
Ana Nice é a primeira mulher negra eleita para Câmara de São Bernardo.
Arquivo pessoal
Primeira mulher negra a ocupar a presidência da Câmara Municipal de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, a vereadora Ana Nice (PT), de 51 anos, conduziu na terça-feira (19) sua primeira sessão no comando da Casa. A posse ocorreu após a operação da Polícia Federal que revelou esquema de corrupção na prefeitura.
Com a investigação, o então presidente da Câmara, Danilo Lima (Podemos), e o prefeito Marcelo Lima (Podemos), apontado como líder do esquema, foram afastados dos cargos. (Leia mais abaixo.)
Ana Nice iniciou sua trajetória política em 2016, quando fez história ao se tornar a primeira mulher negra eleita para a Câmara Municipal. Naquele ano, também foi a única mulher entre os 28 parlamentares em exercício.
Durante os três mandatos, sua atuação tem sido marcada pela defesa dos direitos humanos, pelo enfrentamento ao racismo e pela promoção da igualdade racial e de gênero.
Formada em História pela Fundação Santo André, com especialização em Economia do Trabalho e Sindicalismo pela Unicamp, ela também se tornou a vereadora mais votada da história de São Bernardo nas eleições de 2024, com 6.205 votos.
Natural de Espinosa (MG), cidade com pouco mais de 30 mil habitantes, Ana Nice é filha de lavradores e trabalhou desde a infância nas plantações de algodão. A parlamentar perdeu a mãe aos cinco anos e o pai, aos 14 anos. Em 1988, ela se mudou para São Bernardo, onde construiu sua vida.
Antes de ingressar para a política, trabalhou como metalúrgica na empresa Panex, fabricante de panelas e utensílios domésticos. Em 2002, foi eleita representante dos trabalhadores, integrando o Comitê Sindical de Empresa, no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
Ana Nice assumiu a presidência da Câmara de São Bernardo.
Arquivo pessoal
1ª sessão após operação
Após a operação que revelou o esquema de desvio de dinheiro público em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, a Câmara Municipal teve a primeira sessão nesta terça-feira (19) com pedidos de abertura de CPI e de suspensão dos salários dos vereadores afastados.
Durante a sessão, os vereadores João Viana, Shell Gomes e Luana Eloá protocolaram requerimento para suspender os salários dos parlamentares afastados, no valor de R$ 19.960,05. O grupo também pediu acesso aos contratos investigados pela Polícia Federal.
O líder do governo, o vereador Julinho Fuzari, também apresentou um pedido para abertura de uma CPI, com 19 assinaturas, para investigar as suspeitas de corrupção na Prefeitura de São Bernardo.
Danilo Lima disse, em nota, que respeita a Justiça e que não tem nada a temer. Procurada, a defesa de Marcelo Lima não se manifestou.
A TV Globo e o g1 tentam localizar a defesa de Ary de Oliveira.
Após operação, Câmara de São Bernardo tem 1ª sessão
Denúncia do Ministério Público
Além do prefeito Marcelo Lima , o Ministério Público denunciou vereadores, secretários, servidores e empresários por integrarem uma organização criminosa voltada a corrupção e lavagem de dinheiro em contratos da Prefeitura de São Bernardo do Campo.
Entre os denunciados, estão o vereador Danilo Lima Ramos, afastado da presidência da Câmara Municipal da cidade e primo do prefeito, o suplente de vereador afastado Ary José de Oliveira, e Paulo Iran, funcionário exonerado da Alesp apontado como operador financeiro do esquema.
Segundo a denúncia, o esquema criminoso começou em 2022 e durou até pelo menos a última quinta-feira (14), quando a Operação Estafeta foi deflagrada pela Polícia Federal e o MP.
Posse do prefeito Marcelo Lima (Podemos) na Prefeitura de São Bernardo do Campo, em 1° de janeiro de 2025.
Divulgação/Câmara Municipal de SBC
O esquema consistia em obter contratos públicos e desviar recursos por meio de empresas ligadas formalmente à Prefeitura e à Fundação ABC.
O Ministério Público não fixou uma multa específica na denúncia, mas pediu medidas patrimoniais para a reparação dos danos causados à Fazenda Pública de São Bernardo do Campo.
Sequestro e bloqueio de bens e valores dos denunciados, para garantir tanto o ressarcimento do dano ao erário quanto a perda dos valores provenientes da infração penal;
O valor máximo estimado para bloqueio foi de até R$ 16.913.124,00, correspondente ao montante identificado como prejuízo ao município de São Bernardo do Campo.
Além disso, o MP ressalta que esses bloqueios servem para assegurar também o pagamento de multa e custas processuais que sejam fixadas em eventual condenação.
Com o afastamento do prefeito, quem assume o comando da cidade é a vice-prefeita, Jessica Cormick, do Avante.
Arte/g1