
Jovem realizou sonho de ser mãe após mãe dar à luz a neta
A esclerodermia sistêmica é uma doença rara, autoimune e crônica que provoca o endurecimento da pele e pode comprometer órgãos vitais, como pulmões, rins e coração. Em Birigui (SP), a condição mudou completamente a vida de Jéssica Mendonça, de 29 anos, que precisou adaptar a rotina ao tratamento e teve o seu maior sonho contraindicado pelos médicos: ser mãe.
Diante desse cenário, a mãe de Jéssica, Luciani Pereira Mendonça, se ofereceu para gerar a neta Hadassa, que nasceu no dia 23 de julho, após um processo de fertilização in vitro.
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Segundo o Ministério da Saúde, a doença afeta principalmente mulheres, em uma proporção de três a oito casos para cada homem diagnosticado. A causa exata é desconhecida, mas a ciência já aponta que sua evolução está ligada a uma tríade: disfunção imunológica, alterações nos vasos sanguíneos e fibrose.
“O que chamamos de esclerodermia sistêmica é uma doença autoimune do tecido conjuntivo. Ela se diferencia de outras doenças autoimunes por apresentar três manifestações principais: disfunção vascular, autoimunidade e fibrose progressiva. Além do comprometimento da pele, podem ser afetados músculos, articulações e órgãos internos, como pulmões, coração, aparelho gastrointestinal e rins”, explica o Prof. Dr. João Roberto Antonio, de 87 anos, professor emérito da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp).
Na esclerose sistêmica, a pele é afetada na região das mãos, antebraços, pernas, face e pescoço
Reprodução/MD.Saúde
No caso de Jéssica, o diagnóstico chegou há mais de dez anos. O primeiro sinal foi o fenômeno de Raynaud, que provoca mudança de cor e dor nos dedos durante o frio. Em seguida, vieram dores nas mãos, dificuldade de movimentação e, depois, complicações mais graves, como a fibrose pulmonar.
“Quando descobri o diagnóstico, não sabia nada sobre a doença e fiquei muito assustada. Era o início da faculdade e minha preocupação com a saúde era enorme. Sempre contei com o apoio do meu namorado e da minha família, que me incentivaram a ter calma e confiar em Deus”, lembra.
A confirmação da doença é feita a partir de exames clínicos e laboratoriais. “Os primeiros sinais que devem chamar a atenção são o endurecimento e espessamento da pele, especialmente nos dedos, além do fenômeno de Raynaud. Quanto mais precoce o diagnóstico, maior a chance de controlar a evolução da doença e evitar danos irreversíveis”, reforça o especialista.
Jéssica Mendonça e o marido, Jéfferson Hamilton Bernardes
Reprodução/Instagram
Impacto no dia a dia
Por ser uma condição sem cura e que demanda tratamento contínuo, a esclerodermia sistêmica também traz impacto emocional e social. Jéssica precisou se afastar do trabalho na área da engenharia civil e adaptar sua rotina, contando com o apoio da família.
“A esclerodermia pode limitar profundamente a vida do paciente, dependendo da gravidade. Alguns conseguem manter uma rotina quase normal, mas outros enfrentam dificuldades até nas atividades mais básicas”, ressalta o médico João Roberto Antonio.
“É uma doença que vai te limitando aos poucos, mas, com fé e força, a gente encontra formas de seguir”, conta Jéssica.
Um dos pontos mais delicados para pacientes em idade fértil é a gestação. Por conta do risco aumentado de complicações e dos medicamentos utilizados no tratamento, muitas mulheres com esclerodermia sistêmica não podem engravidar com segurança.
“A gestação em mulheres com esclerodermia sistêmica apresenta riscos significativos, principalmente quando há comprometimento pulmonar, cardíaco ou renal”, explica o médico.
Luciani se ofereceu para ser a barriga solidária da filha e, após uma série de exames e por meio da fertilização in vitro, engravidou de sua neta Hadassa
Arquivo pessoal
Foi o que aconteceu com Jéssica. O laudo médico foi categórico: uma gravidez poderia colocar em risco as vidas dela e do bebê. Diante desse cenário, a mãe de Jéssica, Luciani Pereira Mendonça, de 50 anos, se ofereceu para gerar a neta. Após um processo de fertilização in vitro, Hadassa nasceu no fim de julho deste ano, saudável e cercada pelo amor da família.
“Quando a minha mãe se ofereceu para ser a nossa barriga solidária, foi uma alegria muito grande. Eu sabia que era a chance de poder ser mãe sem interromper o meu tratamento, sem correr risco de vida. Foi um milagre”, afirma Jéssica.
Convivência com a doença
Há tratamentos capazes de controlar sintomas, retardar a progressão e prevenir complicações graves da doença.
“O tratamento é sempre individualizado. Utilizamos medicamentos variados, como imunossupressores e vasodilatadores, de acordo com a forma da doença e os órgãos acometidos. Além disso, pesquisas recentes vêm trazendo novas opções terapêuticas”, explica João Roberto.
Hadassa junto com os pais, Jéssica e Jéfferson
Arquivo pessoal
Hoje, Jéssica segue em acompanhamento médico, tomando os medicamentos indicados e adaptando sua rotina para cuidar da própria saúde e da filha.
“Meu tratamento está estável e a doença praticamente estacionou. Faço acompanhamento regular e sigo todas as medicações. O que me fortalece é a fé em Deus e o apoio da minha família, principalmente do meu marido, que cuida de mim em todos os detalhes”, finaliza.
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Entenda como avó gestou a própria neta após filha ser diagnosticada com esclerodermia sistêmica.
*Colaborou sob supervisão de Eric Mantuan e Henrique Souza
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