A Agência Internacional de Energia (AIE) emitiu um alerta contundente sobre o risco de o mercado global de petróleo enfrentar a maior superoferta desde a crise da Covid-19. Segundo o relatório de agosto da agência, o crescimento da demanda global segue frustrando expectativas, enquanto a produção atinge máximas plurianuais — criando um cenário de acúmulo recorde de estoques até 2026.
Demanda enfraquecida e revisões sucessivas da AIE
A AIE reduziu pela sexta vez no ano suas projeções de crescimento da demanda. Agora, a agência estima aumento de apenas 680 mil barris por dia (bpd) em 2025 e 700 mil bpd em 2026. O corte acumulado nas projeções desde o início de 2025 já soma 350 mil bpd. O consumo fraco em grandes economias, como China, Brasil, Egito e Índia, foi um dos principais fatores que motivaram essa revisão.
Mesmo com a recuperação do consumo de combustível de aviação nos EUA e Europa, o desempenho ainda não é suficiente para compensar a desaceleração generalizada.
Produção dispara e reverte cortes da Opep+
Por outro lado, a oferta global de petróleo segue crescendo. A produção da Opep+ — que inclui países como Arábia Saudita, Rússia e Emirados Árabes Unidos — aumentará 547 mil bpd em setembro, revertendo os cortes implementados desde novembro de 2023. Ao final do terceiro trimestre, os cortes de 2,2 milhões de bpd terão sido totalmente anulados.
Mas a maior parte da nova oferta vem de fora do cartel. EUA, Canadá, Guiana e Brasil devem impulsionar o crescimento, com destaque para a produção de líquidos de gás natural e campos offshore. A expectativa da AIE é de que a produção não-Opep+ cresça 1,3 milhão de bpd em 2025 e 1 milhão de bpd em 2026.
Destaque: Em 2026, o Brasil deve se tornar o maior responsável pelo crescimento da produção fora da Opep+, com aumento de 160 mil bpd, superando os EUA (130 mil bpd).
Estoque de petróleo cresce em ritmo alarmante
O desequilíbrio já se reflete nos estoques globais, que subiram 1,5 milhão de bpd no segundo trimestre de 2025. A China liderou com 900 mil bpd de acúmulo em petróleo bruto, seguida pelos EUA com igual volume em gás líquido.
Indicador | Valor atual/projeção |
Crescimento da demanda (2025) | +680 mil bpd |
Crescimento da demanda (2026) | +700 mil bpd |
Crescimento da oferta (2025) | +2,5 milhões bpd |
Estoques no 2º trimestre (2025) | +1,5 milhão bpd/dia |
Estoques esperados em 2026 | +3 milhões bpd/dia (recorde) |
Preço do Brent previsto (2026) | US$ 51 por barril (anteriormente US$ 58) |
A EIA (Agência de Informação de Energia dos EUA) confirma a perspectiva pessimista: os estoques devem crescer mais de 2 milhões de bpd entre o final de 2025 e início de 2026, forçando cortes de produção para equilibrar o mercado.
Preços pressionados e tensões geopolíticas
Apesar do excesso de oferta, os preços do petróleo ainda não desabaram totalmente. Os contratos futuros do Brent estavam em alta de 0,6% nesta quinta-feira, cotados a US$ 67,27. O WTI subia 0,7%, a US$ 63,16, mas ambos seguem distantes dos patamares históricos.
Um fator de suporte tem sido o funcionamento quase pleno das refinarias no verão do hemisfério norte, que ajudou a absorver parte da oferta excedente.
No entanto, a recente cúpula entre Donald Trump e Vladimir Putin no Alasca adicionou mais incertezas. A decisão dos EUA de não impor sanções a compradores de petróleo russo, como China e Índia, aumenta a pressão sobre os preços ao manter os fluxos russos ativos no mercado.
Divergência entre AIE e Opep
Enquanto a AIE projeta demanda de 104,4 milhões de bpd em 2026, a Opep aposta em 106,5 milhões. Para este ano, a Opep mantém previsão de crescimento de 1,29 milhão de bpd — quase o dobro do número da AIE. A diferença escancara o desacordo sobre a resiliência do consumo global e acentua a incerteza dos investidores.
Cenário para 2026: alívio ou risco?
O mercado caminha para um teste de resistência: preços em queda e estoques em alta desafiam países produtores, especialmente aqueles com custos operacionais mais elevados. Ao mesmo tempo, os consumidores podem ser beneficiados com energia mais barata em meio à estagnação econômica global.
Analistas concordam que, salvo uma guinada positiva inesperada na demanda ou novos cortes coordenados pela Opep+, o excesso de petróleo deve permanecer como o grande protagonista até 2026.
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