
Zelensky e Trump marcam encontro após conversa do presidente americano com Putin
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O presidente ucraniano Volodimir Zelensky vai se reunir na segunda-feira (18) com o presidente americano Donald Trump, na Casa Branca, em mais uma etapa das negociações para tentar acabar com a guerra na Ucrânia.
Mas, segundo o jornal The New York Times, Trump teria concordado com a principal exigência feita pelo russo Vladimir Putin.
Neste sábado, Donald Trump divulgou uma mensagem numa rede social. Trump inicia o texto afirmando que teve um dia grandioso e bem-sucedido no Alasca e que o encontro com Vladimir Putin correu muito bem.
O presidente americano disse ainda que ficou determinado que a melhor maneira de encerrar o conflito é ir direto para um acordo de paz, que acabaria com a guerra, em vez de um acordo de cessar-fogo que, nas palavras dele, não seria respeitado.
Nesta sexta, Trump estendeu o tapete vermelho para receber Putin no estado americano do Alasca.
Durante a semana, Trump tinha conversado com os aliados europeus e com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky.
Teria ficado acertado que o americano defenderia primeiro um cessar-fogo, para interromper as hostilidades, e só aí haveria negociações para um acordo final de paz.
Mas no Alasca, Putin aparentemente convenceu Trump a abandonar sua posição e adotar a proposta russa, de uma ampla negociação sem cessar-fogo.
Autoridades europeias pediram confidencialidade, mas relataram ao jornal New York Times que Trump disse aos aliados na Europa que concordou com a proposta de Putin: de que a Ucrânia ceda à Rússia toda a região do Donbas, no sudeste do país, inclusive o território que ainda não foi ocupado militarmente pela Rússia. Zelensky já disse que essa proposta é inaceitável.
Territórios importantes no conflito entre Rússia e Ucrânia
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O Donbas é formado por duas províncias ucranianas: Luhansk e Donetsk. Em 2014, milícias locais apoiadas pela Rússia ocuparam a maior parte da região, que é rica em minérios.
Em troca da cessão do Donbas, Putin aceitaria um cessar-fogo nas outras duas províncias do sul da Ucrânia que a Rússia reivindica e já ocupa parcialmente: Zaporizhia e Kherson.
Segundo a imprensa americana, a Ucrânia também teria que aceitar perder a Crimeia, ocupada desde 2014.
Numa mensagem em redes sociais, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky não se referiu diretamente ao suposto acerto de Trump com Putin.
Zelensky afirmou que ele, Trump e líderes europeus concordaram que a paz precisa ser duradoura, não uma pausa. E que nenhuma decisão sobre a Ucrânia, principalmente no que diz respeito a territórios, pode ser feita sem a Ucrânia.
O professor Charles Kupchan, da Universidade de Georgetown, disse ao Jornal Nacional que vai ser muito difícil a Ucrânia aceitar os termos exigidos por Putin.
“Há milhares de ucranianos que vivem nos 30% de Donetsk não ocupados pela Rússia. O que vai acontecer com esses ucranianos? Serão retirados? Vão viver sob ocupação russa?”, indaga o professor, que questiona ainda: “Zelensky pode sobreviver politicamente se entregar tanto território à Rússia depois que tantos ucranianos foram mortos ou feridos defendendo esse território? É um ponto realmente difícil. E o que a Ucrânia vai ganhar em compensação?”
Trump anunciou também que Zelensky vai a Washington na segunda-feira, para um encontro no Salão Oval.
Da última vez que Zelensky esteve lá, em fevereiro, foi humilhado por Trump e chamado de ingrato.
Alguns líderes europeus vão participar dessa reunião por teleconferência, o que pode ajudar Zelensky a resistir a eventuais exigências de Trump.
O professor Kupchan vê um lado positivo na iniciativa de Trump de se reunir com Putin.
“Dou o crédito de ter aberto um diálogo estratégico com a Rússia. Essa é uma guerra que só pode acabar na mesa de negociações e, quanto mais durar, pior é para a Ucrânia. O tempo não está a favor da Ucrânia.”
Ele avalia que o Alasca foi uma vitória para Putin. “Ele saiu da marca do pênalti. Ele se sentou à mesa com o presidente americano em solo americano, andando no tapete vermelho e pegando carona na limusine presidencial com Trump”.
“Trump foi apressado demais. A reunião foi prematura, mal preparada. Então, no fim, foi muito mais uma vitória para Putin do que para Trump.”
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