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Coronelismo segue vivo
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A artista também lamenta que a temática tratada ainda seja pertinente aos dias atuais. “Para quem mora na ‘cidade grande’, esse discurso muitas vezes pode parecer coisa do passado. Mas se você for ao sertão do Nordeste, parece que o tempo não passou. Você ainda vai encontrar mulheres sozinhas. O abandono da paternidade é muito comum, é como se fosse uma coisa natural”, afirma.Embora não tenha usado trabalhos de outros artistas como referência para produzir Insurgência, Lilian conta que há, em suas pinturas, um repúdio ao patriarcado. “Nas imagens, os homens são representados em quadriculado preto e branco, em crítica àqueles que abandonaram e aos que ficaram”, revela.Nos quadros, há uma alusão significativa ao artesanato feminino e indígena, além de terem sido utilizadas colorações para se referir a elementos do sertão. “As tonalidades se referem à terra sofrida, que pouco deu, em termos de agricultura, para essas mulheres sobreviverem”, explica.Nas pinturas, elementos históricos usados como ferramenta de domínio são transformados em imagens que denunciam projetos políticos de opressão. A seca é um exemplo. “Quando falo em terra, falo da ausência de uma terra nutritiva. A terra era seca por um interesse político. A indústria da seca sustentou muitos coronéis e políticos que hoje vivem através de seus filhos e currais eleitorais”, expõe.Filhos de mulheres
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Todas as obras que compõem a exposição carregam em si o legado de mulheres que não tiveram suas histórias contadas em livros, muito menos se tornaram estátuas.A intenção dos quadros, segundo a artista visual, é celebrar a vida dessas mulheres e manter de pé a luta contra o apagamento. A expectativa é que, após a exibição, o público, sobretudo o feminino, saia de lá transformado.“Quero que as mulheres tenham um olhar generoso para toda mulher que estiver ao seu lado. Que pensem na ancestralidade feminina e em todos os corpos que as antecederam para que vivêssemos hoje. Para os homens, espero que reflitam que são filhos de mulheres e possam respeitar todas aquelas que estão ao seu redor”, declara a artista.Para o futuro, Morais desenvolve uma pesquisa de alcance nacional sobre monumentos dedicados a escravocratas que ainda permanecem expostos e homenageados no Brasil. Embora o projeto ainda não tenha título definido, a artista pretende seguir explorando a temática de anti-patriarcado e decolonização.Sobre Lílian
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Doutora Honoris Causa pela Université Libre des Sciences de l’Homme de Paris, Lilian Morais estabelece em suas obras um diálogo entre estética e crítica social.Em sua trajetória artística, dedicou-se a estudos no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA) sobre incursão colonial e suas consequências para os povos indígenas, afrodescendentes e toda a população marcada por este processo.Hoje, desempenha a função de artista visual exclusiva do Acervo Galeria de Arte.Exposição “Insurgência” – Lilian Morais / Até 24 de agosto / Visitação de terça-feira a domingo, das 10h às 20h / Museu de Arte Contemporânea da Bahia (Rua da Graça, 284 – Graça) / Entrada gratuita*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.