Colégio Cândido Portinari se destaca pelo cuidado individualizado com os estudantes
| Foto: Raphael Muller / Ag. A TARDE
Esse acompanhamento e o foco no desenvolvimento socioemocional fazem parte do DNA da escola que, mesmo crescendo, preserva o compromisso de tratar cada aluno como indivíduo, valorizando a formação integral.A proposta do Thales de Azevedo também vai além da formação acadêmica tradicional e busca preparar os alunos para a vida. “Não oferecemos apenas uma educação pragmática para passar nos grandes vestibulares, mas formamos cidadãos, capacitando-os para o mundo do trabalho e para a participação ativa na sociedade”, destaca Tamara. Essa visão, diz ela, amplia o papel da escola para além das disciplinas básicas, promovendo uma educação que desenvolve competências sociais, culturais e éticas essenciais.Para a diretora do Thales, Elisângela Lopes Marques, a intencionalidade educativa está profundamente enraizada no DNA do colégio, que desde sempre problematiza questões sociais e promove debates sobre desigualdade e direitos humanos. “A escola sempre integrou essas pautas, desde trabalhos emblemáticos como o projeto ‘Brasil País Desenvolvido’, em 2008, até a recente implementação da Lei 1639, que ampliou a curricularização para incluir debates sobre raça, opressões, homofobia, capacitismo e outras formas de discriminação”, explica.A professora Emmanuelle Andrade, coordenadora de novos alunos que atua no Portinari há 29 anos, destaca o compromisso em manter viva a identidade do colégio. “Os fundadores deixaram um grande legado dentro da comunidade e hoje a gente tenta sustentar essa filosofia”, conta. Apesar das mudanças e do crescimento da instituição, essa herança permanece intacta, acrescentou ela, sustentada por uma equipe comprometida com a proposta humanista que marcou o início da escola.
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Segundo o diretor Aleci Silva, a integração do Portinari à Rede Inspira, hoje a segunda maior rede de educação do país, ampliou as possibilidades da escola sem que sua identidade fosse perdida. “A Rede Inspira valoriza e respeita a cultura e o DNA de cada escola, mesmo que as propostas pedagógicas sejam diferentes entre as unidades”, explicou ele. A rede, fundada por educadores, reúne 105 escolas em 19 estados brasileiros, e tem na Bahia um de seus principais polos.Capital humanoOutra característica que aproxima as duas unidades de ensino é o investimento no capital humano. “Há um forte sentimento de pertencimento entre todos os envolvidos — corpo docente, funcionários e estudantes — que mantém vivo o legado da escola. Esse alinhamento cria um ambiente de cooperação e engajamento que reforça a identidade do Thales como uma instituição de referência na rede pública”, diz a professora Tamara.Elisângela Lopes observa que o ensino oferecido pelo Thales está diretamente ligado ao nível de qualificação do corpo docente. Segundo ela, professores com especialização, mestrado e até doutorado não apenas dominam o conteúdo, mas também ampliam o olhar dos estudantes para além do senso comum. “Quando o professor investe na sua carreira acadêmica e volta para a sala de aula, ele faz entregas intencionais, comprometidas com a formação integral do aluno”, enfatiza.Já os professores do Portinari incorporaram as Olimpíadas do Conhecimento à rotina pedagógica de forma entusiasmada, transformando-as em um projeto coletivo. Mais do que apenas preparar os alunos para as competições, eles estimulam a curiosidade, o estudo autônomo e o gosto por desafios intelectuais. Esse engajamento se reflete nos resultados: em 2024, a escola conquistou um número recorde de medalhas, obtendo destaque nacional.Relação com o bairroSe os colégios têm muito em comum, a forma como se relacionam com o bairro apresenta características distintas. O Portinari aproveita o Parque Costa Azul como uma extensão da sala de aula. Atividades com as famílias e projetos de educação financeira reforçam a conexão com o cotidiano do bairro. Cerca de 40% dos alunos moram em bairros próximos