‘Nossa eleição aprofunda o ciclo de renovação do PT na Bahia’

Com trajetória construída nos movimentos sociais e estudantis, Tássio Brito assume a presidência do PT na Bahia defendendo uma renovação que nasce das bases. Em entrevista exclusiva ao A TARDE, ele afirma que sua eleição representa o aprofundamento do ciclo de mudanças iniciado no partido em 2019. “A nossa renovação não vem dos herdeiros, mas da produção de novos quadros políticos nas nossas frentes de luta”, diz.Na conversa, Tássio também fala sobre o desafio de manter a unidade interna após uma disputa acirrada, a relação com os partidos aliados e a importância da candidatura de Lula em 2026. Para ele, o PT precisa se reorganizar nos territórios para enfrentar a extrema direita e retomar o diálogo com a classe trabalhadora. “Temos que conseguir democratizar mais o nosso partido”, afirma. Saiba mais na entrevista a seguir.Você assume a presidência estadual do PT na Bahia com mais de 70% dos votos e respaldo da Executiva Nacional, em um processo que a direção do partido definiu como a consolidação de um ciclo de renovação iniciado nos últimos anos. Que diretrizes ou mudanças pretende implementar à frente do partido?A nossa eleição, de fato, é um processo de aprofundamento desse ciclo de renovação que o PT vem passando na Bahia desde 2019. Isso é fruto de uma compreensão de que nós precisamos dialogar com a nova realidade do mundo, com os novos atores e atrizes sociais. De que a gente precisa estar mais conectado com a nossa juventude, a nossa população. Muitas vezes a esquerda tem um pouco mais de dificuldade de fazer a renovação política, porque ela não se dá necessariamente através dos núcleos de poderes estabelecidos. Às vezes é o neto, o filho, e por aí vai. A nossa renovação, não. Ela se dá através da produção de novos quadros políticos nas nossas frentes de luta. Essa eleição é fruto desse processo. E os nossos desafios são organizar o partido para dar conta de enfrentar a conjuntura política atual. Nós temos que ter um partido cada vez mais organizado. Temos que conseguir democratizar mais o nosso partido e aprofundar o debate das pautas políticas que envolvem a classe trabalhadora. O desafio é estar conectado e seguir sendo referência daqueles e daquelas que lutam e acreditam por um mundo melhor. O partido tem que seguir sendo a referência de instrumento político para essas pessoas. É preciso consolidar cada vez mais o papel do PT enquanto instrumento de luta.Você defende que o crescimento eleitoral do PT depende do fortalecimento da estrutura partidária em todo o estado. De que forma a nova direção pretende atuar junto aos diretórios municipais?A gente fez uma campanha muito participativa e próxima dos nossos diretórios municipais. Nós sabemos que precisamos fortalecer ainda mais o elo entre a direção estadual e os diretórios municipais. A partir desse processo de escuta, várias sugestões surgiram e nós vamos implementá-las ao longo dessa gestão. Nós queremos territorializar o PT, criar nossos coletivos de dirigentes regionais. Queremos acompanhar o dia a dia da construção política de cada município porque isso muitas vezes é o que vai definir a qualidade da nossa atuação, por exemplo, no ano da eleição municipal. Nosso objetivo é conseguir formar esses colegiados territoriais, dar mais capilaridade às organizações setoriais do PT – mulheres, juventude, LGBT, combate ao racismo, que muitas vezes ficam mais em Salvador. Vamos capilarizar isso para o Estado, e isso tem a ver com a construção política da nossa identidade também. São esses os desafios que vamos levar à frente. E o desafio de melhorar a nossa comunicação com a sociedade, mas também investir na comunicação interna do PT. Entre os nossos dirigentes e a nossa base filiada para a gente conseguir ter unidade de pensamento político e de ação.A Executiva Nacional do PT confirmou sua eleição após recursos da chapa ‘Partido Mais Forte’, que pediu a impugnação do resultado em cidades como Camaçari, Barro Preto e Itabuna, alegando irregularidades, como votos de eleitores mortos. Como o senhor avalia essas contestações e a decisão final do partido?Eu acho que a Executiva Nacional acertou. Na decisão, ela pede que a gente