Nos últimos anos, os procedimentos estéticos não cirúrgicos, como preenchedores e bioestimuladores, se tornaram aliados populares no combate ao envelhecimento. No entanto, com a evolução das técnicas de lifting facial — hoje muito mais naturais — uma nova dúvida começou a surgir: será que esses procedimentos podem atrapalhar uma cirurgia plástica no futuro?
A resposta é: sim, eles podem interferir — mas não necessariamente serão um problema, desde que o histórico do paciente seja bem avaliado e a cirurgia seja cuidadosamente planejada.
O que pode atrapalhar?
De acordo com o cirurgião plástico Dr. Wellerson Mattioli, diretor da Clínica Moderna Sculpt, preenchedores como o ácido hialurônico, quando aplicados em excesso ou de forma profunda, podem alterar a anatomia da face. Isso dificulta o trabalho do cirurgião durante a cirurgia, principalmente em procedimentos como o facelift.
“Esses produtos podem gerar aderências e distorções que comprometem o plano cirúrgico. Em muitos casos, é necessário adaptar a técnica e até dissolver o material antes do procedimento”, explica.
A dermatologista Dra. Claudia Marçal também alerta: “Um preenchimento mal posicionado, como na região das pálpebras, pode distender áreas específicas da pele. Isso impacta negativamente o resultado final da cirurgia, que pode perder sua naturalidade”.
E os bioestimuladores?
Os bioestimuladores de colágeno, como ácido poli-L-láctico e hidroxiapatita de cálcio, também merecem atenção. Segundo o Dr. Wellerson, eles estimulam uma produção de colágeno que pode levar à formação de fibroses — um tecido cicatricial mais rígido. “Durante a cirurgia, essa fibrose dificulta a separação dos tecidos e pode aumentar o tempo e a complexidade da operação”, explica.
O mesmo vale para tecnologias que usam calor, como ultrassom microfocado, radiofrequência e certos tipos de laser. Quando utilizados em excesso ou pouco tempo antes da cirurgia, podem provocar alterações nos planos anatômicos da face.
O segredo está no planejamento
Apesar dos riscos, os especialistas são unânimes: esses procedimentos não precisam — e nem devem — ser descartados. O importante é que o paciente informe ao cirurgião quais tratamentos realizou, em que áreas e há quanto tempo.
“Esse histórico é fundamental para um planejamento cirúrgico seguro. Em alguns casos, podemos solicitar uma ultrassonografia facial para mapear produtos injetados e adaptar a técnica”, afirma o Dr. Wellerson.
O cirurgião plástico Dr. Paolo Rubez reforça: “Hoje é raro encontrar alguém que nunca tenha feito um procedimento antes de procurar a cirurgia. Isso não impede o lifting, mas exige mais cuidado na execução”.
Quando parar com os procedimentos?
Segundo os especialistas, o ideal é interromper os tratamentos estéticos faciais ao decidir pela cirurgia. Produtos que estimulam colágeno ou geram calor devem ser evitados de 3 a 6 meses antes do lifting. Já preenchimentos com ácido hialurônico, quando necessário, podem ser dissolvidos previamente.
“O cirurgião precisa ter controle do cenário que irá encontrar durante o procedimento”, explica Dr. Paolo. “E hoje temos ferramentas como o ultrassom dermatológico para auxiliar no mapeamento, principalmente quando o paciente não sabe exatamente o que foi aplicado.”
E depois da cirurgia?
Os procedimentos estéticos continuam sendo aliados importantes mesmo após o lifting. “O lifting reposiciona e traciona tecidos, mas não trata qualidade da pele ou volume. Por isso, preenchimentos, lasers e bioestimuladores, se bem indicados, complementam o resultado da cirurgia e ajudam a mantê-lo por mais tempo”, afirma o Dr. Wellerson.
A Dra. Claudia Marçal também destaca o papel da dermatologia estética no pós-operatório. “Laser CO2, microagulhamento profundo, medicina regenerativa e tratamentos como Hydrafacial ou Zaffiro melhoram textura, poros, firmeza e luminosidade da pele.”
O Fator-Chave? Estratégia, sempre
Portanto, os procedimentos não invasivos não são vilões — pelo contrário, são aliados valiosos. A chave está em respeitar o tempo certo, usar as técnicas corretas e manter um diálogo transparente entre médico e paciente.
“A pior escolha é tentar substituir uma cirurgia com excesso de preenchedores. Isso sim compromete o resultado estético. Cada técnica tem seu papel. Quando bem indicadas e integradas, cirurgias e procedimentos entregam resultados duradouros, seguros e naturais”, finaliza o Dr. Wellerson Mattioli.
Fontes:
Dr. Wellerson Mattioli (cirurgião plástico – @dr.mattioli)
Dr. Paolo Rubez (cirurgião plástico – @drpaolorubez)
Dra. Claudia Marçal (dermatologista – @draclaudiamarcal)
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