Nas últimas décadas, o consumo de areia para construção cresceu exponencialmente, acompanhando o avanço urbano global. Embora a atenção recaia frequentemente sobre o cimento, há um recurso igualmente vital e cada vez mais escasso: a areia para construção. O que surpreende é que, mesmo cercado por vastos desertos e praias, o mundo vive uma crise silenciosa envolvendo esse insumo.
Afinal, se temos bilhões de metros cúbicos de areia nos oceanos e desertos, por que ela está sumindo e por que não podemos simplesmente utilizá-la nas obras?
O colapso do Palace II e o alerta da engenharia
No Brasil, o debate sobre o uso inadequado da areia ganhou notoriedade no final dos anos 1990, com o colapso do edifício Palace II, no Rio de Janeiro. Apesar de boatos infundados de que o construtor teria utilizado areia do mar na obra, o episódio serviu como catalisador para uma discussão técnica relevante: o risco do uso de materiais impróprios na construção civil.
O sal que corrói o concreto
A areia do mar está impregnada com cloreto de sódio o sal que, quando misturado ao concreto, acelera em até 10 vezes a corrosão das estruturas metálicas internas. Essa reação química fragiliza as armaduras de aço, causando fissuras, esfarelamento e colapsos prematuros. Mesmo em construções litorâneas, o uso de areia salgada é altamente desaconselhado.
Além disso, a areia do mar tem elevada capacidade de reter umidade, contribuindo ainda mais para o processo de oxidação do aço. A combinação desses fatores compromete seriamente a durabilidade e a segurança das estruturas.
O caso da Itália e a prova do erro
Na Itália, uma sequência de sismos de baixa intensidade revelou outro alerta: várias casas modernas, recém-construídas, desabaram por completo, enquanto edifícios antigos, com séculos de existência, resistiram intactos. O motivo? O uso de areia do mar nas novas construções, o que comprometeu a integridade das estruturas.
Areia do deserto: o formato errado
Diferente do que muitos imaginam, a areia dos desertos também é inadequada para obras. Embora, em alguns casos, tenha menor presença de sal, o verdadeiro problema é físico. Com grãos arredondados pela ação constante dos ventos, essa areia não adere corretamente à pasta de cimento, prejudicando a coesão do concreto. O resultado é um material instável, sujeito à segregação e baixa resistência.
A areia ideal: de rios e lagos
A areia usada na construção civil vem majoritariamente de jazidas em margens de rios, várzeas e lagos de água doce. Formada por fragmentos de rochas mais recentes, ela apresenta arestas angulosas e boa rugosidade características que favorecem a aderência ao cimento, conferindo maior resistência ao concreto.
Porém, essa extração tem um custo ambiental e tende a se tornar cada vez mais limitada, considerando que o mundo consome mais de 50 bilhões de toneladas de areia por ano e esse número só cresce.
A alternativa sustentável: reciclagem de entulho
Diante da crise de oferta e da degradação ambiental causada pela extração de areia, especialistas apostam em tecnologias de reciclagem de resíduos da construção civil como solução viável. O reaproveitamento de entulho pode gerar areia de qualidade aceitável para certas aplicações, reduzindo o impacto ecológico e a pressão sobre os recursos naturais.
A crise da areia para construção é real e urgente. A utilização de areia do mar ou do deserto, apesar de abundante visualmente, compromete gravemente a segurança das obras. O desafio agora é encontrar formas sustentáveis de suprir essa demanda crescente e evitar que a base literal das cidades do futuro se transforme em risco invisível.
O post Areia do mar ameaça construções e poucos sabem o motivo apareceu primeiro em O Petróleo.