Com coração cheio de sonhos, estudante da rede pública de Presidente Prudente embarca para intercâmbio no Reino Unido


Isabelle Pelegrino Silva, de 16 anos, de Presidente Prudente (SP) fará intercâmbio em Brighton, no Reino Unido
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Com o coração cheio de sonhos e, na bagagem, a história de todas as mulheres que lutaram pelo estudo e de sua família, Isabelle Pelegrino Silva, de 16 anos, vai cruzar o oceano para viver um intercâmbio gratuito em Brighton, no Reino Unido, após ser selecionada para o programa estadual “Prontos para o Mundo”. Além disso, a jovem não irá representar apenas Presidente Prudente (SP), mas todos aqueles que, como ela, acreditam que o estudo é o caminho para mudar a própria história.
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Ao g1, a estudante do segundo ano do ensino médio na matéria de exatas da Escola Estadual Doutor José Foz, na Vila Marcondes, conta que embarca nesta sexta-feira (29) para uma viver três meses de aprendizado, amadurecimento e quebra de barreiras pessoais, sociais e culturais.
“Sempre foi um sonho. Digamos que sempre senti que o meu coração era internacional. Foi uma coisa que eu almejei muito, porque eu sempre sonhei muito alto, quis fazer coisas que não condiziam com a minha realidade, mas eu nunca tirei esse sonho do meu coração e nunca desisti dele. Por isso, quando essa oportunidade apareceu, eu decidi agarrar com unhas dentes”, explica ao g1.
Isabelle ainda conta que não passou de primeira do programa, mas acabou conseguindo se classificar no segundo semestre.
“Eu acabei não conseguindo passar no primeiro semestre por outros quesitos além da prova, mas eu sabia que se eu desistisse naquele momento, ia perder a oportunidade da minha vida, que pode abrir portas para o meu futuro. Então, decidi me dedicar ao dobro, estudar ao dobro e eu acabei passando, o que foi muito gratificante para mim, eu senti a Isabelle pequenininha pulando de felicidade, e mesmo antes de eu embarcar, eu já consigo me sentir realizada”, afirma a estudante.
Isabelle Pelegrino Silva, de 16 anos, de Presidente Prudente (SP) fará intercâmbio em Brighton, no Reino Unido
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A mãe de Isabelle, Claudete Menezes Pelegrino, disse que, em todo momento, incentivou a filha a estudar e nunca desistir do que ela tanto almejava.
“Na primeira vez que ela não conseguiu, ela ficou muito triste, muito para baixo. Eu falei: ‘Se tiver que ser, vai ser’. Ela falava: ‘Mãe, mas se eu passar, como é que vai ser? Você vai deixar?’. Mas eu falava para ela ‘Depois eu vejo,”. Assim, querendo incentivar, mas, ao mesmo tempo, com o coração meio apertado. É uma coisa que a gente achava quase que impossível dela conseguir”, detalhou a empregada doméstica ao g1.
Claudete ainda conta que quando saiu o nome da filha na seletiva, todos ficaram bem esperançosos, mas ainda era necessário esperar pela lista definitiva.
“Quando saiu a lista definitiva, que, realmente, ela passou, foi muita alegria, choro, porque foi muita luta para ela conseguir. A gente [a família], sem recurso, sem dinheiro, ela só estudando na escola, os professores apoiando, ela estudando muito em casa. Então, eu fiquei muito feliz, mérito todo dela, o esforço dela e a gente só apoiando mesmo. Eu não tinha condições de pagar uma escola de inglês, nada disso, então foi por ela mesmo. Ela conseguiu com o esforço dela”, relembra ao g1.
Isabelle Pelegrino Silva, com a mãe, Claudete, e a irmã mais velha, Yasmin, de Presidente Prudente (SP)
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Prontos para o mundo 🌎
Isabelle soube do intercâmbio no nono ano do ensino fundamental, quando realizou a prova do Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp). Com base no desempenho da avaliação, o governo implantou o programa “Prontos para o mundo”, o qual o aluno que tirasse nota igual ou maior que sete, poderia ter um ano de curso intensivo de inglês.
Neste curso, há duas provas de desempenho, que são realizadas em agosto e dezembro para concorrer à bolsa de intercâmbio do programa.
