A auxiliar de disciplina Patrícia Dias tenta encontrar o equilíbrio para criar os filhos
| Foto: Reprodução arquivo pessoal
“Patrick usava roupas, corte de cabelo no estilo da época. Ouvia músicas, reproduzia as dancinhas na rua e andava no meio de adultos com o pai e os tios. Confesso que nunca tinha parado para pensar nisso dessa forma. Acho que, muitas das vezes, a gente repete atitudes e falas sem perceber o impacto que podem ter”, diz ela, afirmando que, com a filha Liz, tenta agir de forma diferente, respeitando o tempo da infância dela.
“É verdade que, em alguns momentos, posso incentivar coisas que parecem inofensivas, mas que podem acelerar um pouco essa fase da infância. Como o uso de maquiagem, mesmo que de brincadeira, quando peço para repetir uma fala ou uma dancinha por achar engraçado e, principalmente, quando digo que ela é uma minimoça”,
avalia.
Entre erros e acertos, Patrícia diz que tenta encontrar um equilíbrio ao criar a filha. “Em relação às roupas, prefiro vesti-la como uma criança. Mas ainda permito o uso de maquiagem e que ela mostre as dancinhas que vê as coleguinhas fazendo, tudo dentro de casa e sempre reforçando que essas coisas não são para crianças”, conclui a auxiliar.A professora do ensino fundamental Shirlene Apolinário, 45, afirma que se esforça para preservar ao máximo a infância da filha mais nova, a pequena Sophia, de 3 anos. No entanto, reconhece que, em alguns momentos, acaba adotando atitudes que hoje considera questionáveis. Além de Sophia, Shirlene também é mãe de Maria Júlia, de 18.
A professora Shirlene Apolinário é mãe de Maria Júlia, 18, e Sophia, 3
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“Em relação ao vestuário e usar acessórios sou bem cautelosa. Adoro crianças se vestindo como crianças. Não pinto as unhas, não incentivo maquiagem e, graças a Deus, ela ainda não despertou. Às vezes, me pego falando para ela: ‘por que você fez isso? Você já está uma mocinha, não tem idade mais para isso’”, lembrou a mãe, revelando que com Maria Júlia, agia da mesma forma.Especialistas“Gostaria de enfatizar que a adultização das crianças não está relacionada somente à exposição precoce a conteúdos adultos como violência, músicas, danças, roupas e sexualidade. A adultização também acontece quando a criança presencia discussões conjugais, quando os pais fazem do filho um confidente dos seus problemas, quando se atribui responsabilidades de adultos, como cuidar de irmãos mais novos, por exemplo, e também quando se espera que a criança seja racional o tempo todo, controlando ou reprimindo suas emoções”, explicou a neuropsicopedagoga e educadora parental Tathiana Moráes em conversa com o Portal A TARDE.
Tathiana Moráes é neuropsicopedagoga e educadora parental
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De acordo com ela, a sobrecarga de responsabilidades ou o contato com conteúdos inadequados pode provocar na criança tensão, angústia e fadiga no cérebro ainda em desenvolvimento, comprometendo a atenção, a retenção e, consequentemente, o processo de aprendizagem.“Ao pular etapas ou ser forçada a lidar com problemas complexos, a criança pode não desenvolver as bases cognitivas necessárias para as próximas fases de aprendizado. A criança que é induzida a assumir papéis que não estão de acordo com sua idade pode gerar conflitos internos na construção e exploração de sua verdadeira identidade. Além de perder experiências importantes da infância, como o brincar, essencial para a construção de uma identidade equilibrada e saudável”, pontuou a profissional.A psicóloga infantojuvenil Mariana Félix, especializada em Terapia Cognitivo-Comportamental, explica que crianças submetidas ao processo de adultização, seja no ambiente familiar ou escolar, podem apresentar alguns sinais que vão desde “respostas excessivamente maduras para a idade, postura emocional de ‘cuidador’ em relação aos adultos, preocupação exagerada com problemas da casa ou da escola, pouca tolerância a frustrações típicas da infância e dificuldade em se engajar em brincadeiras ou atividades lúdicas”.
Mariana Félix é psicóloga infantojuvenil e especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental,
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Para a especialista, é fundamental que pais, responsáveis e educadores permaneçam atentos para identificar quando as crianças estão sendo expostas a situações que possam afetar diretamente seu desenvolvimento emocional, psicológico e social, comprometendo sua saúde e bem-estar.
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Ela também aponta algumas estratégias que podem ser adotadas para minimizar esses impactos: “Manter rotinas de brincadeiras e lazer, limitar a participação das crianças em conflitos e preocupações de adultos, utilizar linguagem adequada à faixa etária, valorizar a curiosidade e a expressão lúdica, além de garantir que as responsabilidades atribuídas sejam compatíveis com a idade”, finalizou.