A Mitsubishi Corp (8058.T) anunciou a retirada de três grandes projetos de energia eólica offshore no Japão, vencidos em leilão em 2021, após custos de construção e operação mais que dobrarem em relação às projeções iniciais. A decisão representa um duro golpe para os planos do governo japonês de acelerar a transição energética e reduzir a dependência de combustíveis fósseis importados.
Os projetos, localizados nas prefeituras de Chiba e Akita, tinham capacidade combinada de 1,76 gigawatts, com previsão de início de operação entre 2028 e 2030. Em comunicado, o presidente-executivo da Mitsubishi, Katsuya Nakanishi, afirmou que mesmo após reestruturações na cadeia de suprimentos e tentativas de mitigar os impactos financeiros, a viabilidade se tornou insustentável.
“Os custos de construção mais que dobraram desde 2021. Combinados aos custos de manutenção e operação, inviabilizam qualquer retorno do investimento”, declarou Nakanishi.
A Mitsubishi já havia registrado um encargo de 52,2 bilhões de ienes (US$ 354 milhões) neste ano, e sua parceira Chubu Electric Power prevê perdas de 17 bilhões de ienes relacionadas à saída.
Governo reage e confiança é colocada à prova
O ministro da Indústria, Yoji Muto, classificou a decisão como “profundamente lamentável” e alertou que a medida pode atrasar o avanço da energia eólica offshore no Japão. Ele acrescentou que o governo pretende releiloar os três locais, mas reconheceu que o aumento de custos torna o processo mais desafiador.
Segundo Muto, a retirada da Mitsubishi “trai expectativas locais e mina a confiança pública” no setor, que já enfrenta dificuldades globais por conta da inflação de insumos e atrasos em obras.
Impacto nas metas de energia renovável
O Japão tem a meta de atingir 10 GW de capacidade offshore até 2030 e 45 GW até 2040, mas apenas cerca de um décimo dessa capacidade já foi leiloada. A desistência da Mitsubishi pode comprometer o ritmo desse avanço, especialmente em um momento em que a demanda por gás natural liquefeito (GNL) cresce com o aumento do consumo energético impulsionado por tecnologias como a inteligência artificial.
Concorrentes internacionais como RWE, Iberdrola e BP continuam ativos no mercado japonês, mas também enfrentam pressão de custos. A dinamarquesa Orsted abandonou projetos no país em 2024, e a britânica Shell reduziu sua presença no setor eólico japonês.
Analistas veem “reequilíbrio” do setor
Apesar do impacto imediato, especialistas acreditam que o setor poderá se ajustar. Para Yuriy Humber, CEO da consultoria Yuri Group, a retirada da Mitsubishi reflete uma oferta excessivamente agressiva no leilão de 2021 em meio a condições macroeconômicas desfavoráveis.
“Não é um evento apocalíptico. É um reequilíbrio que pode fortalecer o setor no longo prazo”, avaliou Humber.
Ainda assim, o episódio evidencia os riscos financeiros associados à transição energética, especialmente em um país altamente dependente de importações energéticas e em busca de soluções para diversificar sua matriz elétrica.
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