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Criatividade de berço
| Foto: Divulgação
Rainha Ratilho foi criada em meio às brincadeiras de Lilica. Ao perceber o potencial da narrativa idealizada pela filha, Leo Rocha logo pensou: “isso pode ser teatro”. “Ela, enquanto criança em sua imaginação, criou um personagem muito grande, muito cheio de possibilidades e muito cênico. E eu, obviamente, levei a história para a dramaturgia. Escrevi uma dramaturgia e depois a gente foi, no processo, criando as músicas com Adrian Estrela”, conta.Ao descrever a personagem, a atriz mostra que entende muito bem essa complexidade. “Ela é meio mandona, porque é mesmo. Mas se a gente for pensar pelo outro lado, ela é apenas uma criança de 10 anos, que está tentando lidar com os problemas de viver na rua. Ser mandona é o jeito que ela encontrou de lidar com as dificuldades da vida”, reflete.E ela embarcou no processo de transformar a Rainha Ratilho da sua mente na Rainha Ratilho que o público passaria a conhecer.O espetáculo marcou sua estreia no teatro e a estreia de Leo Rocha na direção de uma peça protagonizada por uma criança. Segundo ele, os meses que passaram se preparando para levar a peça para o palco seguiram um método inusitado, mas elucidativo: o de aprender brincando.O fato de ter sido um processo repleto de momentos entre pai e filha deixou tudo mais fluido. Originalmente, o texto havia sido escrito para Lilica e Leo, que faria o Bobo. Durante o desenvolvimento, porém, eles entenderam que seria melhor que ele observasse de fora e outro ator assumisse o papel.“Para mim também é uma experiência muito legal, porque ter meu pai como diretor é como se ele me entendesse. Às vezes ele dá uma ideia e eu pergunto: ‘e se a gente fizer desse outro jeito?’, e assim a gente construiu e ainda estamos construindo o espetáculo, que está sempre em construção. A gente vai sempre melhorando o espetáculo e se entendendo, então é um presente para mim”, conta Lilica.Lilica, que parece ter nascido para as artes, encarou com maestria o desafio. Agora, no retorno, aquele friozinho na barriga que os atores sentem ao subir no palco é um mero detalhe para ela. “Como é o início da segunda temporada, dá esse friozinho, mas depois é como se fosse uma coisa cotidiana. É como se você voltasse para um mundo onde já viveu diversas vezes”, diz.Essa segurança vem do incentivo desde cedo à criatividade. Leo e a mãe de Lilica partiram do pressuposto de que a arte é um elo para educar e formar um cidadão. E deu certo: hoje, têm uma filha que, além de apaixonada pela criação artística, exibe uma sabedoria surpreendente até para eles – para Leo, a sensação é de que Lilica tem uma perspectiva ancestral.“Eu sempre tive um carinho especial pelas artes em geral. Música, teatro, pintura, dança. Então, para todas as histórias que invento, eu me baseio no ser humano e tudo que o circunda. Porque o ser humano em si só já é uma história, já é algo que pode ser contado. As pessoas têm histórias e dessas situações surgem músicas, surgem personagens como a Rainha Ratilho”, conta a atriz.“Aprendi que você precisa enxergar as pessoas, não só ver. Porque muita gente vê essa garotinha, mas não enxerga, não presta atenção. Ver e enxergar são coisas muito diferentes. Nós, seres humanos, botamos isso no mesmo contexto, só que a gente precisa aprender a enxergar cada um de dentro para fora”, diz.Rainha Ratilho / Hoje, amanhã e dias 20, 21 e 22 de agosto, 15h / Teatro Molière (Aliança Francesa) / Gratuito (retirada de ingressos a partir de uma hora antes de cada sessão)*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.