Descarte irregular de medicamentos ameaça meio ambiente e saúde humana

O descarte de anticoncepcionais, hormônios e outros medicamentos ao chegar no lixo ou no vaso sanitário pode gerar contaminação de solos e rios, com impactos na saúde humana e meio ambiente. Porém, o descarte correto segue como desafio. Ainda que o Decreto Federal (10.388/2020) determine que farmácias precisam ter pontos de coletas essa não é a realidade de todos os locais. Associado a isso há também grande desinformação da população sobre as práticas corretas do descarte.A bióloga e docente do Centro Universitário UniRuy Wyden, Átila Batista, explica os riscos desse descarte irregular. “De forma simples, qualquer remédio pode ser perigoso se chegar nos lençóis freáticos, mas os que mexem com hormônios, combatem bactérias ou têm alta toxicidade merecem uma atenção redobrada. Por exemplo, anticoncepcionais e hormônios podem alterar o equilíbrio hormonal de peixes e outros animais aquáticos. Já os quimioterápicos possuem substâncias altamente tóxicas, mesmo em pequenas quantidades”.Ela ressalta ainda como funciona essa contaminação do solo e da água. “Quando são lançados em aterros sanitários podem se combinar com o chorume e contaminar os lençóis freáticos. Pode gerar proliferação de bactérias resistentes, o que gera uma preocupação para a saúde pública. Os animais aquáticos são os mais afetados por esse descarte irregular e através deles isso pode chegar aos seres humanos causando problemas crônicos”, indica Átila.

Descarte correto

|  Foto: Olga Leiria / Ag. A TARDE

Falta pontos de coletaConforme o decreto citado, todas as farmácias necessitam ter pontos de coleta de medicamentos, mas isso não acontece sempre. A Logmed – sistema de logística reversa de medicamentos domiciliares vencidos ou em desuso – apresenta dados de 2023, publicados em 2024, onde informa que a Bahia possui 235 pontos de coleta registrados, que estão concentrados apenas em 26 cidades dos 417 municípios do estado. A maior parte (65%) desses pontos está em Salvador.A farmacêutica e assessora técnica do Conselho Regional de Farmácia do Estado da Bahia (CRF-BA), Maria Fernanda Barros, comenta a situação do estado. “Como consumidora entro às vezes em farmácias e não encontro ponto de coleta, então observamos que existem ainda algumas farmácias que estão se adequando a essa exigência”, diz. Ela aponta também que pode haver uma subnotificação dos números, porque nem todas as farmácias estão ligadas ao sistema e podem possuir suas próprias iniciativas de descarte.

|  Foto: Olga Leiria / Ag. A TARDE

A advogada Brisa Santiago, 46, que mora em Camaçari, ciente da importância do descarte correto, conta que levava os medicamentos em um supermercado com local de recolha. Contudo, após o fechamento do estabelecimento ela tem dificuldade de encontrar espaço adequado para isso. A experiência dela no município é de dificuldade para encontrar os pontos de coleta e de falta de sinalização das farmácias se há ou não espaço para isso.“Sempre tivemos muita dificuldade para fazer esse descarte da forma correta. A forma que encontrei de não prejudicar o meio ambiente foi separando esse lixo dos outros. Nas farmácias nunca recebi essa informação sobre pontos de descarte”, comenta.DesinformaçãoO sociólogo Luiz Lourenço, 51, e sua esposa, a autônoma Luciana Lima Sena, 51, não sabiam a forma correta do descarte de medicamentos. Mesmo sem conhecer muito sobre o prejuízo de deixar esse conteúdo de qualquer forma na natureza, os dois deixam esse material guardado numa gaveta. “Deixamos na gaveta até pensar em uma maneira de descartar ele. Não sabemos bem o que fazer, qual o protocolo para isso”, aponta. Essa desinformação, tanto sobre as farmácias funcionarem como ponto de descarte, quanto às consequências de tratar esses medicamentos de forma irregular, é parte do desafio para sanar o problema. A funcionária pública Patrícia Silva, 48, por exemplo, diz que costuma jogar os medicamentos no vaso sanitário após a data de vencimento.

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“Retiro da embalagem e jogo no sanitário. Não sabia que existem locais adequados para o descarte, mas agora vou tratar de fazer direitinho”, afirma. A assessora técnica do CRF-BA indica que as pessoas busquem a farmácia mais próxima para realizar o descarte e se lá não houver ponto de coleta, o farmacêutico poderá indicar alguma que tenha. Ela ressalta que é responsabilidade do consumidor fazer sua parte do ciclo do descarte correto.

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