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Lúdico escapista
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Tendo que criar uma atmosfera lúdica que esconda dos pequenos João Vitor e Rihanna todo o grau de sofrimento que passam, ela define para os dois aquele processo de dormir ao relento como sendo um acampamento e como uma aventura o ato de levá-los em cima da carroça puxada por ela da capital até Itaquera, na região metropolitana, onde mora uma prima que lhe dará abrigo. Na viagem a pé, que dura três dias, Gal se mantém ocupada em deixar a mente dos dois distante de qualquer trauma. Por isso, faz uma parada em um parque de diversões e simula um ato de brincadeira ao colocá-los para tomar banho em um chafariz com a prévia autorização da polícia que ronda o local.Em seus aspectos lúdicos, o roteiro de Anna Muylaert cria um estado de leveza para aquelas crianças, que sorriem ao falar do Corinthians e comemoram o time ao ouvir o som de fogos de artifício.Equilibrar esse tom com a realidade que o filme esboça para seu público se torna algo perceptível para o espectador atento durante a sessão de A Melhor Mãe do Mundo.O longa não pretende ser uma narrativa exclusivamente estóica, que desenha um mundo cão de sofrimento e miséria para seu público. Ao contrário. Ele apresenta uma saída para aquela realidade diante de uma consciência de sua protagonista.“A grande dificuldade do filme era esse andar no fio da navalha. Você está falando de miséria. Você está falando de violência. Você está falando de uma mulher abandonada. Mas, ao mesmo tempo, você está falando de amor, de afeto, de lúdico. Então, mesclar isso tudo sem cair muito para um lado ou para o outro, e chegar ao fim do filme com o espírito erguido, era a direção. Esse era o desafio”, afirma a diretora e roteirista Anna Muylaert, também em entrevista ao jornal A TARDE.Símbolo materno
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Tendo na sua filmografia diversos exemplo de mães a trazer uma reflexão não somente dessa presença afetiva e fundamental na vida , mas como um aspecto de análise social e importância desse ser humano, a diretora Anna Muylaert falou, também, sobre essa análise da presença materna em seus filmes. “Isso é algo que eu mesmo vou percebendo (em meus filmes). Eu acho que a questão da mãe é fundamental para os freudianos e, para mim, no sentido psicológico. No caso de Que Horas Ela Volta?, foi no sentido social. Eu acho que no caso da personagem da Gal, agora eu estou entendendo que tentam inseri-la em um circuito político. De uma personagem política no sentido que nós, a nossa sociedade, coloca a mãe em um lugar afetivo, em um lugar sacrossanto, em um lugar até mitológico. Mas não desenha esse personagem na política. Na estrutura da sociedade”, crava a diretora e roteirista.Gal, a personagem de Shirley Cruz em A Melhor Mãe do Mundo possui essa presença que abrange tais aspectos citados por Muylaert e, também, simboliza essa presença pilar de criação, mas que nem sempre é alguém que está preparada para tal papel. Mas é preciso estar.“Todo mundo passa pelas mãos da mãe. E a mãe não está preparada para ser mãe. Ela está sempre improvisando. No caso da Gal, ela é uma mulher forte. Ela supera os obstáculos. Mas a gente sabe que não é assim. Não são todas as mulheres que, ao perceber que o companheiro vai abusar da filha, ou que está abusando, o largam. Muitas ficam. Muitas mulheres vivem em fuga. E a gente assiste como se fosse um problema pessoal. Não é. É um problema mundial. Enfim, eu acho que é sempre a mãe (em meus filmes), mas com olhares diferentes”, explica Anna.Em sua cena inicial na cooperativa de reciclados, quando vemos uma prensa industrial compactar todo aquele plástico trazido por outras diversas mulheres em busca de grana para leite, arroz e feijão, percebemos aquela rima visual representar justamente o estado de pressão psicológica e física no qual Gal vive.Daquele ponto em sua via crucis até o momento de descompressão, quando, junto aos dois filhos pede, literalmente, uma carona para São Jorge em seu cavalo para chegar ao estádio onde vai ver o Corinthians jogar, temos o recorte de uma vida que pode ser dura e sofrida, mas que, também, possui sua leveza e sua chance de um futuro melhor.A Melhor Mãe do Mundo / Direção: Anna Muylaert / Com Shirley Cruz, Seu Jorge, Rihanna Barbosa, Benin Ayo, Luedji Luna, Rubens Santos, Rejane Farias, Lourenço Mutarelli, Katiuscia Canoro, Ayomi Domenica e Dexter / Salas e horários: cinema.atarde.com.br