Tarifaço: chegada de mosca carnívora nos EUA pode mudar destino do Brasil

Diante de um cenário de incertezas econômicas e geopolíticas entre os Estados Unidos e diversos países do mundo, com a imposição de tarifas de 50% sobre exportações de produtos e commodities ao país, o Brasil pode ter a oportunidade de reverter as perdas financeiras e produtivas que a os EUA pode causar, e conquistar um protagonismo na política comercial norte-americana com a exportação de carne bovina.Atualmente, os Estados Unidos lida com grandes perdas na pecuária americana. As preocupações vão desde o um aumento do preço do alimento nos mercados domésticos devido ao encarecimento da ração animal e uma redução no quantitativo de rebanho americano, até uma tenebrosa possibilidade de uma crise sanitária causada pela mosca-da-bicheira, praga que já afeta rebanhos no México.Para o economista Hugo Mezza, professor da Estácio, o cenário atual indica uma forte pressão sobre os preços internos, o que pode levar o governo norte-americano a rever políticas comerciais.

Qualquer diminuição de oferta impacta significativamente os preços. Se somarmos isso ao risco sanitário e ao custo elevado da produção, é possível que os Estados Unidos se vejam obrigados a flexibilizar medidas tarifárias contra países exportadores de carne, como o Brasil

Hugo Mezza – professor da Estácio

Desde 2020, os consumidores americanos vêm pagando mais pela carne, fenômeno intensificado por fatores como a seca no oeste do país, o custo da alimentação animal e as restrições comerciais.Segundo Mezza, as tarifas impostas durante a gestão Trump, especialmente contra o Brasil, têm agravado a inflação interna e dificultado a política monetária americana. “A taxa de juros nos EUA segue elevada porque os preços continuam subindo. Manter essa guerra tarifária vai na contramão do combate à inflação”, observa.Na quarta-feira, 30, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, em inglês), do Banco Central dos Estados Unidos, decidiu manter a taxa básica de juros dos EUA, os Fed Funds, de 4,25% a 4,50%, conforme indicou Frederico Dias, coordenador e professor de Relações Internacionais da Escola de Negócios do Ibmec Brasília.Temível crise sanitária nos EUAOutra coisa que tem tirado o sossego dos norte-americanos é a mosca-da-bicheira, também conhecida como “bicheira-do-Novo Mundo”, uma espécie de mosca que já havia sido erradicada e que voltou a preocupar as regiões da América do Norte e Central,O inseto carnívoro deposita larvas parasitas em diferentes espécies de animais – e até humanos. A doença acontece quando uma fêmea coloca suas larvas no machucado e ao entrar no tecido vivo do hospedeiro, o devoram internamente de forma agressiva.

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Segundo a Dra Anete Mecenas, nutricionista e professora da Estácio, os seres humanos podem se contaminar através do consumo da carne bovina infestada pelos ovos. A ingestão de carnes com ovos ou larvas, pode ocorrer miíase intestinal, com sintomas como dores abdominais, náuseas, vômitos e, em alguns casos, sangue nas fezes.”As moscas vão depositando seus ovos em feridas abertas e aí esses insetos entram em contato, por exemplo, com a pele humana e eclodem, e também podem ocasionar infecções secundárias, com destruição de tecidos e formação de fístulas. Por conta disso, é recomendável evitar o consumo de carne bovina quando os órgãos competentes identificarem a proliferação de moscas mortais em determinadas regiões”, alerta a especialista.Redução de consumo e de oferta da carneOutro ponto destacado pelo professor é o desequilíbrio no ciclo produtivo da carne bovina. Diante da valorização do boi gordo, muitos pecuaristas optaram por abater fêmeas em vez de mantê-las para reprodução. “Isso compromete o rebanho futuro e afeta o ecossistema produtivo como um todo”, explica.Para Mezza, o Brasil pode se beneficiar indiretamente dessa crise, desde que os EUA revejam suas barreiras comerciais. “O país é um dos maiores produtores de carne do mundo e, mesmo que hoje esteja penalizado pelas tarifas, há espaço para uma abertura futura. Os Estados Unidos podem ser obrigados a importar mais carne para garantir o abastecimento e conter os preços.”Com o agravamento da situação, a expectativa, explica o economista, é de que os EUA considerem uma reaproximação com fornecedores internacionais para evitar desabastecimento e instabilidade no mercado. Enquanto isso, o Brasil deve observar de perto os desdobramentos — que podem representar uma nova janela de oportunidade para suas exportações.

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