A nova tarifa de 50% anunciada pelo governo dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros pode representar um duro golpe ao agronegócio nacional. Segundo estimativa da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o país poderá deixar de exportar mais de US$ 5 bilhões em mercadorias para o mercado norte-americano, o que representa uma queda de 48% nas exportações em relação a 2024.
Suco de laranja no centro da crise
Entre os itens mais impactados está o suco de laranja, cujas exportações aos EUA somaram US$ 795 milhões no ano passado. Metade do suco consumido nos Estados Unidos tem origem brasileira, o que torna difícil uma substituição imediata do fornecedor. “Se essa tarifa demorar muito, o Paraguai ou Uruguai pode virar exportador fictício para burlar a tarifa americana”, alerta o analista político Luiz Felipe D’Ávila.
Além da laranja, outros produtos sensíveis como café e commodities agrícolas entram no radar de preocupação dos exportadores brasileiros, especialmente por serem itens perecíveis e com logística complexa. “O mundo empresarial vai se adaptar, mas o Brasil, como país, perde oportunidades de emprego e investimento”, avaliou o consultor Cristiano Beraldo.
Lobby e pressão judicial nos EUA
Diante da pressão econômica, associações empresariais norte-americanas já se articulam judicialmente para derrubar a tarifa. O lobby, legalizado nos Estados Unidos, pode acelerar a resolução do impasse mas de forma pontual. “Alguns setores específicos devem conseguir tratamento especial, mas não haverá uma mudança estrutural na relação comercial EUA-Brasil”, explica Beraldo.
Ferrovia Brasil-China reacende debate geopolítico
Enquanto isso, o governo brasileiro busca aproximação com a China, que promete financiar a ferrovia bioceânica entre Brasil e Peru, ligando o Atlântico ao Pacífico. O projeto facilitaria o escoamento da produção agrícola brasileira para o mercado asiático, contornando o Canal do Panamá, que enfrenta secas frequentes.
Contudo, analistas alertam para os riscos de dependência logística da China. “A ferrovia pode se tornar um instrumento de barganha. Os chineses poderão cobrar caro para acessar outros mercados ou subsidiar quem vende diretamente a eles”, pontua D’Ávila.
Impacto estimado no agronegócio brasileiro com tarifa de 50%
Produto | Exportação em 2024 (US$) | Queda estimada em 2025 (%) | Prejuízo estimado (US$) |
Suco de laranja | 795 milhões | 60% | 477 milhões |
Café | 1,2 bilhão | 45% | 540 milhões |
Soja e derivados | 1,8 bilhão | 40% | 720 milhões |
Carne bovina e suína | 700 milhões | 50% | 350 milhões |
Outros produtos agrícolas | 3 bilhões | 50% | 1,5 bilhão |
Total estimado | — | — | 5,0 bilhões |
Governo Lula pode recorrer a subsídios
Diante do impasse e do histórico de desgaste com o setor agropecuário, o governo brasileiro avalia conceder subsídios ou linhas de financiamento emergenciais. A medida seria uma forma de mitigar o prejuízo econômico e, politicamente, reaproximar o Planalto do setor rural historicamente mais alinhado com a oposição.
No entanto, especialistas alertam para os riscos fiscais de mais incentivos em meio ao déficit público, que já ultrapassou R$ 70 bilhões. “Oferecer novas linhas de crédito em plena crise fiscal é classicamente brasileiro mas perigoso”, ironiza um analista político.
Caminhos alternativos: Uruguai, México e triangulações
Com a tarifa em vigor a partir de 1º de agosto, produtores brasileiros já analisam vias alternativas de exportação, como triangulações via Uruguai, Paraguai ou México, que têm acordos diferenciados com os EUA. Essas rotas, no entanto, elevam custos, diluem margens e reduzem competitividade.
Segundo D’Ávila, “essas ‘gambiarras’ vão acontecer, mas custam empregos e tiram o protagonismo do Brasil como fornecedor direto”.
A tarifa de 50% imposta pelos EUA representa um desafio de grandes proporções para o agronegócio brasileiro. O país se vê pressionado a buscar alternativas logísticas e diplomáticas enquanto tenta evitar perdas bilionárias em exportações. A capacidade de resposta do setor privado deve minimizar danos pontuais, mas a falta de protagonismo geopolítico e de infraestrutura adequada pode deixar o Brasil à margem de uma das maiores disputas comerciais de 2025.
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