Barulhos intensos, luzes fortes e cheiros marcantes fazem parte do ambiente comum de um consultório odontológico. Mas para muitas crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), esses estímulos sensoriais são gatilhos de desconforto e ansiedade, tornando a ida ao dentista um verdadeiro desafio.Em Salvador, clínicas como a OBE Odontologia vêm transformando essa realidade ao oferecer atendimentos personalizados e humanizados voltados a pacientes neurodivergentes.Três estratégias utilizadas em consultórios:Uso de painéis sensoriais na recepçãoUtilização de brinquedosEstímulos visuais adaptadosEm muitos casos, o processo de adaptação pode levar várias sessões apenas para criar um vínculo de confiança. O objetivo é que o atendimento odontológico deixe de ser motivo de medo e se torne uma experiência acolhedora e previsível.A dentista Camila Magalhães se destaca em Salvador. Ela conta que a sua trajetória na área foi intuitiva. Embora tenha iniciado sua carreira como cirurgiã-dentista, começou a atender crianças em outras clínicas porque seus colegas não se sentiam preparados.“Um dia percebi que minha agenda era composta quase só por crianças. Vi que precisava me especializar, entender mais, estudar sobre autismo e, principalmente, sobre as famílias que me procuravam”, explicou.Ela ainda contou: “A odontopediatria é também um trabalho psicológico. Muitas vezes passo duas ou três sessões apenas na recepção com a criança, para que ela se sinta segura antes de entrar na minha sala. Cada pequeno avanço é uma conquista”.Melhoria no atendimentoSegundo o Censo Demográfico 2022, mais de 2 milhões de pessoas com diagnóstico de autismo vivem no Brasil, e muitas ainda não encontram profissionais preparados para lidar com suas necessidades específicas.É por isso que clínicas especializadas têm investido em formação, adaptações sensoriais e parcerias com profissionais de sedação odontológica, garantindo conforto e segurança em casos mais complexos, como pacientes com autismo nível 3.Além dos cuidados clínicos, o trabalho preventivo é uma das prioridades no acompanhamento. Crianças com seletividade alimentar intensa, por exemplo, podem ter maior risco de desenvolver cáries.A odontologia, nesses casos, precisa se adaptar sem comprometer a autonomia e o bem-estar da criança. “Já tive um paciente com hiperfoco em chicletes. Ele precisava mascar o dia inteiro para se acalmar. Em vez de cortar isso, propus a troca por um chiclete sem açúcar. Esse tipo de adaptação é essencial para que ele continue funcional e protegido”, relatou a dentista.Camila é formada há 17 anos pela Faculdade Bahiana de Medicina e Saúde Pública e especialista em odontopediatria com foco em PcD (Pessoa com Deficiência), com TDAH, TOD, outras condições neurocomportamentais, especialmente crianças autistas.
Consultórios se adaptam para atender crianças autistas em Salvador
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