Acidente aéreo em Boituva: relatório aponta uso inadequado de alavanca de combustível em acidente que matou paraquedistas em 2022


Avião com paraqueditas capotou ao fazer pouso de emergência após pane no motor, em Boituva (SP), em 11 de maio de 2022: duas pessoas morreram na ocasião
Corpo de Bombeiros/Divulgação
O relatório do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) aponta que o uso inadequado da alavanca de combustível e a falta de manutenção nos cintos de segurança contribuíram para o acidente aéreo de Boituva, em 2022, que provocou a morte de dois paraquedistas.
André Luiz Warwar, de 53 anos, e Wilson José Romão Júnior, de 38, morreram na queda da aeronave. Outras nove pessoas ficaram feridas, cinco delas com lesões graves – incluindo o piloto. O avião transportava 16 pessoas na ocasião.
No relatório, ao qual a TV TEM teve acesso, o Cenipa relaciona a pane do motor do avião ao uso incorreto da alavanca que controla o combustível e a potência da aeronave, chamada de EPL.
Em desacordo com fabricante
Conforme a investigação do órgão, o dispositivo EPL ainda era utilizado frequentemente em treinamentos pela empresa proprietária da aeronave, em desacordo com a orientação do fabricante, que prevê a utilização apenas em situações de emergência.
Com base no relatório, o perito Robeto Peterka, especialista em segurança área, afirmou à TV TEM que os danos no motor podem ter sido causados pelo uso deficiente do dispositivo que controla a quantidade de combustível no motor, resultando numa potência excessiva.
“(O combustível) é uma mistura rica, que causa explosão, levando à degradação do motor, como mostram fotos do relatório. Os pedaços atingiram o escapamento da aeronave”, explica o perito.
Logo depois de decolar do Centro Nacional de Paraquedismo (CNP) de Boituva, em 11 de maio de 2022, o Cessna 208 Caravan teve uma pane no motor, que pegou fogo, e começou a perder altitude. Ele estava a 350 metros de altitude, conforme o relatório do Cenipa.
O piloto tentou voltar ao aeródromo, mas o avião não tinha força e nem altitude suficientes. Ele fez um pouso de emergência em um terreno na zona rural da cidade, percorrendo 200 metros em 7 segundos.
A aeronave tocou o solo três vezes – na última, bateu em um barranco ao lado de uma estrada de terra e capotou. A velocidade estimada pelo Cenipa foi de 207 km/h.
Para a investigação, técnicos do Cenipa visitaram o local do acidente, analisaram a aeronave e assistiram às gravações de câmeras nos capacetes dos paraquedistas. O relatório tem 40 páginas.
Para elaborar o relatório, técnicos do Cenipa utilizaram também imagens das câmeras dos capacetes dos paraquedistas, durante o acidente, que vitimou duas pessoas, em 11 de maio de 2022, em Boituva (SP)
TV TEM/Reprodução
Ao bater e capotar, os passageiros foram arremessados para fora da aeronave. O Cenipa aponta, no relatório, que a corrosão nos suportes foi a causa para que a grande quantidade de cintos se soltassem na colisão.
Conforme o Cenipa, a manutenção não foi eficaz para assegurar a integridade e a confiabilidade dos materiais, tendo esses itens contribuído para a lesões sofridas pelos paraquedistas durante o pouso de emergência.
“O relatório mostra que as fivelas dos cintos foram arrancadas do suporte e a pessoa ficou livre, tanto que foi arremessado pelo para-brisa do avião. Os cintos não poderiam ter soltado em situação assim”, afirmou o perito, em entrevista à TV TEM.
Vítimas
André Luiz Warwar, de 53 anos, e Wilson José Romão Júnior, de 38, morreram na queda de avião com paraquedistas, em 11 de maio de 2022, em Boituva (SP)
Fotos: Arquivo pessoal
Na queda da aeronave, dois paraquedistas morreram: André Luiz Warwar, de 53 anos, e Wilson José Romão Júnior, de 38.
André era funcionário da área de tecnologia da TV Globo e dirigia filmes. Era também um paraquedista experiente. Em 2017, ele lançou seu primeiro longa-metragem, o filme “Crime da Gávea”.
Wilson, também conhecido como Juninho Skydive, era profissional do esporte e instrutor de salto.
Outras cinco pessoas tiveram lesões graves, entre elas o piloto Lucas Marques. Quatro tiveram ferimentos leves, e cinco não se machucaram.
Sem caráter criminal
O relatório do Cenipa não tem caráter criminal. Ele levanta as causas e as hipóteses do acidente para prevenção na área de aviação.
“O que o relatório considera é que houve uma deficiente operação do avião”, destaca o perito Roberto Peterka.
“Houve cultura de permitir que os pilotos contrariassem a orientação do fabricante quanto ao manuseio do EPL. Poderia ter um processo de manutenção mais restritivo, tendo em vista que em Boituva, exige-se muito do avião, e o cinto de segurança tem grande probabilidade de evitar as mortes. Ele foi feito para isso”, declara o especialista em segurança aérea.
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