se debruce sobre os casos, apure e tome uma decisão com base no que apurar. Quem está de fora às vezes não sabe, mas quem está acompanhando o processo entende que tem a versão de um lado e a versão do outro. Então, é necessário que se forme uma comissão para entender se aquelas irregularidades de fato aconteceram. Se aconteceram, a gente tem que tomar uma atitude, porque não condiz com a forma como o PT se organiza. Mas acho que a direção nacional acertou em consolidar a votação e finalizar o PED. Mas nós temos que ter esse compromisso de apurar, compreender o que aconteceu e, se for o caso, procurar os responsáveis para que respondam pelo que fizeram.Sua eleição ocorreu em meio a uma disputa acirrada e foi alvo de críticas duras por parte de lideranças históricas do partido. Como o senhor pretende conduzir a unidade interna do PT na Bahia após um processo marcado por tensões?Na verdade, o processo de construção da nossa candidatura já foi um processo de unidade muito grande no PT. A gente construiu essa candidatura a partir da percepção do senador Jaques Wagner de que esse processo de renovação deveria continuar em curso, e ele expressa isso num primeiro momento em relação à nossa candidatura. Antes mesmo de começar a eleição a gente já inicia um processo de entendimento e de unidade. A gente consegue o apoio de dez forças políticas, o apoio de toda a bancada federal do PT, da maioria absoluta da bancada estadual, a maioria dos prefeitos, dos vereadores, da direção, da executiva do partido. Na verdade, esse processo de unidade foi construído ao longo da campanha, e o resultado de 73%, que é bastante expressivo, mostra que o PT compreendeu essa busca. Agora, é claro que passado o processo de eleição, o PT não é 73 contra 27, o PT agora é 100%. Então, agora nós vamos dialogar, conversar e construir, porque todos nós somos companheiros. Diferente de uma eleição fora, que tem grupos que são adversários políticos, no PT não. No PT, são grupos de companheiros que às vezes fazem uma leitura política de como o partido deve caminhar. Um acha que é de um jeito, outro acha que é do outro. Mas, no final, com a militância escolhendo o caminho que ela quer, as correntes marcham juntas, porque o nosso principal objetivo é continuar fortalecendo o PT. E continuar sendo essa referência para os trabalhadores e trabalhadoras, continuar ganhando governos, ganhando quadros para o Legislativo, e mudando a vida das pessoas.Esse processo de entendimento já está em curso?Sim, já está em curso. Nós temos feito conversas com as diversas correntes políticas. E até posse, que deve acontecer no dia 13 de setembro, salvo alguma mudança, já queremos ter uma formatação de unidade de construção dessa próxima gestão, com todo mundo no mesmo barco e construindo o PT.Você tem uma trajetória marcada pela militância estudantil, atuação em movimentos sociais como o MST e participação em campanhas eleitorais, como a do governador Jerônimo Rodrigues. De que forma essa experiência acumulada influencia sua visão sobre o papel do PT na Bahia hoje?Eu acho que ajuda muito. Todo mundo é fruto da sua trajetória. Ninguém já aparece sabendo de tudo, já vem com uma concepção pré-definida. As pessoas são frutos das suas construções políticas. Eu venho de uma construção política de base, do movimento estudantil. Por opção política, eu militei esse tempo inteiro próximo ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST, que entendo ser um movimento muito importante na disputa democrática, não só pela reforma agrária, na própria disputa política do Brasil. O movimento estudantil do mesmo jeito, e isso define um pouco também o meu próprio perfil. Quando as pessoas perguntam, você vai fazer uma militância com a base? Eu vim da base, só estou aqui porque em um determinado momento a direção política do PT conseguiu enxergar na base alguém que estava construindo e que poderia integrar seus quadros. Essa é minha formação, a minha trajetória. Aí mais adiante na direção do partido, na coordenação da campanha do governador Jerônimo, é claro que isso lhe dá uma visão mais ampla do que significa cada espaço desse. Para ser dirigente de um partido você precisa compreender o que é a função de um