Produtor de soja deve ser estratégico em 2025: Oportunidades com China crescem, mas volatilidade aumenta

A guerra comercial entre Estados Unidos e China voltou ao centro do cenário econômico mundial, reacendendo debates sobre os impactos no mercado de soja. O recente anúncio de tarifas mais severas por parte dos chineses contra produtos norte-americanos levanta a possibilidade de o Brasil conquistar ainda mais espaço nas exportações da commodity — mas o entusiasmo precisa ser equilibrado com cautela.

Brasil pode ganhar com tensão China-EUA, mas o cenário é incerto

Com a imposição de tarifas adicionais sobre produtos agrícolas dos EUA, a China tende a buscar fornecedores alternativos. Nesse contexto, o Brasil surge como principal opção para suprir parte dessa demanda. “A tarifa de 10% imposta pelos chineses aos EUA não afeta diretamente o Brasil — o que pode abrir portas para maiores exportações”, explica Fernando Berardo, especialista em commodities.

No entanto, Berardo alerta que o mercado não vive um momento simples. Os estoques globais de soja estão elevados, o que mantém uma pressão baixista sobre os preços, mesmo com o aumento potencial da demanda chinesa. Ou seja, apesar da abertura comercial, não se trata de uma corrida desenfreada pela soja brasileira.

Estoques altos e PIB da China: os riscos que o produtor precisa observar

De acordo com Berardo, dois fatores merecem atenção redobrada por parte do produtor rural:

  • Alta nos estoques mundiais: Com ampla oferta, os preços internacionais da soja continuam pressionados, limitando o poder de barganha dos exportadores.

  • Desaceleração econômica chinesa: Uma eventual queda no PIB da China, como consequência da guerra comercial, poderia reduzir a demanda por soja, revertendo a aparente vantagem brasileira.

Miguel Daú, comentarista de mercado, reforça a complexidade do momento. “O mercado agrícola tem um ciclo muito mais longo que o financeiro. Hoje o mercado reage com euforia, amanhã desaba. O produtor precisa ser pragmático”, afirma.

Estratégia é a palavra de ordem para a safra 2025/26

Com a colheita da safra atual se encerrando, os olhos se voltam para os próximos passos do agricultor. O consenso entre os especialistas é claro: o produtor rural deve evitar decisões baseadas em achismos ou otimismo excessivo.

“Não dá para esperar o melhor momento do mercado e segurar tudo esperando o dólar a R$ 6 e Chicago disparando. É preciso fazer média e garantir a cobertura dos custos”, defende Berardo.

Dicas práticas para produtores:

  • Fique de olho no câmbio e na Bolsa de Chicago: Os dois fatores seguem como referências fundamentais para precificação.

  • Monitore os custos de produção: Insumos, máquinas e taxa de juros impactam diretamente a margem de lucro.

  • Aposte em operações parciais: A venda escalonada da produção reduz riscos e permite melhor aproveitamento das janelas de alta.

Europa e EUA: impactos limitados nas exportações brasileiras

No curto prazo, a União Europeia deve ter pouco peso nas negociações de soja, segundo os analistas. “A Europa tem consumo menor e abastecimento interno relevante, com a Ucrânia no radar”, comenta Berardo. Já os Estados Unidos seguem como principal concorrente do Brasil no fornecimento à China, o que torna o conflito comercial uma variável estratégica para o agronegócio nacional.

Oportunidades existem, mas nem todos estão preparados para aproveitá-las

Apesar da volatilidade, os momentos de pico no dólar e em Chicago já permitiram preços acima de R$ 140 por saca, segundo dados do mercado. Empresas e produtores com maior preparo técnico conseguiram aproveitar essas janelas. O desafio, agora, é democratizar esse conhecimento.

“O produtor precisa entender a formação de preço, usar ferramentas como barter e estar atento à relação de troca entre commodity e insumos”, completa Berardo.

Custo de produção e cenário geopolítico seguem como desafios

Outro ponto de atenção são os custos. Fertilizantes como ureia, por exemplo, seguem com preços instáveis e baixa liquidez no mercado futuro. Além disso, o cenário geopolítico, com conflitos e instabilidade global, pode encarecer insumos, pressionar margens e tornar o planejamento agrícola ainda mais complexo.

Pragmatismo é o melhor aliado do produtor

Diante de um mercado volátil, de decisões políticas imprevisíveis e com fundamentos globais ainda frágeis, o melhor caminho para o produtor brasileiro é manter o pé no chão. Como conclui Miguel Daú: “Não é hora de apostar tudo no otimismo. É hora de proteger o seu custo e garantir margem. O resto, se vier, é lucro.”

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