SAÚDE EM QUESTÃO: Camisinha pra quê? 

Na última semana, li sobre o avanço silencioso dos casos de AIDS no Brasil, inclusive, com risco de epidemia. Conversando com amigos, fiquei estarrecida com a informação de que muitas pessoas estão deixando de usar preservativos na certeza de que estão protegidas contra doenças sexuais por adotarem a PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) como único método para relações seguras. E para piorar quem não está usando a famosa camisinha são principalmente os jovens, a geração com mais acesso à informação de todos os tempos.

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Faz tempo que nós, cientistas e profissionais da saúde, estamos vendo o avanço das infecções sexualmente transmissíveis, as ISTs. Mas por que, se temos métodos eficazes e simples para prevenção de casos e óbitos por essas doenças?

Para variar, boatos, informações imprecisas e desinformação estão por trás do crescente número de pessoas com ISTs. Por exemplo: “Não preciso usar camisinha em relacionamentos estáveis”; “O sexo oral não transmite ISTs”; “Dá para dizer que alguém tem uma IST só de olhar para ela”; “não dá para se infectar pela mesma IST duas vezes”; “Eu uso PrEP, não preciso de camisinha“!

Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs)

As ISTs são causadas por vírus (HIV, HPV, herpes simples, hepatites B e C.), bactérias (Sífilis, gonorreia, clamídia, etc) e parasitas (tricomoníase). São transmitidas, principalmente, por meio do contato sexual (oral, vaginal, anal) sem o uso de preservativos masculino ou feminino, com uma pessoa que esteja infectada. A transmissão pode acontecer também da mãe para a criança durante a gestação, parto ou a amamentação. Também podem ser transmitidas por rota não sexual, pelo contato com mucosas ou pele não íntegra (ferida) e secreções corporais contaminadas.

Essas doenças são um problema de saúde mundial e pessoas com múltiplos parceiros sexuais, jovens entre 15 e 24 anos, e indivíduos que não usam preservativos regularmente são considerados grupos de risco para estas ISTs.  Além disso, indivíduos que usam drogas injetáveis, profissionais do sexo, homens que fazem sexo com homens, e pessoas trans enfrentam maiores riscos devido a fatores sociais e de acesso à saúde.

Esclarecendo a desinformação 

#1 – Não preciso usar camisinha em relacionamentos estáveis; 

Mesmo em relações estáveis é recomendado o uso da camisinha para prevenção das ISTs. É importante que o casal faça testes regulares para detecção dessas infecções e conversem sobre a decisão de usar ou não preservativo, baseando-se nos resultados dos exames.

#2  – O sexo oral não transmite ISTs;

O sexo oral pode transmitir ISTs, embora o risco seja geralmente menor do que no sexo anal ou vaginal. ISTs podem ser transmitidas tanto da boca para os genitais quanto dos genitais para a boca durante o sexo oral e o risco aumenta quando há feridas ou lesões nestes locais.

#3 – Dá para dizer que alguém tem uma IST só de olhar para ela; 

Não é possível determinar se alguém tem IST apenas olhando para a pessoa. Muitas ISTs não apresentam sintomas visíveis e os sintomas podem ser confundidos com outras doenças. Além disso, quem está infectado pode nem imaginar que é portador do agente de uma IST. O único jeito de ter certeza se tem ou não uma IST é por meio de exames laboratoriais que são simples e indolores.

#4 – Não dá para se infectar pela mesma IST duas vezes; 

Isso é uma grande mentira! Uma pessoa pode ter a mesma IST mais de uma vez. A hepatite B, por exemplo, pode gerar imunidade após a infecção, mas outras ISTs como clamídia, gonorreia e sífilis, podem ser contraídas novamente, mesmo após o tratamento. Outras ISTs como herpes podem permanecer latentes (adormecidas),  com risco de serem reativadas no futuro. 

#5 – Eu uso PrEP e não preciso de camisinha.

Usar a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP – https://www.gov.br/aids/pt-br/central-de-conteudo/pcdts/protocolo-clinico-e-diretrizes-terapeuticas-para-profilaxia-pre-exposicao-prep-oral-a-infeccao-pelo-hiv.pdf) não elimina a necessidade do uso de preservativos. A PrEP é um medicamente quo reduz o risco de se infectar pelo HIV, quando tomado corretamente, mas não protege contra outras ISTs.

Crescimento

Nos últimos anos os dados do Ministério da Saúde têm comprovado aumento significativo e preocupante no número de casos de ISTs em jovens chegando a 64,9% na população entre 15 e 19 anos e  74,8%, entre 20 e 24 anos. Em 2024, Minas Gerais teve 4.743 casos de HIV/Aids e 23.055 casos de sífilis adquirida.  Entre 2021 e 2023, houve 62.688 casos de sífilis adquirida e 19.176 de sífilis em gestantes. Além disso, foram registrados 205 casos de hepatite A e 785 de hepatite B).

Segundo a OMS, mais de 1 milhão de infecções sexualmente transmissíveis curáveis são adquiridas todos os dias no mundo todo em pessoas de 15 a 49 anos, a maioria das quais são assintomáticas e os agentes destas doenças estão adquirindo resistências aos medicamentos utilizados no tratamento.

É importante alertar que ISTs podem deixar sequelas e, em casos graves, podem levar à morte se não forem tratadas adequadamente. Infertilidade, câncer, doenças crônicas e até mesmo a morte são consequências das ISTs não tratadas.

Camisinha pra quê? 

Para evitar o aumento no número de casos, óbitos e complicações, pois o avanço destas doenças pode causar epidemias! Preservativos masculinos e femininos estão disponíveis gratuitamente nos postos de saúde. Comportamento de risco mata, então usem e abusem das camisinhas!

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