partido, de um governo, o que é a função de um movimento social. Embora todos sejam aliados e façam parte da mesma engrenagem da luta social, de querer transformar, cada um joga o seu papel, cada um tem a sua forma de se movimentar, de agir e seus objetivos.O presidente Lula continua sendo a principal referência do PT e já anunciou que pretende disputar a reeleição em 2026. Como você enxerga esse equilíbrio entre a força de Lula e a construção de novas referências políticas no PT?O presidente Lula é candidato no ano que vem pela extrema responsabilidade política que ele tem com o país. Eu não tenho dúvida que, se nós não tivéssemos vivendo esse período de ameaça da extrema direita, de ameaça de uma concepção política completamente controversa de assumir o poder no Brasil e que já vem crescendo no mundo, o presidente Lula seria o primeiro entusiasta de fazer um movimento de renovação política. Mas ele sabe que, no momento, a gente precisa dele, o país precisa dele, o PT, os partidos aliados, a classe trabalhadora precisa dele. A candidatura dele é essa confiança de que o processo democrático do Brasil vai seguir em curso. Eu sempre digo que a eleição do ano que vem é uma disputa entre a civilização e a barbárie. De um lado, têm aqueles que não acreditam na ciência, que são cheios de preconceitos, que são extremistas. De outro, aquele que consegue dialogar com amplos setores da sociedade e construir um país mais pacificado. Não foi fácil para Lula, por exemplo, convencer todo mundo de que (Geraldo) Alckmin seria o vice dele. Mas a compreensão política de que o Brasil precisava de uma grande unidade para enfrentar um perigo que era maior e que, portanto, todos os democratas tinham que estar alinhados, fez com que ele convencesse os partidos de esquerda e os próprios partidos mais moderados de que Alckmin deveria participar da coalizão. Portanto, a candidatura de Lula é uma imposição, vamos dizer assim, do contexto político que a gente está vivendo. E, óbvio, Lula é o maior quadro político que o PT já construiu. Na minha opinião, ele é a maior figura política do Brasil, respeitada no mundo inteiro, respeitada em todo canto que vai. E, para o Brasil, é uma honra ter Lula como presidente e candidato na próxima eleição.Na sua avaliação, a ausência de um herdeiro político claro de Lula pode enfraquecer o PT em um cenário futuro sem a presença dele?É sempre um desafio ter um processo político em que as pessoas consigam enxergar o futuro. Mas acho que isso não está em jogo hoje devido à conjuntura que nós estamos vivendo. O mundo político, a população, está mais preocupada hoje em manter esse projeto político a curto prazo, no caso da eleição do ano que vem. E aí depois pensar em uma transição, porque ela não é possível acontecer nesse momento. Não adianta a gente querer fazer uma transição no momento que a conjuntura não permite. Mas eu não tenho nenhuma dúvida de que, na cabeça de Lula, ele tem uma construção, assim como os dirigentes partidários do PT nacional, do PT na Bahia. Veja, em 2022, por exemplo, para dar um exemplo oposto. Em 2022, a gente tinha uma candidatura muito consolidada do senador Jaques Wagner. Ele seria candidato a governador e ganharia a eleição. Todo mundo sabia disso. Mas a gente tinha uma conjuntura que permitia pensar em fazer transição geracional, renovação de quadros, e o senador foi o principal fiador dessa política, porque ali cabia fazer isso. Mas também não tenho dúvida que se, na Bahia, fosse o mesmo cenário nacional, o senador não se furtaria a fazer a disputa para manter o projeto político que muda a vida das pessoas.Já se discute que uma chapa majoritária formada apenas por nomes do PT — com exceção da vice — em 2026 pode gerar insatisfação entre aliados, especialmente o PSD. Como o senhor avalia o papel do PT na construção dessa aliança e os limites da hegemonia petista dentro da base do governo?Eu até estive ontem com o presidente do PSD, senador Otto Alencar, e tem duas coisas que são fundamentais nessa construção política de 2006. Primeiro, é a convicção de que esse projeto político é coletivo. E, portanto, todas as decisões que a gente toma têm que ser fruto de um debate coletivo entre todos os partidos que