Valor de R$ 700 apreendido pela PF estava com assessor e tem elo com um dos maiores ataques hackers a instituições financeiras do Brasil

Homem é preso em Roraima com R$ 700 mil em espécie
O valor de R$ 700 mil em espécie apreendido pela Polícia Federal estava com o assessor parlamentar Jackson Renei Aquino de Souza. A PF identificou que o montante está relacionado ao ataque hacker que desviou milhões das contas de a instituições financeiras – o atentado é considerado um dos maiores e mais graves do país.
Jackson Renei, que também atua como corretor de imóveis, foi preso em flagrante pela PF por suspeita de lavagem de dinheiro. Ele foi abordado ao sair de uma agência bancária na segunda-feira (22). Nesta terça-feira (23), a Justiça converteu a prisão em preventiva durante audiência de custódia. Procurada, a defesa dele não se manifesta publicamente sobre nenhum caso.
Ele atua como assessor do deputado estadual Neto Loureiro (PMB). Em nota, o parlamentar disse que Jackson está de férias e que “não compactua com qualquer tipo de ato ilegal.” A Assembleia Legislativa de Roraima informou que “estão sendo adotadas as providências administrativas cabíveis para o seu desligamento, que será formalizado ainda hoje” (leia as notas no fim da reportagem).
A PF chegou até Jackon após um alerta da Coordenação de Repressão a Fraudes Bancárias Eletrônicas de que ele havia agendado um saque de R$ 1 milhão para a segunda. Na investigação, agentes descobriram que havia caído R$ 2,4 milhões na poupança do assessor e que o dinheiro tinha relação o desvio do ataque cibernético.
As transferências para a conta poupança do assessor partiram de duas empresas que, segundo rastreamento do Banco Central enviado à PF, têm ligação com o furto milionário contra instituições financeiras. A primeira repassou R$ 1,85 milhão; a segunda, R$ 600 mil.
Em depoimento à PF, o assessor disse que não conhecia as empresas que enviaram o dinheiro. Ele alegou que os valores eram de um garimpeiro venezuelano com quem, na condição de corretor, negociava a compra de uma fazenda em Roraima. A operação, segundo ele, foi intermediada por outro homem. Disse ainda que usou a própria conta bancária para receber os valores porque havia promessa de lucro na transação.
No entanto, para a PF, Jackson não poderia alegar desconhecimento sobre a origem ilícita do dinheiro. Para o delegado do caso, o comportamento dele se enquadra no que é chamado de “cegueira deliberada”, quando alguém, mesmo podendo e devendo saber de uma irregularidade, opta por ignorá-la de forma consciente.
“Jackson podia e devia conhecer as circunstâncias, posto que é corretor de imóveis, técnico no assunto com o qual trabalha”, cita trecho do documento ao qual o g1 teve acesso.
“Ficou claro em seu depoimento que ele deliberadamente evita confirmar que está envolvido em atividade ilícita, para, justamente, poder alegar ignorância. Esta ignorância, no entanto, é intencional de quem sabe que está fazendo errado e quer se locupletar da oportunidade mesmo assim”.
Além dos R$ 700 mil em dinheiro, a PF também apreendeu o carro de Jackson. Na audiência de custódia, o juiz Marcelo Mazur decretou a prisão preventiga de Jakcon para garantir a “ordem pública e da ordem econômica” e por entender que ele “gera à sociedade, diante do grande potencial de risco de dano aos usuários do sistema financeiro”.
Ataque a instituições financeiras
No dia 2 de julho, o Banco Central do Brasil (BC) informou que a C&M Software — empresa que presta serviços tecnológicos e conecta instituições financeiras ao BC — comunicou ter sido alvo de um ataque à sua infraestrutura.
🔎 O alvo do ataque não foi o Banco Central ou o PIX, em si, mas a C&M Software. Ela é uma das empresas de tecnologia que fazem a “ponte” entre instituições financeiras menores e os sistemas do BC, para a realização de operações como o PIX
A C&M disse que ao menos seis de seus clientes foram afetados; nem todos tiveram os nomes revelados. Também não foi divulgado o montante roubado, mas fontes da TV Globo estimam que a quantia pode chegar a R$ 800 milhões. O ataque é investigado pela PF.
O que dizem os citados
Assembleia Legislativa de Roraima
“A Assembleia Legislativa de Roraima informa que o servidor citado encontra-se em período de usufruto de férias, de 1° a 30 de julho de 2025, lotado na Comissão Parlamentar, nomeado no Cargo de Assistente de Gabinete das Comissões. Já estão sendo adotadas as providências administrativas cabíveis para o seu desligamento, que será formalizado ainda hoje.
Reforçamos nosso respeito e confiança na atuação da Justiça, esperando que todos os fatos sejam adequadamente apurados e eventuais responsáveis, devidamente responsabilizados.
Ressaltamos que a Assembleia Legislativa não pode ser responsabilizada por atos praticados pelo servidor fora de suas funções institucionais.”
Deputado Neto Loureiro
O G1 entrou em contato com a assessoria de imprensa do deputado Neto Loureiro, que informou que o mesmo não tinha conhecimento do assunto até o presente momento.
Além disso, informou que a pessoa referida ocupa o cargo de assessor técnico das comissões da Assembleia Legislativa de Roraima e que a mesma encontra-se de férias no mês de julho, conforme publicação do Diário Oficial da ALE-RR.
Contudo, a assessoria do deputado finalizou reforçando que o parlamentar não compactua com qualquer tipo de ato ilegal.
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