
Quem é a estudante de medicina que ficou em estado vegetativo após cirurgia
Um técnico de enfermagem foi indiciado por lesão corporal culposa na investigação do caso de Larissa Carvalho, estudante de medicina que entrou em estado vegetativo após cirurgia para correção da mandíbula e do maxilar em Juiz de Fora. A Polícia Civil divulgou a informação nesta segunda-feira (18).
🔍 Lesão corporal culposa ocorre quando alguém causa danos físicos a outra pessoa sem intenção, como resultado de negligência, imprudência ou imperícia.
De acordo com o delegado Luciano Vidal, não foram constatados indícios de erro médico no procedimento cirúrgico. No entanto, as apurações apontaram que, após a cirurgia, a jovem sofreu uma parada cardiorrespiratória durante o intervalo de aproximadamente 17 minutos em que esteve sob a responsabilidade do técnico de enfermagem, enquanto era conduzida até o quarto.
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Ainda conforme a Polícia Civil, durante esse período a vítima não teve a atenção e as intervenções adequadas, circunstância que contribuiu diretamente para o agravamento do quadro clínico. Os primeiros atendimentos de reanimação só foram realizados ao chegar ao quarto, quando outro profissional de saúde percebeu a situação.
“A conclusão do inquérito deixa claro que houve falha técnica relevante na condução da paciente, configurando crime previsto em lei. Nosso papel é dar transparência aos fatos e assegurar a responsabilização de quem descumpre normas essenciais no exercício profissional, sobretudo na área da saúde”, explicou o delegado.
Larissa Moraes de Carvalho, foto de arquivo
Arquivo Pessoal
A Polícia Civil ainda explicou que a pena do técnico de enfermagem pode ser maior, pois ele não seguiu regras ou normas obrigatórias da profissão.
Em nota, a Santa Casa de Misericórdia, onde a cirurgia foi realizada, afirmou que adota rigorosos protocolos de segurança. O hospital informou que não pode outros fornecer detalhes, pois o caso corre sob sigilo, e lamentou o ocorrido. Veja ao final da reportagem a nota na íntegra.
Não foi possível contatar a defesa do técnico de enfermagem, já que a Polícia Civil não divulgou o nome dele.
Processo na Justiça por danos morais
Paralelamente ao inquérito, a família entrou com um processo por danos morais no Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), no qual o Hospital Santa Casa de Misericórdia, a médica anestesista e o cirurgião-dentista bucomaxilofacial, que realizaram a cirurgia na estudante, são réus.
Como o caso tramita em segredo de Justiça, os nomes dos profissionais de saúde não foram informados. O processo segue em andamento.
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Relembre o caso de Larissa
Larissa Carvalho durante fisioterapia na casa dela em Juiz de Fora
Arquivo Pessoal
A paciente deu entrada na Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora em 16 de março de 2023. Ricardo Carvalho conta que, após o procedimento, viu a filha na maca sendo levada pelas enfermeiras em direção ao quarto.
“O olho dela estava virado, mas achei que era normal por causa da cirurgia. Fui andando na frente para abrir a porta do quarto, mas não pude entrar porque elas pediram que eu ficasse do lado de fora”.
Ele lembra que ligou para a esposa para avisar que Larissa já havia saído da cirurgia, quando percebeu uma movimentação estranha de outras pessoas. “Quando abri a porta [do quarto], vi uma pessoa fazendo massagem cardíaca na minha filha. Depois, um enfermeiro veio me tranquilizar, dizendo que ela estava bem e que os batimentos já tinham retornado”.
Segundo a família, o prontuário médico indica que Larissa saiu da sala de Recuperação Pós-Anestésica (RPA) às 17h45 e foi levada para um quarto no 9º andar, chegando ao local por volta das 18h02, já em parada cardiorrespiratória. Nesse intervalo de 17 minutos, de acordo com os familiares, ninguém identificou que algo estava errado com a paciente.
Após a parada cardiorrespiratória, Larissa passou um mês no CTI, onde desenvolveu pneumonia e infecção urinária. Depois, foi encaminhada para um quarto, onde permaneceu internada até março de 2024. Desde então, segue em tratamento domiciliar, em estado vegetativo.
Nota da Santa Casa de Juiz de Fora
“A Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora possui rigorosos protocolos de segurança do paciente, respaldados por certificações de excelência da Organização Nacional de Acreditação (ONA) e pela norma internacional ISO 9001.
A apuração dos fatos acontece judicialmente, em ação que corre sob sigilo e, em respeito ao processo legal, às partes envolvidas e à Justiça, o hospital não pode dar detalhes sobre o caso fora dos autos judiciais.
Lamentamos profundamente o ocorrido e expressamos nossa solidariedade à paciente e sua família, reafirmando nosso compromisso com a transparência e com a qualidade assistencial”.
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