O “Prontos para o mundo” é para estudantes da rede pública, a partir do sexto ano do ensino fundamental, onde são levados 500 alunos por semestre a países no exterior, que têm a língua inglesa, de forma totalmente gratuita, por três meses, para ter o compartilhamento de culturas e, principalmente, para a gente desenvolver a língua inglesa.
“Eu acho que é com foco de melhorar nossas relações internacionais e também para levar os alunos para o mundo, basicamente. E é muito legal, porque incentiva muito a gente a estudar, a não faltar na escola, já que um dos requisitos é 90% de frequência. Você tem a chance de passar, ser um dos 500 selecionados e são vagas por município e na lista geral, com base numa média aritmética entre a nota do Saresp e a nota desta prova de proficiência”, explica a estudante.
A turma de Isabelle foi da primeira edição do programa e souberam apenas depois que obtiveram a nota.
“A seleção foi bem complicada para mim, não que eu achei difícil, mas foi porque outros componentes que eu não sabia que existiam impediram minha aprovação no primeiro semestre. E não acho muito que a seleção seja justa, porque você compete com as pessoas do seu município. Acontece que no município de Presidente Prudente tem 200 mil habitantes e tem muitos alunos da rede pública que estavam concorrendo. Agora, municípios menores, como Indiana e Pirapozinho, são menores e acaba que a concorrência seja menos competitiva”, disse sobre o programa.
Além disso, foi necessário realizar uma prova de proficiência, onde são avaliados:
o listening: escutar;
o writing: escrever;
o reading: ler.; e
o speaking: falar.
“Ela é adaptativa, então, conforme nas questões que você vai acertando ou errando, ela vai se adaptando ao seu nível de inglês. E tem a pontuação logo no final do teste”, contextualiza.
Como Claudete disse, a conquista é toda por mérito da filha, que aprendeu inglês sozinha, só de consumir conteúdos com essa língua nativa.
“Sempre fui uma criança muito curiosa, muito interessada em vários assuntos e eu sempre assistia filmes, séries, livros e artigos em inglês. Então, comecei a estudar, tanto por videoaulas, quanto por livros. Foi mais uma coisa natural do que como se eu pegasse pra estudar diariamente. Eu sempre fui aprendendo inglês de uma forma natural e, como aprendi desde bem novinha vendo vídeos, vendo séries, foi mais natural e mais fácil pra agora que eu precisava realmente sentar e estudar o inglês”, define.
Isabelle Pelegrino Silva, de 16 anos, de Presidente Prudente (SP) fará intercâmbio em Brighton, no Reino Unido
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‘Emoção que não cabe no peito’ 💞
Finalmente veio a notícia: ela havia passado. Entretanto, Isabelle relembra ao g1 que a ficha não caiu porque estava muito ansiosa.
“Eu não conseguia dormir direito, porque eu estava com muito medo de não passar, porque sabia que era a minha última chance. E estava todo mundo na torcida, todo mundo esperançoso por mim. Isso cria uma pressão muito grande, porque estava todo mundo me observando e eu também estava criando esse tipo de pressão sobre mim, porque eu preciso muito de uma validação acadêmica, e era meu sonho que estava em jogo. Quando eu descobri que eu tinha passado, nossa, meu coração acelerou demais. Eu comecei a chorar, comecei a tremer. Eu não estava acreditando que tudo aquilo era real, que eu tinha passado mesmo. E até agora ainda não caiu a ficha que eu vou realmente para o Reino Unido. Mas recebi os abraços, os parabéns. E, depois que a gente recebe a aprovação, sentar sozinho e falar ‘Eu passei, tudo valeu a pena no final’, é muito, muito gratificante e dá um conforto no coração enorme e uma emoção que não cabe dentro do peito”, relata a adolescente .
A mãe, Claudete, disse que está muito orgulhosa pela filha.
“Eu me sinto muito, muito orgulhosa da minha filha por tudo que aconteceu, tudo que passou, passo a passo, como ela sofreu na primeira vez que ela não conseguiu. Muito feliz por ela”, define a sensação ao g1.
Isabelle Pelegrino Silva, de 16 anos, de Presidente Prudente (SP) fará intercâmbio em Brighton, no Reino Unido
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Para a jovem, o intercâmbio significa uma vida.
