Brasileira que desapareceu há 9 anos após viajar para o Oriente Médio é repatriada


A paraense Karina Barbosa desapareceu em 2016 e esteve detida em região de conflito na Síria.
Reprodução / TV Liberal
A brasileira Karina Ailyn Raiol Barbosa, de 28 anos, que desapareceu em 2016 após viajar para o Oriente Médio, foi repatriada ao Brasil com o filho de sete anos. O processo de repatriação foi confirmado pela Defensoria Pública da União ao g1 nesta quarta (28). O órgão não justificou o motivo do retorno da jovem, que estava na Síria.
Karina é paraense e tinha 20 anos anos quando desapareceu. Ela saiu do Brasil no dia cinco de abril de 2016, sem avisar aos pais. Na época, a Polícia Federal (PF) informou que a mulher embarcou em São Paulo em um voo com escalas em Marrocos e Istambul.
O caso, acompanhado pelo DPU, também foi investigado por equipes da Interpol e da Divisão Antiterrorismo da Polícia Federal (PF), para saber se ela foi aliciada por grupos extremistas.
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Em 2018, o Ministério das Relações Exteriores confirmou que a paraense esteve detida em uma área desconhecida controlada pelos curdos no norte da Síria. Na época, o território passava por tensões que envolviam o Estado Islâmico.
Em 2024, a Defensoria Pública da União, por meio do Núcleo Regional de Direitos Humanos da DPU, entrou com uma ação na Justiça Federal exigindo que o governo prestasse assistência a ela e ao filho.
Segundo o documento do DPU o qual o g1 teve acesso, Karina chegou ao Brasil na terça (27) junto ao filho de sete anos que teve enquanto esteve no Oriente Médio. Ambos foram recebidos no aeroporto internacional de Guarulhos pela defensora pública Ana Claudia de Carvalho Tirelli e por um agente da PF. Os familiares também se encontraram com a jovem e a criança no local.
Mudanças e desaparecimento
Segundo a família, Karina era uma jovem tímida e caseira. Reclusa, ela não tinha muitos amigos e só costumava sair para ir à Universidade Federal do Pará (UFPA), onde cursava jornalismo. Em 2014, ela iniciou um curso de árabe na instituição. Em seguida, passou a frequentar uma mesquita na capital. Em abril de 2015, a jovem se converteu ao islamismo.
“Ela disse que foi onde encontrou Deus. […] Karina começou a usar só roupa de manga longa e saia por cima da calça e sempre estava de véu. Ela até ficou mais comunicativa, conversava mais com a gente. Minha mãe algumas vezes acompanhou Karina até a mesquita”, disse a irmã da paraense, Karen Barbosa. Os familiares não eram muçulmanos e praticavam outra religião.
Paraense desaparece, e caso é investigado pela PF.
De acordo com a família, Karina saiu de casa às 10h do dia quatro de abril de 2016, apenas com um casaco fino e uma sandália. O último contato com a jovem foi às 13h daquele dia. Karina informou que estava gravando vídeos para um trabalho da faculdade e disse que iria dormir na casa da avó. Em seguida, o telefone de Karina ficou fora de área. Por volta de 18h, os parentes foram até a universidade, mas não a encontraram, nem na casa da avó.
“Aí passamos por todos os hospitais, e nada. Até que meu marido sugeriu que fôssemos ao aeroporto. Lá, meu pai descobriu com a polícia que ela havia tirado o passaporte em dezembro. Ninguém tinha conhecimento disso”, relatou Karen na época.
Os parentes relataram que a estudante viajou sem levar mala. No outro dia, os familiares foram até a UFPA e souberam que Karina não frequentava o curso há meses. De acordo com a universidade, a estudante não trancou a matrícula, mas tinha muitas faltas, e em fevereiro de 2016 deixou de ir para as aulas.
Na época, a família afirmou que suspeitava que Karina foi aliciada e forçada a embarcar. “Achamos que ela entrou em algum circuito e, quando percebeu, foi forçada a ir, sob ameaça até de fazerem alguma coisa conosco. Ela não trabalhava e meu pai não teria dinheiro para pagar passaporte, muito menos viagem para São Paulo e para fora do país”, disse Karen.
Um mês após desaparecer de Belém, Karina fez contato rápido com a família. Os pais da estudante de jornalismo contaram que foram surpreendidos com a ligação da jovem.
“Nesse contato, ela estava muito nervosa. Aí eu disse: ‘Filha, onde você está?’. Ela me disse ‘Pai, eu não posso dizer isso senão eu vou ter problemas’. O que eu percebi nela foi muito medo e aquilo apavorou a gente”, revelou o pai, Nerino de Almeida Barbosa, na época.
Comentários nas redes sociais
Após o desaparecimento, a irmã de Karina descobriu nas rede sociais da jovem que ela comprou um niqab, vestimenta que deixa apenas os olhos visíveis. O traje é usado por mulheres em países onde a tradição islâmica é mais forte.
Em uma das mensagens na internet, a universitária criticava as condições de vida da população na Síria, que era controlada pelo ditador Bashar Al Assad.
“Agora eu penso nos ‘afortunados que conseguiram escapar dessa cidade, que outra opção eles têm senão se juntar aos grupos terroristas? É a única forma de lutar contra o governo, porque os países ocidentais e árabes não estão fazendo nada”, digitou na época.
Assad deixou o país e foi retirado do poder em dezembro de 2024, quando rebeldes invadiram Damasco. O ditador estava no poder há 24 anos. Em 2011, em meio à Primavera Árabe, grupos dissidentes começaram a tentar derrubá-lo, e o país entrou em uma guerra civil que deixou mais de 500 mil mortos.
Assistência após chegada ao Brasil
Segundo o documento da DPU de São Paulo, Karina e o filho foram atendidos por uma equipe da rede pública de saúde de Guarulhos, mobilizada pelo Posto Avançado de Atendimento Humanizado ao Migrante (PAAHM). A criança estava com o pé machucado e precisou passar por sutura.
O atendimento, realizado por médica pediatra e quatro agentes de saúde, incluiu avaliação clínica, vacinação e outras orientações.
O documento ainda aponta que a Defensoria Pública da União está a disposição para a assistência jurídica necessária e para o acionamento da rede de proteção para fins de segurança, apoio psicológico e demais demandas que possam surgir.
O g1 procurou o Itamaraty e também a PF, para atualizações sobre a investigação do caso e se Karina foi vítima de aliciamento por grupos extremistas, mas não obteve respostas até a última atualização desta reportagem.
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