Rastro do PIX: como PF seguiu dinheiro de empresas ligadas a ataque hacker até prender assessor com R$ 700 mil


Assessor flagrado com R$ 700 mil em espécie recebeu PIX de R$ 2,4 milhões de empresas ligadas a ataque hacker
A Polícia Federal chegou até Jackson Renei Aquino de Souza, de 38 anos, preso em flagrante com R$ 700 mil, após comunicado do Banco Central que alertava sobre movimentações financeiras suspeitas na conta dele. Segundo o documento, Jackson havia recebido R$ 2,45 milhões via PIX de duas empresas ligadas a um ataque hacker contra instituições financeiras.
Segundo a PF, as transferências foram as seguintes:
R$ 1,85 milhão da SIS Pagamentos e Serviços, de Curitiba (PR);
R$ 600 mil da Bank Ben Pagamento Ltda, de Gravataí (RJ).
O g1 tentou contato com as empresas, mas não tinha recebido resposta até a última atualização desta reportagem.
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O caminho do dinheiro até Jackson
Antes de chegar à conta de Jackson, o dinheiro passou por pelo menos quatro empresas. Segundo a PF, os valores têm origem em furtos virtuais ocorridos em 30 de junho de 2025, contra três instituições financeiras.
Assessor parlamentar Jackson Renei Aquino de Souza foi flagrado pela PF com R$ 700 mil em espécie
Reprodução/Facebook e Divulgação/PF
Instituições atacadas:
Banco Industrial do Brasil (BID): prejuízo de R$ 1 milhão
BMP SCMEPP Ltda: prejuízo de R$ 11 milhões
Credialiança CCR: prejuízo de R$ 1 milhão
➡️ Fluxo do dinheiro
Do BID:
R$ 1 milhão foi transferido para a empresa Rich Beauty Cosmetics
Parte desse valor seguiu para a Bank Ben Pagamentos Ltda
Da BMP SCMEPP e da Credialiança CCR:
Os valores desviados (R$ 12 milhões no total) foram enviados para a Ether Assets Account Ltda
A Ether Assets repassou parte do montante à SIS Pagamentos e Serviços Financeiros Ltda
Transferências finais:
Bank Ben e SIS Pagamentos foram as responsáveis por transferir R$ 2,45 milhões via PIX para a conta de Jackson
Ainda não está clara qual foi a participação direta de Jackson no ataque hacker. Ele é investigado pela PF por suspeita de lavagem de dinheiro.
O que diz Jackson Renei
Em depoimento à PF, Jackson, que também é corretor de imóveis, afirmou que não conhecia as empresas SIS Pagamentos e Serviços Financeiros Ltda e Bank Ben Pagamentos Ltda, responsáveis por enviar o dinheiro para a conta dele.
O investigado alegou que os valores eram de um garimpeiro venezuelano com quem, na condição de corretor, negociava a compra de uma fazenda em Roraima. A operação, segundo ele, foi intermediada por outro homem. Disse ainda que usou a própria conta bancária para receber os valores porque havia promessa de lucro na transação.
No entanto, para a PF, Jackson não poderia alegar desconhecimento sobre a origem ilícita do dinheiro. A delegada do caso entendeu que o comportamento dele se enquadra no que é chamado de “cegueira deliberada”, quando alguém, mesmo podendo e devendo saber de uma irregularidade, opta por ignorá-la de forma consciente.
“Jackson podia e devia conhecer as circunstâncias, posto que é corretor de imóveis, técnico no assunto com o qual trabalha”, cita trecho do documento ao qual o g1 teve acesso.
“Ficou claro em seu depoimento que ele deliberadamente evita confirmar que está envolvido em atividade ilícita, para, justamente, poder alegar ignorância. Esta ignorância, no entanto, é intencional de quem sabe que está fazendo errado e quer se locupletar da oportunidade mesmo assim”, destacou o relatório da PF.
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O furto aplicado contra as instituições bancárias é investigado pela operação Magna Fraus, da Polícia Federal em São Paulo. A investigação teve como ponto central a identificação de um grupo criminoso especializado em furtos mediante fraude e invasões de sistemas eletrônicos – a quantia desviada por chegar a R$ 800 milhões.
Jackson foi exonerado do cargo de assessor parlamentar que ocupava na Assembleia Legislativa de Roraima (Ale-RR) nessa quarta-feira (23), mesmo dia em que passou por audiência de custódia e teve a prisão preventiva decretada.
A exoneração dele foi publicada no Diário da Ale-RR e assinada pelo Superintendente de Gestão de Pessoas, Claudemi Alves. Ele trabalhava com o deputado Neto Loureiro (PMB).
À PF, ele disse que recebia o salário de R$ 4 mil na Ale-RR e R$ 10 mil mensais como corretor. Procurada, a defesa dele disse que não se manifesta publicamente sobre nenhum caso.
Em nota, o deputado Neto Loureiro disse que Jackson estava de férias e que “não compactua com qualquer tipo de ato ilegal.” A Ale-RR afirmou que “não pode ser responsabilizada por atos praticados pelo servidor fora de suas funções institucionais.”
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