março, quando forças israelenses alvejaram centro da Jihad Islâmica na cidade (veja vídeo abaixo).
Adicionar aos favoritos o Link permanente.