compõem a aliança para que a gente possa marchar com unidade. A segunda é que só vale a pena essa aliança se todo mundo crescer. Veja, o PSD cresceu, o PP quando estava na nossa base cresceu, o MDB lá atrás, quando veio, cresceu, agora voltou a crescer de novo, o Avante é um partido que cresce, o PSB… Ou seja, todos os partidos que fazem parte da nossa coalizão de 2007 para cá, eles cresceram politicamente no número de prefeitos, no número de deputados, na representação política. Para nós isso é fundamental. É o que dá conforto dos partidos saberem que estão construindo um projeto de fato coletivo, porque todo mundo está conseguindo crescer politicamente e enxergar no projeto em curso as políticas públicas que nós queríamos fazer para mudar a vida das pessoas. É claro que cada partido pode ter a sua opinião num processo pré-eleitoral. O ministro Rui Costa dispensa comentários, foi governador durante oito anos, saiu muito bem avaliado, é ministro da principal Pasta do governo Lula hoje, e faz um trabalho fundamental para o governo Lula ande hoje. Rui é o coordenador de todas as políticas que o governo Lula executa e, portanto, é totalmente credenciado para ser candidato ao Senado. Mas vamos analisar com os partidos, qual é a melhor estratégia para que esse projeto nosso siga em curso. Eu não tenho nenhuma dúvida que nós vamos chegar a uma decisão conjunta entre os partidos, Se vai ser a chapa com Rui, Wagner, quem vai ser, nós vamos montar essa chapa majoritária a partir do debate com todos os partidos políticos. E nós vamos até a exaustão do debate para que todo mundo siga junto. Não tenho nenhuma dúvida que nós vamos seguir juntos.Pesquisas recentes mostraram que nomes do PT lideram a disputa pelas duas vagas ao Senado, enquanto, nos cenários testados para o governo da Bahia, o ex-prefeito ACM Neto aparece à frente. Como o senhor interpreta esses resultados e que estratégias o partido deve adotar para manter o governo no estado em 2026?Eu não nego pesquisas, mas não gosto de fazer avaliação política apenas em cima de pesquisa. Porque se a gente fizesse apenas em cima de pesquisa, nem Wagner seria governador, nem Rui seria governador, nem Jerônimo seria governador. Todos eles quando eram candidatos estavam em patamares ínfimos de número de pesquisa. O que ganha a eleição é a compreensão da população sobre o projeto político que está se colocando para dirigir a Bahia e a sintonia que ele tem com o povo. E o nosso projeto político, ao longo desses últimos 20 anos, é o que o povo tem identificado como o melhor para a Bahia. Eu sempre digo que tem duas coisas que fazem você perder a eleição – uma é achar que já ganhou, outra é achar que já perdeu. Quem acha que já ganhou não trabalha. Quem acha que já perdeu também não trabalha. Eu acho que o governador Jerônimo hoje está muito bem posicionado para disputar a reeleição. Ele é um governador que trabalha dia e noite, incansável. Passou a semana passada cinco dias em Juazeiro, montou um gabinete lá para atender todo aquele território. Hoje está em Barreiras, montou um gabinete lá para atender todo aquele território. Tem ousadia de ampliar investimentos. Jerônimo já construiu mais de 170 escolas de tempo integral, já construiu policlínicas, hospitais, estradas. A entrega do governo Jerônimo é muito robusta e a população sente isso. E eu rodei mais de 70 cidades em 58 dias nessa campanha agora do PT e o sentimento geral é de que o governador está muito bem posicionado para disputar a eleição. Claro, nós temos nossos problemas, nossos desafios, pontos para refletir, mas não temos dúvida que o governador está muito bem posicionado para disputar a eleição. Nós vamos para a eleição com o pé no chão, com humildade, com tranquilidade, mas vamos para ganhar.Diante da tarifa de 50% imposta por Donald Trump a produtos brasileiros, o presidente Lula, cuja popularidade vinha caindo até mesmo no Nordeste, adotou um discurso de enfrentamento a um ‘inimigo externo’. Na sua avaliação, essa é uma estratégia eficaz para reagir à queda de popularidade e reposicionar o governo no debate público?Primeiro, a gente tem que entender que não existe mais no Brasil ambiente para aqueles governos que tinham 80, 90% de aprovação. Ao