A combinação entre obesidade e diabetes tipo 2, conhecida como diabesidade, é uma das maiores ameaças à saúde pública do século XXI. No Brasil, mais de 16 milhões de pessoas vivem com diabetes — cerca de 10,6% da população adulta —, segundo a Federação Internacional de Diabetes (IDF). O número tende a crescer, impulsionado pelo aumento do excesso de peso, até mesmo entre os jovens.
Essa associação entre doenças provoca uma sobrecarga silenciosa no pâncreas. “A resistência à insulina, comum em pessoas com obesidade, força o pâncreas a produzir mais hormônio para controlar a glicose. Com o tempo, esse esforço leva ao esgotamento das células beta pancreáticas, resultando em diabetes tipo 2”, explica a endocrinologista Dra. Deborah Beranger.
Segundo ela, obesidade e diabetes formam uma doença metabólica complexa, impulsionada por fatores genéticos, estilo de vida sedentário, alimentação inadequada e estresse. O resultado: maior risco de doenças cardiovasculares, inflamatórias e até câncer.
Risco aumentado de câncer de pâncreas
A associação entre resistência à insulina e produção elevada do hormônio cria um ambiente favorável ao câncer. “A hiperinsulinemia estimula exageradamente as células acinares do pâncreas, o que pode causar inflamação crônica e transformar células saudáveis em pré-cancerosas”, alerta o oncologista Dr. Ramon Andrade de Mello, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia.
Além do câncer de pâncreas, a diabesidade está ligada a pelo menos 13 tipos diferentes de câncer, como os de fígado, mama, intestino, endométrio e pâncreas. “As células adiposas não apenas armazenam energia, mas também secretam substâncias inflamatórias que favorecem mutações celulares”, completa a endocrinologista.
Complicações graves e impacto na qualidade de vida
A diabesidade também afeta a saúde vascular, provocando complicações micro e macrovasculares, como:
- Retinopatia (problemas de visão)
- Nefropatia (doença renal)
- Neuropatia (lesões nos nervos)
- Cardiomiopatia (doença cardíaca)
- Essas condições aumentam o risco de mortalidade precoce e podem reduzir a expectativa de vida entre 3 e 10 anos, com prejuízo à qualidade de vida.
Diagnóstico precoce e prevenção
O diagnóstico precoce é uma ferramenta essencial para preservar a saúde do pâncreas. “Níveis elevados de glicose podem indicar um câncer pancreático em fase inicial. Monitorar a glicemia pode ajudar na detecção precoce”, afirma o Dr. Ramon.
Segundo a Dra. Deborah, mudanças simples no estilo de vida são eficazes na prevenção e reversão do quadro:
- Prática regular de atividade física (musculação e aeróbicos)
- Alimentação equilibrada com baixo consumo de ultraprocessados
- Controle do estresse
- Sono de qualidade
A perda de apenas 5 a 10% do peso corporal já pode trazer benefícios significativos para quem tem pré-diabetes ou diabetes tipo 2. Medicamentos como Ozempic e Mounjaro auxiliam nesse processo. “Eles aumentam a saciedade e aceleram o metabolismo”, explica a médica.
Alimentação: pilar do tratamento
A nutróloga Dra. Marcella Garcez, diretora da ABRAN, destaca que a dieta tem papel fundamental. “O consumo de alimentos com alto índice glicêmico é um dos maiores vilões da obesidade e diabetes tipo 2. O ideal é adotar uma dieta saudável de baixa caloria associada a 150 minutos de atividade física semanal”, afirma.
Ela também alerta para o perigo das “calorias vazias”. “Não é a mesma coisa ingerir 300 kcal em vegetais e proteínas magras ou em doces industrializados. O segundo causa picos de insulina e pode acelerar o desenvolvimento de doenças metabólicas.”
Além da alimentação, a médica reforça que a atividade física regular — tanto aeróbica quanto de força — é essencial para todos, especialmente para quem já tem pré-diabetes ou síndrome metabólica. “Sair do sedentarismo é o primeiro passo.”
Manejo integrado: o caminho para o controle
Diante do cenário preocupante, os especialistas defendem uma abordagem integrada no combate à diabesidade. “Obesidade e diabetes não podem mais ser tratadas separadamente. São faces da mesma moeda e precisam de um tratamento multidisciplinar, envolvendo médicos, nutricionistas e educadores físicos”, finaliza a Dra. Deborah Beranger.
Fontes: Dra. Deborah Beranger (endocrinologista), Dr. Ramon Andrade de Mello (oncologista) e Dra. Marcella Garcez (nutróloga).
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