Casas de chá em Salvador
| Foto: Raphael Muller / Ag. A TARDE
Entre os empreendedores que arriscaram incluir o matcha no cardápio, a proprietária da Moma Cookie Lab, Amanda Lemos, talvez tenha sentido mais de perto o risco. Na pequena loja de cookies no bairro da Pituba, ela estreou em 2023 o Chinatown (R$ 17), um cookie com massa verde de matcha e pedaços de chocolate branco. Meses depois, veio o Chinaberry (R$ 19,50), que acrescenta framboesa in natura.“O matcha já era muito difundido fora do país, mas aqui não é o perfil de sabor do soteropolitano”, diz Amanda. “É um público específico e difícil, e ainda tem gente que não é aberta ao novo”. Ela conta que precisou criar uma receita que não causasse estranheza. “Fui teimosa, mas o cliente da Moma confia em mim”, explica Amanda.
Nunca foi e nem chegou perto de ser o nosso cookie mais vendido.
Amanda Lemos – proprietária da Moma Cookie Lab
Mesmo com o status de “ingrediente da moda”, ela considera uma ousadia apostar no matcha. “Nunca foi e nem chegou perto de ser o nosso cookie mais vendido”, diz. O segredo, segundo ela, está na lógica das combinações: chocolate branco para suavizar, ou frutas ácidas para equilibrar. “O matcha é muito fácil de trabalhar: um pouquinho e a mágica acontece”.Para beberSe nas confeitarias o matcha ainda caminha a passos calculados, no universo das cafeterias ele já ganhou fôlego. A The Coffee, rede curitibana que chegou a Salvador há pouco mais de um ano e meio, oferece uma lista extensa: Matcha Vanilla Latte, Matcha Tonka Latte (com cumaru), Ichigo Matcha (com morango), Matcha Tonic, frappés e até croissants recheados com creme do chá verde japonês (R$ 19,50). Os preços das bebidas partem de R$ 16,90 e chegam até R$ 23,80.Na unidade da Praça Ana Lúcia Magalhães, comandada pela sócia Milena Bahia, a novidade que mais chamou a atenção dos clientes foi o picolé de Ichigo Matcha (R$ 17), desenvolvido em parceria com a sorveteria baiana Almalea. “Queríamos algo refrescante para o verão, e o picolé foi unanimidade nos testes”, diz Milena. O doce tem sabor de morango e é coberto com chocolate branco e matcha. “Até quem não gosta de matcha tem aprovado”, garante a sócia.A cafeteria aposta em diferentes intensidades do ingrediente para agradar públicos variados. “No frappé e no picolé, o sabor é mais suave, já no croissant, é mais intenso. Assim conseguimos conversar tanto com quem já é fã quanto com quem está conhecendo agora”, afirma Milena.FlexibilidadeNo Japão, o matcha é usado há séculos em cerimônias e na culinária. A popularidade cresceu no Ocidente impulsionada por duas frentes: o apelo visual do verde vibrante que rende fotos perfeitas para redes sociais, e a associação a benefícios à saúde, como antioxidantes e cafeína de liberação lenta.No Brasil, São Paulo saiu na frente, mas cidades como Salvador já mostram que há espaço para o ingrediente, mesmo com resistência inicial. “Aqui, o consumidor está mais aberto a experimentar sabores menos convencionais”, avalia Jeanne.
Ficamos anos com uma confeitaria padronizada, todo mundo vendendo as mesmas receitas. Agora, vejo um público que busca o novo.
Jeanne Garcia – Dona da confeitaria Jeanne Garcia
Essa curiosidade, no entanto, precisa vir acompanhada de um trabalho de educação e qualidade, como opina Amanda. “Não adianta usar um matcha ruim”, diz. “Não dá para ignorar que é um sabor de nicho”. Milena concorda que o processo de adaptação ao paladar local é gradual. “Tem que vir aos poucos, com produtos que tenham a cara da loja, não é sobre colocar matcha em tudo, mas escolher onde ele realmente brilha”.As três empreendedoras apostam que o matcha não é uma moda passageira. “Veio para ficar”, crava Jeanne. Para a proprietária da Moma Cookie Lab, é só questão de tempo para que o chá verde japonês esteja totalmente incorporado à cultura local.Amanda, que já tem bebidas testadas há mais de um ano, estuda formas de agilizar o preparo para incluir no menu. “O sabor herbal do matcha performa muito bem”, opina. Já Milena, promete manter a vitrine da cafeteria sempre com novidades verdes e seguir com o picolé que tanto chama a atenção do público. “Ficamos conhecidos como a ‘The Coffee do picolé de matcha’ e isso nos enche de orgulho”.