O algoritmo e a pedagogia do oprimido

Na última semana, o Brasil foi palco de uma série de eventos que expuseram a influência da inteligência artificial (IA) na disseminação de notícias falsas. Um vídeo viral que mostrava a cantora Ivete Sangalo elogiando o presidente Lula, por exemplo, causou surpresa, já que ela sempre foi discreta em suas posições políticas. A peça era falsa, e a IA alterou o tom de voz da cantora, tornando-o adocicado e “politizado”. No mesmo período, outros vídeos falsos circularam: um mostrava a apresentadora Renata Vasconcellos, do Jornal Nacional, noticiando que Donald Trump havia exibido a bandeira do Brasil na Times Square, e outro mostrava a bandeira brasileira hasteada em frente à Casa Branca. Todos esses exemplos demonstram como a IA pode ser usada para criar narrativas completamente fabricadas.O lado sombrio dos algoritmosEnquanto a IA criava essas ficções, a realidade se manifestava de forma alarmante. O influenciador digital Felipe Bressanim Pereira, conhecido como Felca, denunciou a exploração de menores em conteúdos inapropriados. Esse crime, conhecido como adultização de crianças, gerava lucro com a exposição de seus corpos, evidenciando uma das perversões mais cruéis dos algoritmos. A gravidade do caso levou o Congresso Nacional a colocar o tema em pauta, discutindo a tipificação do crime.Por trás de todos esses fatos, existe uma questão maior e mais preocupante: o poder do algoritmo. Essa entidade se tornou uma espécie de “demiurgo gnóstico” – uma força que cria uma realidade material que, em vez de levar à iluminação, obstrui-a. Na era digital, quem domina o algoritmo domina a batalha pelas redes sociais. Infelizmente, a extrema direita e grupos mal-intencionados foram os primeiros a dominar essa arte para espalhar o que há de pior. Embora os progressistas tenham corrido atrás e diminuído a distância, isso levantou um debate ético sobre os limites do uso da IA na propaganda política.O jogo de estratégia dos progressistasApesar da diferença fundamental entre progressistas e extremistas de direita — já que os fascistas, por natureza, usam a mentira como método —, a batalha pela influência digital tem levado a reflexões profundas. Há, por exemplo, o dilema sobre se “os fins justificam os meios”, com alguns grupos defendendo o uso de uma linguagem simplificada e direta, inspirada em modelos fascistas, mas sem mentiras, para alcançar o público e evitar um “mal maior”.A julgar pelos monitoramentos recentes, a estratégia parece estar dando frutos. Com a ajuda de fatores como o avanço da campanha “nós contra eles”, o desgaste do Congresso e as sanções de Trump, os progressistas ganharam terreno e passaram a viralizar tanto quanto a extrema direita. Esse movimento resultou no aumento da aprovação do presidente Lula, fortalecendo seu caminho para a reeleição. Mais importante, questões cruciais como “equidade” e “soberania” estão sendo introduzidas no debate público de forma didática, alcançando milhões de smartphones. A esperança, de forma um tanto romântica, é que essa “cruzada digital” possa, como na “Pedagogia do Oprimido” de Paulo Freire, despertar um pensamento crítico nas massas.
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