
Início das obras de fundação do laboratório Orion, primeira estrutura de biosseguranca máxima da América Latina, em Campinas (SP)
Fernando Evans/g1
Considerado único no mundo e capaz de combater futuras pandemias, o Orion, laboratório de biossegurança máxima (NB4) em construção no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas (SP), ganhou um capítulo importante nesta quinta-feira (21), com o início das obras de fundação.
Ajustes feitos com a experiência internacional da equipe que conduz o projeto, que visitou outras estruturas que trabalham patógenos capazes de causar doenças graves, o primeiro NB4 brasileiro ficou maior (de 20 mil para 29 mil metros quadrados), mais caro (subiu de R$ 1 bilhão para R$ 1,5 bilhão) e viu o prazo de construção pular de 2026 para 2027.
🔎 Possuir um laboratório de biossegurança máxima (NB4) oferece condições ao país de monitorar, isolar e pesquisar os agentes biológicos para desenvolver métodos de diagnóstico, vacinas e tratamentos.
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Uma característica que torna o Orion “único no mundo” é o fato de que pela primeira vez um complexo laboratorial de máxima contenção biológica estará conectado a uma fonte de luz síncrotron, o Sirius – entenda como funciona abaixo.
Maria Augusta Arruda, diretora do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), explica que isso permitirá aos cientistas “imagens indisponíveis no mundo de hoje”.
“Vamos poder aliar as tecnologias que já temos aqui no CNPEM, bem consolidades, dentro de um ambiente de máxima contenção, podendo ver interações em tempo real em nível celular, o que será uma quebra de paradigma para a ciência do Brasil e do mundo”, explica.
Projeto otimizado
Antônio José Roque da Silva, diretor-geral do CNPEM, explica que a otimização do projeto ocorreu por que houve um aprendizado com as visitas em estruturas de máxima contenção de diversos locais do mundo, o que atrasou o início das fundações.
“Daqui a alguns meses, a gente deve iniciar a parte de ir para cima, e a expectativa é que até o final de 2027 nós tenhamos a conclusão de toda a parte civil. Enquanto isso, nós já estamos lá dentro do Sirius iniciando a construção das três linhas de luz, para eventualmente que essas duas coisas se juntem, para que você possa estar em breve fazendo experimentos que serão únicos no mundo”, diz.
Silva explica que essa troca de experiências fez com que o projeto incorporasse a instalação de equipamentos, ampliação de estrutura física e atenção para fluxos de trabalho, mudanças que colaboraram para aumento do orçamento inicialmente previsto em R$ 500 milhões.
“Aquele R$ 1 bilhão era o valor que a gente imaginava, que incluiria as linhas de luz, equipamentos e o prédio como um todo. A gente hoje estima que isso deve ficar em R$ 1,5 bilhão, isso inclui algumas variações também em dólar e inflação, que impactaram o que foi orçado lá para trás, e um aumento de área em relação ao que era o projeto inicial”, justificou o diretor do CNPEM.
Antônio José Roque da Silva conta que uma pergunta recorrente durante visitas a outros NB4s em operação no mundo era: “se você fosse fazer de novo, o que faria diferente?”
“A gente quer aprender com o que os outros erraram. E isso fez com que a gente tivesse que reprojetar algumas coisas, e isso impactou, obviamente, o tempo de projeto e o custo do projeto”, diz.
Entre as mudanças está, por exemplo, o tamanho do laboratório NB2, que também fará parte do complexo, e que é essencial para a preparação de materiais que serão estudados na conteção máxima, como a cultura de células.
“A recomendação mundial é que ele fosse três a quatro vezes maior que a soma do NB3 e do NB4. Então houve um acréscimo, inclsive do NB3. E aí a gente também teve que detalhar e pensar muito bem nos fluxos de trabalho, porque nenhum lugar do mundo tem de preparar amostras do NB4 para levá-la para frente de uma linha de luz. Isso, de fato, é um trabalho expecional, e demonstra a capacidade e competência do nosso pessoal”, destaca o diretor do CNPEM.
Início das obras de fundação do laboratório Orion, primeira estrutura de biosseguranca máxima da América Latina, em Campinas (SP)
Fernando Evans/g1
Futuras pandemias
Maria Augusta Arruda, diretora do LNBio, explica que um complexo como o Orion envolve profissionais de diferentes áreas, e que as pesquisas que poderão ser desenvolvidas no local serão essenciais para uma resosta efetiva da ciência brasileira para possíveis patógenos do futuro.
Muitas pessoas falam, não para que fiquemos alarmados, mas para que nos preparemos. Não é uma questão ‘se vai acontecer uma próxima pandemia’, mas quando vai acontecer a infecção por um patógeno que pode levar a uma pandemia. Então, ter uma estrutura como essa é de suma importância para que a gente consiga se preparar, controlar, realmente dar suporte ao sistema de saúde”, diz.