como Costa Azul, Stiep e Imbuí.Segundo Patrícia Almeida, gerente de marketing do Portinari, o projeto de educação financeira é um exemplo de integração com a comunidade. “Do primeiro ao quinto ano, os alunos visitam o supermercado GBarbosa, aqui no bairro, para viver uma experiência prática de compras. Eles observam preços, leem rótulos, fazem cálculos, entendem a importância do troco e passam pelo caixa. É sensacional, porque nesse momento eles deixam de apenas acompanhar a família para assumir o papel de responsáveis pelas decisões de compra”, explica.A relação dos alunos do Thales com o Costa Azul é diferente. Mesmo para aqueles que não residem no bairro, o local se torna um ponto de referência no dia a dia. Pela posição estratégica, muitos estudantes conciliam a rotina escolar com estágios, empregos ou cursos preparatórios, aproveitando a facilidade de acesso e a proximidade com serviços e oportunidades da região.Para Tamara de Menezes, isso se deve tanto ao perfil diverso do corpo estudantil quanto à localização estratégica da escola. “Muitos alunos dessa escola não são do Costa Azul, mas a gente também tem alunos que moram aqui nas redondezas, nos bairros mais próximos. E isso é mais uma prova de como o Thales tem um projeto educacional de excelência, porque a gente tem alunos de vários lugares que vêm para cá”, destacou.Mesmo assim, a escola enfrenta um desafio comum na rede pública: a evasão no ensino médio. “Ainda que a escola ofereça diversos atrativos e um espaço seguro, existem questões que vão além de nós”, afirmou. Segundo Tamara, a vulnerabilidade econômica de grande parte dos estudantes impacta diretamente na permanência deles. Nesse cenário, iniciativas como o programa Pé de Meia têm sido essenciais: “É um projeto que nos auxilia a garantir ou reduzir e minimizar a evasão desses alunos”, completou.Entre pontes e murosOs estudantes do Portinari demonstram uma forte conexão afetiva tanto com a escola quanto com o bairro onde ela está inserida. Manuela Barcellano, 17 anos, aluna do terceiro ano, conta que os alunos aproveitam os horários livres para explorar e conhecer o bairro, reforçando o sentimento de pertencimento. Mas, apesar da proximidade geográfica, a relação com os alunos do Thales de Azevedo, ainda é marcada por certa distância, embora haja respeito mútuo entre os estudantes.Davi Mariano, estudante do terceiro ano do Portinari, destaca essa relação distante entre os alunos do seu colégio e os do Thales de Azevedo, que ficam praticamente , “parede com parede”. “A gente acaba segregando duas instituições. Mesmo sendo vizinhos, não há muita interação entre o Thales e o Portinari, até por diferenças de locomoção e estrutura. Não existe uma rivalidade, mas também não se cria amizade, não existe essa troca entre os dois colégios”.A relação dos estudantes do Thales também é marcada pelo sentimento de pertencimento. Filipe Celestino Farias, 16 anos, valoriza os projetos de extensão do colégio, que envolvem parcerias com universidades, órgãos governamentais e outras instituições, ampliando sua formação cultural, acadêmica e profissional.
Alunos Filipe Celetive Farias, Clara Wokaman Silva e Richard Almeida com as professoras Tamara Menezes e Elisangela Lopes no Colégio Thales de Azevedo.
| Foto: Raphael Muller / Ag. A TARDE
Apesar da convivência diária com o Portinari, ele observa pouca interação entre as duas escolas. Para Filipe, o Thales se diferencia pelo engajamento político que estimula nos alunos, além das ações sociais e culturais.Apesar de serem referências em suas respectivas redes e vizinhos, Thales de Azevedo e Portinari mantêm uma distância que vai além dos muros das instituições. Alunos e professores das duas escolas raramente interagem ou desenvolvem projetos em conjunto, refletindo uma desconexão que contrasta com a proximidade física e o potencial para trocas enriquecedoras. Esse cenário evidencia desafios ainda presentes na integração entre as redes pública e privada, mesmo em contextos em que ambas buscam contribuir para a formação integral dos estudantes.