
Homem diz que foi atacado por onça no Pantanal
O coordenador do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Rogério Cunha de Paula, negou que um homem tenha sido atacado por uma onça-pintada no Pantanal de Corumbá (MS). A vítima disse ter sido ferida ao tentar proteger seus cães.
Valdinei da Silva Pereira, de 57 anos, disse que a onça pulou em seu rosto. O caso ocorreu na noite de quarta-feira (6), mas o socorro só chegou na manhã seguinte, quinta-feira (7).
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Apesar do relato, autoridades contestam a versão. O ICMBio informou que, após conversa com o médico que atendeu Valdinei e relato da própria vítima, concluiu-se que os ferimentos não correspondem a marcas de mordida ou arranhões de um grande felino.
“A gente descarta totalmente esse ataque, descarta o contato. As marcas que ele tem não são compatíveis com as de uma onça. Não é do comportamento do animal. O comportamento dessa onça ali é diferente do comportamento do seu Jorge. Se ela quisesse matar ele, teria matado. Descartamos qualquer investida da onça nesse senhor”, afirmou Rogério.
Segundo o coordenador, a onça está na região há pelo menos quatro meses e não representa risco iminente para pessoas. Câmeras monitoram os animais no local, e a última aparição do felino foi registrada no sábado (2).
“Ele pode ter tropeçado em um cachorro ou em uma pedra. O local tem muitas pedras e, à noite, sem lanterna, várias coisas podem ter acontecido”, disse Rogério.
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Na região, a população recebe orientações para redobrar os cuidados, especialmente à noite. O uso de luzes, lanternas, buzinas e sirenes é recomendado. A Polícia Militar Ambiental também realiza rondas no local.
Outra orientação é sobre os animais domésticos. “Não mudou nada nos cuidados com os cães, continuam da mesma forma. Para nós, é justamente a presença dos cães que mantém a onça na área. Há possibilidade de existirem três animais por ali. Hoje, temos um que está sendo identificado”, disse Rogério.
O Instituto Homem Pantaneiro (IHP) também negou que o homem tenha sido atacado. Segundo o diretor, coronel Ângelo Rabelo, o alvo foi apenas os cães. “Corumbá tem um histórico, especialmente no período de cheia. Temos o fator da queimada, que eliminou e matou muitos animais selvagens”, afirmou.
Por meio de nota, a Polícia Militar Ambiental também negou o ataque e disse que as únicas informações oficiais recebidas até o momento referem-se a aparições e avistamentos do felino em áreas urbanas, não havendo registros formais de ataques ou confrontos.
“A PMA, desde o início das aparições do felino na área urbana de Corumbá, tem realizado patrulhamentos preventivos e orientações à população, com foco nos cuidados necessários para evitar o contato com o animal.”, diz a nota.
Estudo de captura
O coordenador do Cenap disse que a possibilidade de captura é avaliada. Segundo ele, a ação exige recursos financeiros e humanos, além de representar risco para a equipe e para o próprio felino.
“O que precisa ser feito ali é uma mudança de hábitos. Não foi a primeira vez e não será a última. Vemos que a onça permanece porque está fácil: a comunidade não está tomando medidas. Não queremos que isso evolua para um nível em que ela perca o medo do ser humano e se acostume com a presença de pessoas. Ali não é o lugar para ela viver”, afirmou Rogério.
A remoção do animal ainda é avaliada pelo ICMBio, em conjunto com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e outras autoridades.
Incidente em apuração
Na manhã de quinta-feira (7), Valdinei recebeu atendimento na Santa Casa de Corumbá. Ele tomou cinco injeções e já teve alta. O porteiro relatou que aconteceu enquanto se preparava para sair para o trabalho.
“Desci só com a lanterna do celular. Tinha um pau na mão. Acho que foi o que me salvou, bati. Na hora que ela voou em mim, se eu tivesse caído, ela teria me matado”, contou.
Antes do ataque, segundo Valdinei, a onça já havia matado dois de seus cães — um deles ainda filhote. “Faz dias que ela estava andando por lá. Mas nunca entrou, como ontem ela entrou […] Eu tentei me proteger, porque eu não esperava, não esperava mesmo ela avançar em mim”.
Após o ataque, Valdinei pediu ajuda à irmã, mas ela não conseguiu descer por causa da escuridão. O irmão dele foi quem o socorreu. Porém quando chegou ao local, a onça já havia fugido.
“Quando ela bateu aqui eu peguei e empurrei […] Porque se ela tivesse grudado mesmo, ela tinha arrancado essa parte do meu rosto, do lado direito”.
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Corpo de Bombeiros/ Reprodução
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