No Brasil, cuidar da casa, trabalhar, visitar família e amigos quase sempre envolve deslocamento. O setor de transportes consome mais de 30% de toda a energia produzida no país — e essa demanda só cresce. Tradicionalmente movidos a combustíveis fósseis como gasolina e diesel, os veículos são responsáveis por boa parte das emissões de gases de efeito estufa. A transição para energias limpas desponta como solução urgente e promissora.
Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), a produção e uso de biocombustíveis no mundo precisam mais do que dobrar até 2030 para compensar cerca de 10% das emissões do transporte — o equivalente a 800 milhões de toneladas de CO₂.
Brasil: preparado para liderar
A professora Gláucia Souza, da USP, especialista em bioenergia e membro da força-tarefa da AIE para a descarbonização do transporte, acredita que o Brasil está pronto para assumir protagonismo global. “Já temos 22% da matriz de transporte renovável e volume de produção significativo. Podemos liderar essa agenda até a neutralidade de carbono em 2050”, afirma.
Entre 2022 e 2023, o consumo de etanol cresceu 6%, e o de biodiesel, quase 20%. Daniel Furlan Amaral, da Associação Brasileira de Óleos Vegetais, destaca que o Brasil é um dos poucos países com capacidade para até três safras anuais, o que amplia as oportunidades de produção e exportação.
Lei do Combustível do Futuro: um divisor de águas
Sancionada em 2024, a Lei do Combustível do Futuro cria novos programas para incentivar a produção e uso de biocombustíveis. Para Erasmo Batistella, CEO da BSBIOS, a lei inaugura uma nova fase: “Ela amplia a produção e diversifica a matriz, incluindo biogás, SAF para aviação e diesel verde”.
A história dessa política começou nos anos 1970 com o Proálcool, seguido do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel em 2004. Agora, a nova lei eleva o percentual de etanol na gasolina para até 35% e estabelece meta de 20% de biodiesel no diesel até 2030. Para aviação, as metas preveem reduzir emissões em 10% até 2037 por meio do SAF (combustível sustentável de aviação).
Transporte aéreo e novas metas
Marcelo Bento, diretor da AENA Brasil, afirma que a companhia já consome energia majoritariamente limpa e pretende alcançar neutralidade de carbono em 2035. “O desafio é garantir biocombustível em volume e custo adequados. Já trabalhamos para ampliar a oferta de SAF”, explica.
O setor aéreo também se beneficia do RenovaBio, política de 2017 que concede créditos de descarbonização (CBIOs) para produtores que evitam emissões. Esses créditos são vendidos na Bolsa, gerando receita e incentivando práticas sustentáveis.
Desafios e oportunidades regulatórias
Guilherme Vinhas, especialista em transição energética, alerta para a necessidade de regras eficientes: “É crucial ter normas claras, que garantam segurança jurídica e atraiam investimentos sem engessar o setor”.
Para Gláucia Souza, previsibilidade é fundamental: “As políticas não podem oscilar. Precisamos de estabilidade para garantir confiança de investidores e evolução do setor”.
Biocombustíveis como estratégia de futuro
O avanço dos biocombustíveis coloca o Brasil em posição estratégica para reduzir emissões e gerar negócios. O biodiesel, em especial, desponta como elemento-chave para consolidar o protagonismo do país na transição energética.
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