“Não só a minha vida. Foi a vida da minha mãe, que largou a escola e conseguiu terminar o ensino médio só depois de ter tido eu e minha irmã [Yasmin Pelegrino Silva, de 19 anos], de ter feito tudo. É a vida da minha avó, dos meus antepassados, de todas as mulheres que lutaram para que a gente conseguisse educação e a vida de todos os jovens e adolescentes que não tem condição de pagar o intercâmbio e que, infelizmente, não tiveram condições de passar por esse programa, talvez por já ter passado o tempo a primeira edição, eles não conseguiram participar ou também para aqueles jovens que não conseguiram, que tiveram que trabalhar e sair da escola”, conta sobre a responsabilidade que sente com a conquista.
“É uma gratidão imensa eu poder representar uma geração inteira e não somente a minha cidade, mas o sonho de muitas pessoas e representar a vida de muitas pessoas que quiseram estar no meu lugar. É como dizem: ‘Estude por aqueles que não podem’ e é basicamente isso, eu vou viver e estudar nesse intercâmbio por todos aqueles que não puderam e por todos aqueles que queriam muito participar”, completou.
Esse intercâmbio significa, para mim, uma esperança no meio de tanto caos que é, de tanta injustiça que é o mundo e eu espero que eu consiga levar essa esperança a vários jovens que ainda não passaram pelo processo e incentivar eles a estudar, porque o estudo sempre leva a gente mais longe porque é como sempre dizem: ‘A revolta dos menos favorecidos é o estudo’. Representar a escola pública, representar Presidente Prudente e todas essas esperanças que depositaram em mim é uma coisa muito gratificante e também de um sonho muito antigo que eu tinha de poder conhecer o mundo, poder levar minha história pro mundo e escrever a minha história em outros países. É sempre emocionante quando eu lembro de tudo que eu passei pra estar aqui hoje e eu espero que isso seja só o começo.
Isabelle Pelegrino Silva, de 16 anos, de Presidente Prudente (SP) fará intercâmbio em Brighton, no Reino Unido
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‘Uma das cidades mais antigas do mundo’ 💂‍♀️
Durante o intercâmbio, a estudante irá ficar em Brighton, mas irá estudar em Seaford, que fica 40 minutos de distância de ônibus ou trem.
Segundo ela, a escolha do país é feita pela própria coordenação do programa.
Em Brighton, Isabelle irá ficar com uma família anfitriã, composta de um casal, dois filhos, duas filhas, um cachorro, um coelho e porquinhos da índia.
“Eu acho que estou mais ansiosa para conhecer as cidades grandes, como Londres, Oxford, ver o centro de Brighton e conhecer as pessoas. Os ingleses, ver como eles são, ver como se portam, ver como falam, eu acho o sotaque deles muito legal. E, com certeza, eu estou muito ansiosa para viver a experiência de ser uma adolescente estudante num país assim, onde a excelência é um requisito, e para todos os desafios que vão me acontecer. Estou muito ansiosa para orgulhar a cidade inteira e fazer a minha história como prudentina”, descreve.
Isabelle acredita que não sofrerá tanto com os choques culturais por já conhecer um pouco da cultura britânica.
“Claro, eu acho que o que mais vai me pegar vai ser a comida, porque eles jantam muito cedo, eles não comem muita coisa no almoço e acho que isso vai ser o que mais vou sentir, de verdade, e também a falta de calor do Brasil. Não o calor do clima, mas o calor das pessoas, porque nós brasileiros somos muito receptivos, calorosos, e os ingleses, não. Mas eu acho que, só estou me preparando psicologicamente e saber que, apesar de tudo que eu vou enfrentar, é um sonho meu, é um sonho de vida se realizando”, disse ao g1.
Isabelle Pelegrino Silva, de 16 anos, de Presidente Prudente (SP) fará intercâmbio em Brighton, no Reino Unido
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O que mais lhe atrai na cultura local é a questão dos ingleses serem bem pontuais, coisa que partilhou ao g1 que terá que aprender.
“Eles são muito focados e sabem o que eles querem, desempenham as coisas com excelência. É um país muito rigoroso. Então, eu estou ansiosa para ver como que eu vou lidar com essas exigências, mas também eu sei que eles são bem divertidos e tem muitas histórias pra contar, porque é uma das cidades mais antigas do mundo e eu estou muito ansiosa para ver essa cultura desses povos que eu vou conhecer”, afirma.
