Lei que proibiu celulares nas escolas do Rio gera melhora no aprendizado, aponta Stanford


Escola do Rio de Janeiro (RJ)
Reprodução/Jornal Nacional
Quando o sinal toca, não é hora de pegar o celular.
Desde o primeiro dia do ano letivo de 2024, o uso de celulares nas escolas das redes pública e privada do Rio de Janeiro está restrito.
A mudança, pioneira, virou lei em todo o país no início deste ano.
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No começo, foi um desafio.
“Tinha muita dificuldade de conversar com as pessoas, de olhar olho no olho, então qualquer mensagem era mais uma confiança pra mim”, diz Giulia Kahn Massionilo, estudante.
Mas a restrição virou aprendizado — e já deu resultado.
“Eu melhorei muito na escrita, as minhas notas, que eram terríveis, eu melhorei até nos meus poemas”, complementa Giulia Kahn Massionilo, estudante.
“A minha nota em matemática eu consegui melhorar bastante também sem o celular”, diz Poliany Campello, estudante.
Um levantamento inédito da Universidade de Stanford, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação, analisou as notas de 196 mil alunos do sexto ao nono ano em mais de 300 escolas.
O aumento médio foi de 25,7% no aprendizado de matemática e de 13,4% em português.
“Só pra ter uma noção, em matemática, é como se os alunos tivessem aprendido um bimestre a mais no ano do que eles teriam se não tivesse tido a proibição do uso de celulares”, afirma Renan Ferreirinha, secretário municipal de Educação do Rio.
A pesquisa também ouviu os diretores das escolas públicas.
E eles contaram que não foi só o desempenho na sala de aula que melhorou.
O ambiente escolar voltou a ter mais movimento, trocas e sons.
“A reclamação da vizinhança. Esse é o nosso maior problema hoje em dia. As crianças passaram a participar mais das brincadeiras. É a escola sendo escola, diz Cláudia Maria Narcizo, diretora de escola.
“Socialização. As pessoas começaram a conversar mais. Antes também só era no telefone, mexendo no telefone, jogando”, diz a estudante Alexandra Nascimento.
“Eu tô mais na música. Eu tô tocando violão. Antigamente, eu não gostava muito de violão não”, diz o estudante Luis Carlos Silva.
Para os pais, a rotina também mudou.
“As crianças saem suadas, cansadas, ofegantes. Isso é coisa de criança que brinca saudável. Telefone não te deixa dessa maneira, telefone te deixa estático”, diz Roni Rei, auxiliar técnico de futebol.
Pela frente, as escolas têm o desafio de usar menos e usar melhor.
“O uso do celular não foi pra zero. Tá longe disso, e os desafios são tanto maiores quanto mais velhos os alunos. No ensino médio, por exemplo, é muito difícil reduzir o uso, não só no Brasil, mas no mundo. É importante que a comunidade escolar saiba: quanto mais todo mundo unir força pra reduzir o uso, maiores os ganhos de aprendizagem a gente vai observar”, diz Guilherme Lichand, professor de Educação na Universidade de Stanford.
“Passar um tempo sem o telefone melhora tanto aqui dentro quanto fora. É uma mudança interna e externa, de certa forma. E acaba sendo mágico.”, diz estudante.
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