
A empresa de fundição de aço Engemasa, em São Carlos, precisou demitir 50 funcionários por conta do tarifaço
Leandro Vicari/EPTV
A empresa de fundição de aço Engemasa, em São Carlos (SP), teve que demitir 50 funcionários neste mês por conta da queda nas exportações causada pelo tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
A sobretaxa entrou em vigor desde 6 de agosto e atinge setores como vestuário, máquinas e equipamentos, têxteis, alimentos, químicos e calçados.
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O Sindicato dos Metalúrgicos diz que não foi notificado das demissões. A Engemasa alegou que a homologação da demissão no sindicato não é obrigatória, e nem todos os funcionários são sindicalizados, além de colaboradores pessoa jurídica e terceirizados que entraram na lista de cortes.
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Demissões após tarifaço
No pátio da empresa, que tem 50 anos de história, sendo 3 décadas de atuação internacional, várias ligas metálicas estão prontas aguardando a montagem final.
Encomendadas por refinarias, petroquímicas e siderúrgicas norte-americanas, as peças foram projetadas sob medida e com até dois anos de antecedência. Contudo, o cenário mudou drasticamente com o anúncio do tarifaço e a empresa precisou demitir funcionários.
Ligas metálicas de metalúrgica estão prontas aguardando a montagem final em empresa de São Carlos
Leandro Vicari/EPTV
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“Fomos impactados tanto nos pedidos que já estavam em carteira quanto nos que ainda não foram concretizados. Isso tem um impacto direto aqui na nossa capacidade produtiva”, afirmou o diretor geral da empresa, João Baroni.
“Foi um corte em todas as áreas da empresa, porque a gente tá entendendo que a nossa capacidade produtiva vai ter que recrudescer por conta da falta dos pedidos dos Estados Unidos. Até outubro, se nada for feito, com certeza a gente vai precisar aprofundar esses cortes”, ressaltou
Exportações em queda
Com cerca de 80% da receita vinda de exportações, metade delas destinadas aos EUA, a metalúrgica tem dificuldades para redirecionar os produtos.
“Cada cliente tem sua própria especificação técnica e isso demanda com que a gente faça um projeto totalmente direcionado cliente a cliente. Eu não consigo redirecionar nem para outros clientes, nem para outros mercados. Então a gente estava com muitos projetos em andamento e agora a gente está entendendo o que vai fazer com esses produtos aqui no Brasil”, explicou Baroni.
O diretor geral da Engemasa, em São Carlos, João Baroni.
Leandro Vicari/EPTV
Impacto regional e exclusão da lista de exceções
Dados do governo federal mostram que as exportações das indústrias de São Carlos no primeiro semestre somaram 296,99 milhões de dólares, sendo 36,87% destinadas aos Estados Unidos.
No fim de julho, uma lista foi divulgada com cerca de 700 itens isentos da sobretaxa não incluiu os produtos fabricados na cidade.
O diretor do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) São Carlos, Marcos Santos, confirma o impacto regional.
“Produtos industriais, material escolar, compressores, componentes de máquinas e ligas especiais não foram incluídos na lista de imposto menor. Então, o impacto já começa a acontecer na nossa região, infelizmente, através de questão de desemprego, férias coletivas, que já tem algumas empresas anunciando”, disse.
Estratégias e medidas emergenciais
Para enfrentar o momento, Santos explica que empresas apostam em estratégias. “Um mecanismo que o empresário tem é férias coletivas. A linha para, você reduz o seu gasto com compra, deixa o estoque diminuir um pouco até que você ganhe tempo ou de vender esse produto para outro país ou de negociar melhor essa questão da tarifa nos Estados Unidos”, explicou.
“Nosso grande problema do Brasil é que a pauta de negociação não é econômica. Tem um componente aí atrapalhando que é mexer com decisão do judiciário. O Ciesp tem lutado junto ao governo estadual, federal, junto à CNI, para que a gente discuta questões econômicas, porque aí nessa seara a gente é competitivo”, afirmou o diretor.
Plano Brasil Soberano
No último dia 13 de agosto, o presidente Lula assinou a medida provisória “Brasil Soberano”, que prevê R$ 30 bilhões do Fundo Garantidor de Exportações (FGE) para socorrer empresas afetadas. O plano oferece crédito com taxas acessíveis, ampliação das linhas de financiamento e prorrogação da suspensão de tributos.
Apesar de reconhecer a importância da medida, João Baroni ressalta que ela não resolve o problema. “Pegar crédito sem recomposição de mercado não funciona. O que esperamos é valorização da cadeia produtiva nacional, principalmente para esses clientes que estão aqui, como a Petrobras, como outras empresas que estão fazendo investimento nos nossos segmentos”, concluiu.
O que diz o Sindicato dos Metalúrgicos
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Carlos, Vanderlei Strano afirmou que não foi comunicado das demissões.
“Não vimos aqui no sindicato nenhuma demissões nesse período e estamos preocupados. Tivemos aqui ontem uma empresa que anunciou férias coletivas de 350 pessoas. A negociação foi feita com o sindicato, a gente soltou uma nota em conjunto para a empresa, entendendo que o objetivo principal é a manutenção dos empregos e principalmente negociar data base dos trabalhadores metalúrgicos”, afirmou.
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