No Reino Unido, a adolescente disse que pretente “turistar” bastante, estudar e conhecer novos lugares.
“Atividades mesmo, vão ser as atividades extracurriculares que eu vou envolver na escola e também tem três clubes que eu já me inscrevi antes de embarcar, que são os clubes da minha agência. Eu vou ser uma embaixadora internacional da agência, me inscrevi pro clube ambiental, onde a gente faz experimentos ambientais e também me inscrevi pro clube de vôlei”, conta sobre a preparação antes da ida.
“Eu sempre fui uma pessoa muito desapegada. Mas acho que vou lidar muito bem com essa saudade, porque a gente vai conseguir continuar se falando e eu sei que eles vão estar muito orgulhosos de mim aqui no Brasil e eu vou estar vivendo um sonho lá no Reino Unido. E os três meses vão passar rápido, eu acredito”, afirma.
Entretanto, ela ainda não sabe como irá lidar com a saudade da família, porque nunca ficou tanto tempo longe.
Isabelle Pelegrino Silva, de 16 anos, junto com sua mãe, Claudete
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“Ela nunca ficou tanto tempo fora de casa. O máximo que ela ficou foram quatro dias, quando ela fazia acampamento da igreja. Nunca ficou tanto tempo e eu não sei como vai ser. Tenho rezado muito, pedido a Deus para ficar tudo bem lá e eu aqui, porque a gente nunca ficou tanto tempo longe uma da outra, mas eu sei que vai ser para o bem dela, para o crescimento dela. Vai ser muito importante para ela, é um sonho dela e meu também. Então, eu sei que está nas mãos de Deus e de Nossa Senhora e que vai dar tudo certo”, disse sua mãe.
“Eu sei que eles vão estar me esperando daqui e eu vou estar lembrando deles lá. Eu vou levar também algumas coisas pra lembrar deles durante a minha viagem”, completa a estudante.
Com essa vivência, ela partilha ao g1 que espera aprender muitas coisas novas.
“O inglês é muito importante, eu espero voltar fluente aqui para o Brasil, mas eu acho que, principalmente, como me tornar independente, por mais que eu já me considere independente, eu vou estar sozinha num país estrangeiro, onde eu não conheço ninguém, numa língua estrangeira que eu domino, mas não tanto. E eu acho que vai ser uma jornada de autoconhecimento muito forte e espero também adquirir muito, muito aprendizado, muita sabedoria, tanto acadêmica quanto para a vida”, define.
Já Claudete espera que, com a volta da filha para o Brasil, prevista para novembro, ela possa voltar de uma jornada muito enriquecedora.
“Eu sei que ela vai amadurecer bastante, porque vai ficar fora de casa por tanto tempo, aprender a se virar sozinha, sem ter a mãe por perto, mas eu acredito que ela vai voltar bem, com uma bagagem boa. Eu tenho certeza que ela vai aproveitar todas as oportunidades que tiver lá porque ela é muito esforçada. Eu sei que vai ser muito enquecedor para ela.
Isabelle Pelegrino Silva, com a mãe, Claudete, e a irmã mais velha, Yasmin, de Presidente Prudente (SP)
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Com essa experiência, a jovem espera se “tornar uma esperança e um exemplo para todos aqueles alunos que ainda não passaram e para todos aqueles que acham que é tarde demais para estudar”.
“Eu quero ser esse brilho na nossa nova geração, que está cada vez mais ignorante e sem esperança no estudo, que acha que fazer faculdade é uma bobeira, o que na verdade não é, porque o estudo, é o que sempre dizem: ‘Podem tirar tudo de você, menos o seu conhecimento’. E também tenho os meus objetivos pessoais, que é fazer uma boa faculdade, ter um bom emprego e conseguir proporcionar para mim uma vida cheia de certificados acadêmicos e de muito, muito, muito aprendizado e conhecimento. E, com certeza, vai ser uma história que eu vou poder contar daqui vários anos e me orgulhar de quem eu tô me tornando, de quem eu fui e de não ter desistido desse sonho”, finaliza ao g1.
Isabelle Pelegrino Silva, de 16 anos, de Presidente Prudente (SP) fará intercâmbio em Brighton, no Reino Unido
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