Mais de dez dias após a morte do gari Laudemir de Souza Fernandes, em Belo Horizonte, a investigação sobre o caso enfrenta um obstáculo técnico. A Polícia Civil de Minas Gerais cometeu um erro ao solicitar acesso aos dados digitais do carro usado no crime, o que impediu a obtenção de informações na quebra de sigilo do veículo.
Em um pedido enviado à Justiça nesta quinta-feira (21), a polícia solicitou a correção de um ofício anterior. O documento revela que um número de identificação do veículo (IMEI) foi enviado incorretamente, o que, segundo a peça, “inviabiliza a obtenção das informações junto à empresa fabricante [do carro] e à operadora [de internet do veículo]”.
Com isso, a polícia agora pede que novos ofícios sejam expedidos para a montadora BYD do Brasil e para a operadora Claro, desta vez com o dado correto, para que a investigação possa avançar.
O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) já se manifestou favorável à correção, e agora a polícia aguarda uma nova autorização judicial para reenviar a solicitação às empresas.
O que a polícia quer saber?
A polícia busca ter acesso a um panorama completo do que aconteceu dentro e fora do veículo no dia do crime, 11 de agosto. A quebra de sigilo telemático visa obter dados do período entre 7h e 16h, incluindo:
- Rotas percorridas pelo sistema de rastreamento;
- Comandos de voz dados ao sistema do carro;
- Velocidade desenvolvida;
- Registros de chamadas telefônicas;
- Possíveis gravações de vídeo das câmeras internas e externas do veículo.
O primeiro pedido de quebra de sigilo dos dados do carro e do celular do suspeito, Renê da Silva Nogueira Junior, foi feito e autorizado pela Justiça no dia 14 de agosto. Na mesma data, o juiz deu aval para a extração de dados do celular de Renê.
Quatro dias depois, em 18 de agosto, a Justiça enviou o ofício para a montadora e a operadora, dando um prazo de cinco dias para a entrega das informações. No entanto, com o envio do número incorreto, os dados não puderam ser extraídos, forçando a polícia a refazer o pedido nesta quinta-feira. A reportagem procurou a Polícia Civil para comentar sobre o caso e aguarda retorno.
O carro usado por Renê no dia do crime é um modelo SUV, de luxo, avaliado em cerca de R$ 190 mil. Ele pertence à esposa do réu confessor, a delegada da Polícia Civil de Minas Gerais Ana Paula Lamego Balbino.
O crime
De acordo com a ocorrência policial, o crime aconteceu na rua Modestina de Souza, no bairro Vista Alegre, região Oeste da capital, na manhã do dia 11 de agosto deste ano. Conforme testemunhas, um caminhão de lixo estava parado na rua, durante a coleta de resíduos, quando o gestor comercial Renê Junior exigiu para que fosse liberado espaço na via para passar com o veículo que dirigia, um BYD cinza.
Irritado, ele ameaçou a motorista do caminhão com uma arma. Os garis tentaram intervir e pediram que ele se acalmasse. Foi nesse momento que ele saiu do veículo e disparou contra os funcionários, acertando Laudemir, que não estava envolvido na confusão. “E aí ele entrou dentro do carro e foi embora. Não prestou socorro, nem olhou para trás, ele seguiu o caminho dele”, relatou ao BHAZ a motorista do caminhão, Eledias Aparecida.
Renê Junior é marido da delegada Ana Paula Balbino, da Polícia Civil de Minas Gerais. A PCMG confirmou que a arma usada no homicídio está registra em nome da delegada Ana Paula Balbino, sendo de uso pessoal da policial. Renê alegou que pegou a pistola sem o consentimento da companheira e afirmou que ela não soube do crime. Mesmo assim, a servidora é alvo de uma investigação da Corregedoria-Geral da Polícia Civil.
No dia 18 de agosto, Renê confessou o crime. Ele disse que usou a arma para tentar se defender. E alegou que não percebeu ter atingido o gari.
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