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Caso da comerciante Cecília Costa, que mora no bairro do Garcia e vai semanalmente à Feira de Santana. Ela costuma se deslocar usando carro de aplicativo, mas acha que a corrida para ir e voltar a Águas Claras vai ficar cara. “Para mim não será bom por isso”, afirma Cecília, que no entanto avalia que a atual rodoviária “está defasada e não oferece um bom serviço”.O casal Ivana Carolina Machado e Edenilton Nascimento está dividido. Estudantes do doutorado no Centro de Estudos Afro-Orientais da Ufba, eles se deslocam com frequência da cidade de Maracás para Salvador.
Casal Ivana e Edenilton se desloca com frequência da cidade de Maracás para Salvador
| Foto: José Simões/Ag A TARDE
Enquanto Ivana teme perder a comodidade de estar próxima do centro e de um grande shopping, Edenilton aposta que a conexão entre ônibus, metrô e VLT vai ser muito prática. “A expectativa é boa e acho que vai beneficiar muita gente”, torce Edenilton.O motorista de táxi Ivanildo Figueiredo acha a mudança necessária. “As coisas mudam. Essa rodoviária já tem 50 anos, o acesso ficou difícil por conta dos engarrafamentos e nas grandes festas ela já não comporta o grande movimento de pessoas”, afirma o senhor de 72 anos, que presenciou a inauguração do espaço em 1974.Na época, Ivanildo era motorista de ônibus, tendo trabalhado vinte anos na empresa Regional e vinte na Águia Branca. Só depois de aposentado começou a ser taxista e atualmente está na Coometas. “Era difícil chegar aqui. No começo só existia a rodoviária e o Iguatemi”, diz, referindo-se ao shopping inaugurado em 1975. Animado com a mudança, ele diz que o conceito de distância é relativo. “É distante para quem? Porque, se é distante para quem mora na Graça, é perto para quem mora em Águas Claras”.Novo eixoConsultor na área de transporte terrestre, Lázaro Sanches afirma que em Salvador, como em outras cidades, a localização da rodoviária acaba refletindo o sentido da expansão urbana. Nos anos 70, com influência das novas avenidas de vale, consolidou a centralidade econômica e financeira da área, que se adensou rapidamente.“Esse primeiro deslocamento respondeu à reestruturação urbana, com a definição do vetor norte de expansão, marcado pela construção da Avenida Luís Viana (Paralela), inaugurada também em 1974, se tornando o eixo fundamental de articulação da cidade”, contextualiza Lázaro, que é mestrando no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e Urbano da Unifacs.Ele acredita que o movimento em direção a Águas Claras segue uma lógica semelhante, apesar da diferença de contexto, com maior potencial de crescimento na região metropolitana, impulsionada pelo metrô, pela expectativa do VLT e pela expansão dos fluxos pela BR-324. Nesse sentido, reflete, a nova rodoviária não apenas acompanha, mas também induz transformações espaciais no território, ao criar novos fluxos e modificar a paisagem e a rotina das pessoas.“Esse movimento reposiciona Águas Claras no mapa da cidade, transformando um território periférico em uma nova centralidade urbana”, pontua Lázaro. Ele chama atenção, no entanto, para a importância da adequação da infraestrutura viária, para evitar a transferência dos problemas de mobilidade para o entorno da nova rodoviária. “A área escolhida é estratégica para o fluxo da cidade, concentrando o principal acesso rodoviário da capital e recebendo intenso tráfego de caminhões”.