longo dos últimos 15 anos, o Brasil se fraturou politicamente. Se fraturou através de valores ideológicos, valores morais, e isso faz com que parte da população se alinhe a um governo, não pelo governo em si, mas por um conjunto de valores que ela carrega e identifica. Ou as fake news constroem a imagem de tal governo daquele jeito, e ela se afasta. Portanto, não vamos ter mais aquele cenário do Lula 2, quando chegamos a 95% de aprovação. Por outro lado, é importante a gente ter em mente que a oposição faz campanha eleitoral da hora que acaba a eleição até a outra. Já o governo, não. O governo tem que governar. E o governo Lula pegou o país totalmente sucateado, abandonado. Voltamos para o mapa da fome, acabaram com a Farmácia Popular, acabaram com Minha Casa Minha Vida, com a expansão da universidade. Acabaram com a geração de emprego, com a valorização do salário mínimo. Ou seja, nós pegamos um país com muitos problemas, e o governo focou em resolver os problemas. E se você olhar do ponto de vista dos problemas, a maioria deles já está resolvida. Qual é a questão? Não é simplesmente a pauta de Trump e da taxação que fizeram com que a gente retomasse a nossa iniciativa e aí melhorasse a nossa avaliação. Claro que isso também tem importância, porque as pessoas no fundo são brasileiras, defendem o seu país e estão se sentindo atacadas por interesse de uma família, em detrimento do Brasil. Mas, sobretudo, acredito que tem a ver com a nossa postura. É que nós adotamos um pouco a nossa postura de campanha nesse último período. E, quando a gente adota um pouco essa postura de campanha, nossa base social acompanha. É por isso que não me desespero com pesquisa de opinião. Porque ainda não entramos ainda nessa vibe de campanha, vamos dizer assim. E, quando nós entrarmos, não tenho nenhuma dúvida que amplos setores da sociedade vão marchar juntos. Que nós vamos ampliar a aprovação do governo e não tenho dúvida que Lula será reeleito no ano que vem.Quando você fala nesta mudança, está se referindo a narrativa adotada pelo PT que contrapõe trabalhadores e super-ricos?Na verdade, não é uma nova narrativa. Essa narrativa é a nossa narrativa da vida inteira, é a narrativa do PT. É porque, como eu disse, nos três primeiros anos de governo, a gente estava muito focado em governar. Quando o nosso governo começa a tomar algumas ações que nós dissemos que íamos fazer na campanha e essas ações começam a encontrar barreiras políticas, nós somos impulsionados a também fazer o debate político. Quando o governo diz que quem ganha até cinco mil reais, não vai pagar imposto de renda, que quer taxar os super ricos, os bilionários, quer taxar as bets, quer taxar os bancos, encontra resistência política, às vezes no Congresso Nacional, às vezes em setores da elite na sociedade, o governo é impulsionado a fazer esse debate político. É a nossa bandeira de sempre que, nesse momento atual, veio à tona pelas ações do governo. O governo está defendendo as suas ações políticas. E claro que isso encontra respaldo na população, porque ela sabe que, no fundo, quem carrega o Brasil nas costas é o trabalhador. Essas ações do nosso governo que visam essa justiça tributária têm impacto. Só que, antes, a gente estava lidando com outros problemas, porque o Brasil estava desregulado no âmbito fiscal, estava desregulado economicamente. Primeiro, nós tivemos que fazer uma série de ajustes na casa para a gente conseguir dar um passo. O Brasil não conseguiria fazer isenção de imposto de renda no primeiro ano do governo Lula porque estava desequilibrado do ponto de vista fiscal. Agora que o governo conseguiu estruturar o país, nós temos condição de dar esse passo. Aí a gente entra num debate político com a sociedade, e o presidente Lula faz esse debate político. Porque é o debate político que tem a ver com toda a construção da história e da trajetória dele. É o debate político sobre as pessoas que trabalham têm que ter direito de usufruir das riquezas que ela mesma produz. O Estado tem que olhar com mais carinho aqueles que têm mais vulnerabilidade. E os que são mais privilegiados, que ganham mais, têm que contribuir mais para que a gente possa fazer um país mais justo, mais igual, mais