A vida seria mais simples se viesse com um roteiro pronto. Mas será que seria mais interessante? “Aqui Jazz”, musical que estreia no Teatro Itália em 2 de agosto, propõe exatamente o contrário. Com humor, emoção e grandes clássicos do jazz tocados ao vivo, o espetáculo transforma os imprevistos da vida em arte. A narrativa mistura música, memória e improviso para contar a trajetória de Gésio, apelidado de Jazzinho, um homem comum que tenta encontrar seu lugar no mundo.
Improviso como filosofia de cena
Inspirado no espírito das jam sessions, Aqui Jazz foge dos formatos tradicionais. A cada apresentação, a história ganha nuances únicas, impulsionadas pela interação entre os atores, músicos e o público. Já na chegada ao teatro, a experiência começa: músicos improvisam no saguão canções de Ella Fitzgerald, Louis Armstrong e Benny Goodman.
Além disso, o teatro ganha um bar temporário, com doses acessíveis de whisky e bourbon — e, vez ou outra, um brinde por conta da casa. O objetivo é claro: criar uma experiência sensorial e imersiva antes mesmo de a cortina subir.
Entre expectativas e frustrações
A trama acompanha Jazzinho, um homem que cresceu sob a expectativa de se tornar um gênio do jazz. Seus pais o imaginaram como uma lenda musical, mas ele nunca acreditou estar à altura desse destino. Entre memórias e reencontros, ele tenta entender quem realmente é — e o que deseja deixar como legado.
Felipe Hintze, que interpreta o protagonista, acredita que a peça toca o público ao falar sobre finitude e pertencimento. “O espetáculo questiona o que é de fato importante deixar como marca. Será que precisa ser algo grandioso? Ou apenas verdadeiro?”
Elenco com trajetórias entrelaçadas com a música
No papel de Marina, mãe de Jazzinho, Camilla Camargo traz à cena sua forte ligação familiar com a música. Filha de Zezé Di Camargo e irmã de Wanessa, ela cresceu nos bastidores de palcos e estúdios. Apesar disso, o jazz era um estilo distante — até agora. “Sempre fui eclética, mas só com a peça passei a mergulhar de verdade no jazz”, conta. No repertório, interpreta músicas como Big Spender, Maybe This Time e Bang Bang, sua favorita.
Já Nando Pradho, referência no teatro musical, vive diferentes personagens que aparecem como fragmentos da memória de Jazzinho — todos com o rosto do pai ausente. Para ele, o espetáculo oferece uma rara chance de explorar um território mais autoral e íntimo, longe das grandes montagens de que costuma participar.
Jazz como modo de vida
Marcus Veríssimo, além de atuar, assina a direção musical e destaca a liberdade criativa como um dos pontos altos do processo. “Jazz exige escuta e responsabilidade. O elenco chegou com as músicas afiadas, e os músicos trouxeram arranjos incríveis. A troca foi emocionante desde o início.”
Com direção e texto de Giovani Tozi, o espetáculo também é uma celebração do improviso como linguagem de cena. “Aqui Jazz nasceu de um acaso e foi moldado com o grupo. Não tem nada mais teatral do que isso. Cada apresentação é única — como uma jam session”, explica.
Por outro lado, o espetáculo não se limita ao estilo musical. Ele também aborda temas atuais como pressões familiares, abandono parental e bullying — sempre com sensibilidade e pitadas de humor.
Ainda assim, a mensagem final é leve e inspiradora: a vida, como o jazz, pode ser bela justamente por não seguir um plano fixo.
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