NOVA YORK (AP) — A transição global para fontes limpas de energia chegou a um marco histórico. De acordo com dois novos relatórios divulgados pela Organização das Nações Unidas (ONU) nesta terça-feira (22), a energia renovável ultrapassou o ponto de inflexão global e, a partir de agora, tende a se tornar ainda mais barata e dominante no fornecimento mundial de eletricidade.
Segundo o documento “Aproveitando o Momento da Oportunidade”, produzido por várias agências da ONU, 92,5% de toda a nova capacidade elétrica adicionada ao sistema global em 2022 veio de fontes renováveis. O crescimento foi liderado por energia solar e eólica, responsáveis por 74% da expansão da geração elétrica.
Além disso, a Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA) mostrou que as três fontes de eletricidade mais baratas do planeta hoje são a eólica onshore, a solar fotovoltaica e a nova geração hidrelétrica. A energia solar custa atualmente 41% menos e a energia eólica 53% menos do que o combustível fóssil mais barato disponível no mercado global.
“A era dos combustíveis fósseis está fracassando”, declarou o secretário-geral da ONU, António Guterres. “Estamos no alvorecer de uma nova era energética, impulsionada por energia limpa, barata e abundante.”
Investimentos verdes batem recorde e superam setor fóssil
A virada energética já se reflete nos aportes financeiros. Em 2024, os investimentos globais em energia renovável somaram US$ 2 trilhões — valor cerca de US$ 800 bilhões superior ao total investido em carvão, petróleo e gás.
Apesar disso, Guterres reforçou que a transição precisa ser acelerada: “Países que insistem em combustíveis fósseis não estão protegendo suas economias, mas sabotando-as”.
O apelo é respaldado pelos números: os combustíveis fósseis ainda recebem quase nove vezes mais subsídios públicos do que as energias limpas. Em 2023, foram US$ 620 bilhões em incentivos a petróleo, gás e carvão, contra apenas US$ 70 bilhões para energia renovável.
Avanço desigual: China, Índia e Brasil lideram; África fica para trás
Enquanto países como China, Índia e Brasil apresentam forte crescimento em capacidade renovável, o continente africano representou menos de 2% das novas instalações verdes no ano passado. Especialistas apontam o alto custo do capital como principal obstáculo para o avanço no Sul Global.
A climatologista Adelle Thomas, do Conselho de Defesa dos Recursos Naturais, enfatizou: “Os dados derrubam o mito de que a energia limpa não é competitiva. Um futuro sustentável não só é possível como já está se concretizando.”
Energia limpa cresce mesmo com consumo global em alta
Mesmo com o crescimento das energias renováveis, a produção de combustíveis fósseis também aumentou, impulsionada por maior demanda global — especialmente de países em desenvolvimento, centros de dados e sistemas de climatização em um mundo cada vez mais quente.
“Um data center de inteligência artificial consome tanta energia quanto 100 mil residências”, alertou Guterres. Ele pediu que as grandes empresas de tecnologia operem 100% com energia renovável até 2030.
EUA recuam na agenda verde sob nova gestão
Nos Estados Unidos, o crescimento médio anual de 12,3% em energia solar e eólica entre 2018 e 2023 está ameaçado. Desde que o presidente Donald Trump reassumiu o governo no início de 2025, o país se retirou do Acordo de Paris e cortou incentivos federais à energia limpa, reabrindo espaço para fontes fósseis.
Sem citar diretamente os EUA, Guterres criticou nações que insistem no modelo fóssil: “Estão ficando para trás economicamente, perdendo competitividade e acumulando ativos ociosos”.
Esperança no horizonte, apesar dos desafios
Especialistas destacam que os relatórios trazem uma mensagem mista de alerta e otimismo. Para o pesquisador David Waskow, do World Resources Institute, “é como escalar uma montanha, olhar para trás e ver o quanto já subimos. Mas também perceber que o trecho mais difícil ainda está por vir”.
Guterres reconheceu os sentimentos de frustração entre os jovens, mas reforçou que o caminho para um futuro sustentável está aberto:
“Isso não é inevitável. Temos os recursos, os instrumentos e a capacidade de virar esse jogo. Há motivos reais para ter esperança.”
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