Em nota, a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, destacou que o início das fundações do Orion representa “um marco histórico para a ciência do Brasil”.
“Estamos falando de um laboratório de máxima contenção biológica (NB4), inédito na América Latina e que vai colocar o país em um patamar de liderança, sendo o primeiro do mundo conectado a uma fonte de luz síncrotron, o Sirius. O laboratório será essencial para o desenvolvimento de pesquisas em áreas como biossegurança, saúde pública e controle de pandemias”.
Como será o Orion?
🧪 O complexo laboratorial de máxima contenção biológica representa um avanço para o Brasil, que permitirá pesquisas com patógenos capazes de causar doenças graves e com alto grau de transmissibilidade (das chamadas classes 3 e 4) – estrutura essa que não existe até hoje em toda a América Latina.
💉Possuir um laboratório de biossegurança máxima (NB4) oferece condições ao país de monitorar, isolar e pesquisar os agentes biológicos para desenvolver métodos de diagnóstico, vacinas e tratamentos.
🧫No caso do Brasil, mais do que armazenar e manipular essas amostras biológicas, o laboratório de biossegurança máxima terá acesso exclusivo a três linhas de luz (estações de pesquisa) do Sirius, o que não existe em nenhum outro lugar do mundo.
🌟 É por conta dessa conexão com o Sirius que vem o nome do projeto, Orion, em homenagem à constelação que possui três estrelas apontadas para a estrela que batizou o acelerador de partículas brasileiro.
👩🔬 O projeto prevê a capacitação de cientistas brasileiros para lidar com agentes infecciosos desses tipos. Essa formação já integra o custo do projeto, atualizado para R$ 1,5 bilhão.
🏗 O complexo laboratorial terá cerca de 29 mil metros quadrados, e sua construção está prevista para ficar pronta ao final de 2027. Após essa etapa, o Orion passará pelo chamado comissionamento técnico e científico, e também por certificações internacionais de segurança, para que possa entrar em operação regular.
O Orion será único no mundo, uma vez que o complexo laboratorial de máxima contenção biológica estará conectado ao Sirius, fonte de luz síncrotron de 4ª geração
CNPEM/Divulgação
Vírus circulantes na mira
De acordo com o CNPEM, existem cerca de 60 laboratórios de máxima contenção no mundo, com estrutura e certificados para manipular amostras biológicas classificados como “classe 4” – nenhum deles na América do Sul, Central ou Caribe.
🥼 E o que isso permite? Para se ter uma ideia, o primeiro e único vírus desta categoria já identificado no Brasil, o Sabiá (SABV), que causa a febre hemorrágica brasileira, doença diagnosticada em humanos pela primeira vez na década de 1990, tem amostras isoladas armazenadas no exterior.
Pesquisas mais aprofundadas sobre a doença não são realizadas hoje em solo brasileiro por falta de infraestrutura adequada. Segundo Antônio José Roque da Silva, diretor-geral do CNPEM, a doença teve recentes notificações.
😷 Veja exemplos de outros vírus que poderão ser manipulados no Orion e que são circulantes na América Latina:
Junín: causador da febre hemorrágica argentina
Guanarito: causador da febre hemorrágica venezuelana
Machupo: causador da febre hemorrágica boliviana
No mundo, estruturas como essa são as responsáveis por análises e estudos de vírus como o Ebola, por exemplo, que são mais perigosos que o Sars-Cov-2, causador da Covid-19.
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E a própria Covid-19 serve de alerta sobre a necessidade de monitoramento de agentes conhecidos, em constante mutação, e novas ameaças – crescimento populacional e desmatamento, por exemplo, são apontados como fatores de desequilíbrio em áreas que podem ser reservatórios naturais de doenças ainda desconhecidas.
Sirius, laboratório de luz síncrotron de 4ª geração, reforça a ciência no enfrentamento do novo coronavírus
Nelson Kon
O que é o Sirius?
Considerado o principal projeto científico brasileiro, o Sirius é um laboratório de luz síncrotron de 4ª geração, que atua como uma espécie de “raio X superpotente” que analisa diversos tipos de materiais em escalas de átomos e moléculas.
❓ Como funciona o Sirius? Para observar as estruturas, os cientistas aceleram os elétrons quase na velocidade da luz, fazendo com que percorram o túnel de 500 metros de comprimento 600 mil vezes por segundo. Depois, os elétrons são desviados para uma das estações de pesquisa, ou linhas de luz, para os experimentos.
🧲 Esse desvio é realizado com a ajuda de ímãs superpotentes, e eles são responsáveis por gerar a luz síncrotron. Apesar de extremamente brilhante, ela é invisível a olho nu. Segundo os cientistas, o feixe é 30 vezes mais fino que o diâmetro de um fio de cabelo.
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