solidário, mais fraterno. Esse é o cenário que está colocado. Tem a ver com narrativa e postura. Nós estamos num momento de debater um tema político que diz respeito àquilo que a gente constrói – defesa do povo trabalhador, equilíbrio tributário – e nós adotamos uma postura mais aguerrida no debate político no último período. Que a gente só adotaria, talvez, não fosse isso, lá na eleição.A segurança pública tem sido um dos pontos mais sensíveis para os governos do PT, especialmente na Bahia, onde os índices de violência seguem elevados após quase duas décadas de gestão. Você acredita que essa área representa hoje o maior desafio político para o partido no estado?Não é a segurança pública. Se a gente pegar ao longo dos últimos 20 anos, ela é a bola da vez. Na campanha passada, por exemplo, o nosso adversário falava muito da educação. Hoje você vê que ele não quer falar de educação. Porque ele sabe que não encontra eco na realidade. O que ele falava, por exemplo, sobre saúde, não encontra eco na realidade. O nosso governo construiu mais hospitais que todos os outros juntos, mais policlínicas do que todos os outros juntos. Neste governo serão mais de 200 escolas de tempo integral, com padrão que nem escola privada tem. É Pé de Meia, é Bolsa Monitoria, é política de ação social. Então, ele não vai. O tema da vez hoje é segurança pública, que é um tema altamente complexo. Você não pode achar que a população não tem capacidade de reflexão e achar que qualquer um que chegue na televisão e diga que vai resolver está certo. Porque é muito complexo o tema da segurança pública. A nossa Constituição prevê que a segurança pública vai ser gerida de forma separada, Estado e União. E o crime organizado hoje age de forma integrada no Brasil inteiro. Se você pegar os dados de confrontos de facções que estão acontecendo na Bahia, Ceará, Pernambuco, Mato Grosso, em vários lugares, vai ver que são as mesmas facções. Por isso que o presidente Lula enviou para o Congresso Nacional uma PEC para poder unificar o sistema de segurança pública. Para dar conta de conseguir combater o crime organizado. A Bahia tem mais de mil quilômetros de fronteiras marítimas, tem uma gigantesca fronteira terrestre com nove estados. Além disso, é um estado que fica na rota e isso tudo faz com que as atividades das facções criminosas na Bahia sejam intensas. Agora, o que nós debatemos no PT é que precisamos ter um sistema de segurança pública que enfrente isso. Aí o governador Jerônimo arma a tropa, fornece coletes, viaturas, concurso público, melhora salário, tudo isso. E nós temos que ter um olhar muito preocupado com a população que sofre com a violência. Nós não podemos perder nenhum jovem negro na periferia por conta, por exemplo, de ação policial do estado. Quando a turma da direita vai falar, no fundo, o que eles querem é que a gente pegue a polícia e diga assim, entre na favela matando todo mundo que vai resolver o problema.Mas a polícia da Bahia é a mais letal do Brasil…Esse é o desafio que o PT coloca para o nosso governo. Nós queremos uma polícia que tenha capacidade cada vez maior de inteligência. O nosso governador tem investido muito em inteligência. O Mapa da Violência que coloca a Bahia lá em cima, mostra também que a Bahia é um dos estados onde a violência mais decresce. Nesses últimos três anos do governo Jerônimo a Bahia tem uma trajetória de queda no número de mortes violentas e isso é fruto do trabalho do governador Jerônimo. Não só o trabalho de combate a criminalidade, mas também de repensar a forma como a polícia age na Bahia. Não é fácil. Mas o governador está, todos os dias, preocupado e debruçado em resolver esses problemas da segurança.Raio-XFormado em Comunicação pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) e atual secretário de Finanças do partido, Tássio Brito já chefiou a União Nacional dos Estudantes (UNE), atuou junto ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e integrou a direção da Juventude do PT. O militante também participou da coordenação de campanha do governador Jerônimo Rodrigues. Eleito com 73% dos votos, deverá tomar posse como presidente do PT da Bahia em setembro.
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