O delegado da Polícia Civil de Minas Gerais Evandro Radaelli, um dos responsáveis pela investigação do assassinato do gari Laudemir Fernandes, diz não ter dúvidas de que o empresário Renê da Silva Nogueira Junior seja autor do crime. A declaração foi feita durante uma entrevista ao programa Fantástico, da Globo, nesse domingo (17).
Questionado pelo repórter André Junqueira, da Globo Minas, se a polícia tinha alguma dúvida de que Renê da Silva seria autor do assassinato, Radaelli respondeu: “Não temos nenhuma dúvida. Temos indícios contundentes, irrefutáveis desse crime”.
O delegado ainda adiantou que, ao final do inquérito policial, Renê será indiciado por três crimes: homicídio duplamente qualificado, ameaça – contra a motorista do caminhão de coleta de lixo –, e porte ilegal de arma de fogo. Se for condenado, o empresário pode pegar até 30 anos de prisão.
Sétimo dia
A morte do gari Laudemir de Souza Fernandes, de 44 anos, completa uma semana nesta segunda-feira (18). Em publicação nas redes sociais do advogado Tiago Lenoir, a família pede que as pessoas façam um momento de oração em memória do trabalhador, às 9h, “independentemente da religião de cada um”.
De acordo com a publicação, não é necessário estar presente fisicamente. “Cada um em seu lugar, em silêncio ou em voz alta, vamos juntos rezar o Pai Nosso, como um clamor de justiça. Que nossa fé seja ponte, que nossa oração seja força, e que a justiça e a verdade prevaleça”, disse o comunicado.
“Que sua partida nos inspire a refletir sobre a construção de um mundo mais justo, humano e fraterno”, destaca a legenda da publicação.
O crime
De acordo com a ocorrência policial, o crime ocorreu durante uma briga de trânsito, na rua Modestina de Souza, no bairro Vista Alegre, região Oeste da capital, na manhã da segunda-feira (11). Conforme testemunhas, um caminhão de lixo estava parado na rua, durante a coleta de resíduos, quando o empresário Renê Junior exigiu para que fosse liberado espaço na via para passar com o veículo que dirigia, um BYD cinza.
Irritado, ele ameaçou a motorista do caminhão com uma arma. Os garis tentaram intervir e pediram que ele se acalmasse. Foi nesse momento que ele saiu do veículo e disparou contra os funcionários, acertando Laudemir. “E aí ele entrou dentro do carro e foi embora. Não prestou socorro, nem olhou para trás, ele seguiu o caminho dele”, relatou ao BHAZ a motorista do caminhão, Eledias Aparecida.
O suspeito
Renê Junior é marido da delegada Ana Paula Balbino, da Polícia Civil de Minas Gerais. De acordo com o perfil de Renê Junior no LinkedIn, ele atua há 27 anos no setor de alimentos e bebidas. O suspeito já ocupou cargos de lideranças em empresas multinacionais.
Em 2024, Ana Paula chegou a publicar elogios à conduta do marido. No post, a delegada afirmou que Renê é um homem “justo, empático e amável”. “Gostaria de falar do homem de caráter irrefutável. Um cidadão que se preocupa com as pessoas que estão sobre sua gestão ou não. Justo, empático, amável e adorado pela família e amigos”, escreveu ela. “Cristão e patriota, é exemplo para muita gente quanto ao quesito superação”, destacou no texto.

O suspeito já tinha registros por violência doméstica e morte por atropelamento. Documentos aos quais o BHAZ teve acesso indicam um histórico de denúncias contra ele em São Paulo e no Rio de Janeiro.
O registro mais antigo identificado, até o momento, é de 2003. Na época, o empresário foi acusado de lesão corporal em um episódio na casa onde vivia, na cidade de Belford Roxo (RJ).
Já em 2011, uma mulher morreu atropelada por ele, no Recreio dos Bandeirantes, na região Oeste do Rio de Janeiro. Na época, o caso foi classificado como homicídio culposo, ou seja, quando não há intenção de matar.
Prisão
O empresário foi preso após a Polícia Militar identificar a placa do BYD que ele dirigia no momento do crime. Além disso, durante coletiva de imprensa nessa terça-feira (12), a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) destacou que testemunhas afirmaram ter visto Renê circulando próximo ao local do fato. Segundo a corporação, todas as testemunhas foram unânimes em descrevê-lo de forma consistente, o que permitiu confirmar a autoria do fato.
Renê Junior foi preso na tarde de segunda-feira (11), horas após o crime. Ele foi encontrado malhando em uma academia localizada no bairro Estoril, na região Oeste de Belo Horizonte.
Prisão preventiva
Após audiência de custódia nesta quarta-feira (13), a Justiça de Minas Gerais converteu, em preventiva, a prisão em flagrante de Renê da Silva.
A defesa havia solicitado o relaxamento da prisão por não encontrar indícios que justificassem a preventiva, além de se firmar no argumento de que o suspeito seria réu primário, teria bons antecedentes e residência fixa. No entanto, o juiz Leonardo Damasceno atendeu ao pedido do Ministério Público para a conversão do flagrante em preventiva.
Renê Junior foi autuado pelos art. 121, parágrafo 2º, incisos II e IV, do Código Penal Brasileiro, considerando motivo fútil e impossibilidade de defesa da vítima de homicídio, e pelo art. 147, por ter ameaçado a motorista do caminhão de coleta de lixo.
Suspeito nega autoria
O suspeito negou a autoria do crime. Em depoimento, ele disse que que saiu de casa nessa segunda-feira (11) e pegou trânsito incomum enquanto se dirigia até a empresa dele, localizada em Betim, onde ficou até o horário do almoço. Depois, o suspeito contou que retornou à residência, trocou de roupa e saiu para passear com os cachorros. Após isso, ele afirmou que deixou os animais em casa e se dirigiu à academia, onde foi abordado por policiais militares. De acordo a PCMG, ele negou qualquer fato extra que havia ocorrido durante o dia.
Arma utilizada
A PCMG investiga se a arma usada para matar o gari Laudemir de Souza Fernandes, em Belo Horizonte, pertence à delegada Ana Paula Balbino, casada com o empresário Renê da Silva Nogueira Júnior, suspeito do crime.
Após a prisão de Renê, policiais estiveram na casa do casal e apreenderam as duas armas da delegada Ana Paula Lamego Balbino, sendo uma de uso pessoal e outra profissional. Fontes ligadas à investigação explicam que o revólver particular tem o mesmo calibre da munição usada no crime.
Delegada investigada
Ainda conforme a PCMG, as investigações estão em fase inicial, e um procedimento administrativo disciplinar correcional foi instaurado para apurar o envolvimento da delegada. Como a arma não foi encontrada no local do crime, os policiais não podem confirmar o envolvimento de Ana Paula Balbino Nogueira. Ela permanecerá no cargo até que seja demonstrado qualquer tipo de responsabilidade pela corregedoria da Polícia Civil.
A vítima
Ao BHAZ, o sobrinho de Laudemir contou que o tio era um homem simples, trabalhador e dedicado à filha de 15 anos. “Ele fazia tudo pela filha e pela família. Mesmo casado, cuidava da mãe, deixava o cartão da empresa com ela para comprar remédios, alimentação”, afirma Pedro Henrique de Souza.
O gari morava no bairro Darcy Ribeiro, em Contagem, na Grande BH, mas visitava a mãe quase todos os dias. “Ele chegava cansado do serviço, mas tinha que passar aqui para ver todo mundo. Era um homem muito bom, que ajudava sempre”, lembrou Pedro.
A motorista Eledias Aparecida Rodrigues, que dirigia o caminhão de lixo no momento do crime, também comentou sobre o colega. À reportagem, ela destacou que Laudemir mantinha boas relações com todos no local de trabalho. “O Lau era uma pessoa maravilhosa. prestativa, fazia um café da manhã pra gente lá na empresa. Ele era uma pessoa muito bacana e que corre pelo bem”.
O post ‘Irrefutáveis’: delegado diz que provas não deixam dúvidas de que empresário matou gari em BH apareceu primeiro em BHAZ.