Forte de Santa Maria
| Foto: Xando Pereira / Ag. A Tarde
“Uma pequena e delicada joia da arquitetura militar do período colonial”. Assim o arquiteto e professor da Universidade Federal da Bahia, Nivaldo Andrade, define o Forte de Santa Maria. Menor e mais discreto em relação aos outros fortes do bairro, a fortificação de estilo arquitetônico italiano foi construída em 1614 e, assim como o Forte de São Diogo, se deu dos lados opostos da enseada do Porto da Barra após a invasão holandesa, visando impedir novos desembarques de invasores naquela praia que não estava protegida pelo fogo do Forte de Santo Antônio. Em 1938, foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). No local, o Espaço Pierre Verger da Fotografia Baiana é aberto para visitação pública.Desenhos do artista José Pais Esteves, de influência arquitetônica italiana, estampam as suas estruturas em pedra e cal, datadas a 1696, apresentando a planta na forma de um polígono heptagonal, com quatro ângulos salientes e três reentrantes e parapeitos à barbeta, que mais tarde deram a forma original do forte. Embora de dimensões menores, os especialistas consideram o Forte Santa Maria significativo em valores bélicos, culturais e históricos de Salvador. O monumento fez parte de um comando unificado, entre 1624 e 1694, com os quais cruzava fogo na defesa do Porto da Vila Velha, local de desembarque do primeiro donatário da Capitania, Francisco Pereira Coutinho e do primeiro governador-geral da Bahia (Tomé de Sousa, 1549).O Forte de Santa Maria foi a primeira sentinela de um conjunto de fortificações que se estende pela Baía de Todos os Santos e compõe, ao lado do Farol da Barra e dos fortes de São Diogo e o Forte de Santo Antonio da Barra, o tripé inaugural de defesa de Salvador no período do Brasil Colonial. Tendo sido palco da invasão holandesa na Bahia, a edificação guarda a história desse período através de uma placa comemorativa em bronze, no lado direito do Portão de Armas, com os dizeres históricos: “Aqui desembarcaram, aos 9 de maio de 1624, os holandeses comandados por Albert Schonten e, aos 30 de maio de 1625, as primeiras tropas restauradoras de D. Fadrique de Toledo”.Em tempos presentes, baianos e turistas visitam o Forte de Santa Maria com a oportunidade de conhecer o Espaço Pierre Verger da Fotografia Baiana, uma homenagem da Prefeitura de Salvador e da Fundação Pierre Verger ao fotógrafo, escritor e antropólogo franco-baiano Pierre Edouard Leopold Verger. O projeto se dedica à valorização, ao reconhecimento e à divulgação da fotografia baiana, destacando o trabalho de Pierre Verger e de mais 100 fotógrafos que tenham nascido ou fixado residência na Bahia. No local, cada temática é tratada com recursos tecnológicos diferentes, como projeções e telas interativas ou apresentações virtuais e interatividades complexas.A exposição permanente é dividida em seis eixos principais: Retratos (primeiras fotografias feitas na Bahia e retratos de personalidades); Paisagens Urbanas (fotos de ruas, bairros e pontos diversos da cidade, em imagens antigas e atuais); Cultos Afro-Brasileiros (imagens divididas em níveis de acesso diferenciados, conforme o conhecimento do visitante, mostrando vários momentos cerimoniais); Interior da Bahia (projeção de fotos editadas e musicadas); Cenas do Cotidiano (dezenas de conjuntos de fotos divididos por palavras e temas: capoeira, carnaval, festa de largo); e Fotografia Contemporânea (ensaios de fotógrafos que mostram um extrato diverso e de vanguarda da cena fotográfica local). O espaço fica aberto de quarta a segunda, das 11h às 18h, com entrada até às 17h.INFOEndereço: Largo do Porto da BarraAno de inauguração: 1696Ano de tombamento: 1938, pelo IphanProgramação atual: Visita pública ao Espaço Pierre Verger da Fotografia Baiana, de quarta a segunda, das 11h às 18h, com entrada até às 17h.Forte de São DiogoConstruído entre 1609 e 1613, na encosta do Morro de Santo Antônio, o Forte de São Diogo compôs, juntamente com os fortes de Santo Antônio da Barra e de Santa Maria, a antiga defesa da cidade de Salvador. Foi erguido sobre a antiga estrutura do Castelo de Pereira Coutinho, donatário da Capitania, na Praça Azevedo Fernandes. O projeto original do forte é do engenheiro-mor Francisco de Frias da Mesquita (1578-1645), que, a partir de 1626, foi reconstruído, sofrendo alterações entre 1704 e 1722 e algumas reformas no final do século XIX. Tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 1954, o Forte São Diogo é uma propriedade do Exército Brasileiro.Desde 2016, o forte abriga o Espaço Carybé de Artes, um centro tecnológico de referência da vida e obra do artista plástico argentino naturalizado brasileiro, Hector Julio Páride Bernabó, popularmente conhecido por Carybé. Suas obras consistem em gravuras, murais, esculturas, ilustrações e desenhos, que são acessados de maneira interativa através da realidade virtual. São mais de 500 trabalhos desse artista primou por tornar sua arte acessível o povo baiano, seu maior inspirador.De acordo com a administração do espaço, os visitantes fazem uso de óculos de realidade virtual para ver todo o acervo, podendo explorar diversos ambientes coloridos com suas artes de Carybé, que são projetadas nas paredes internas do forte, causando um efeito especial. Há, também, uma TV que serve como tela de pintura para os visitantes fazerem movimentos nas mãos e nos pincéis para que os desenhos sejam revelados. O espaço funciona de quarta a segunda-feira, das 10h às 18h. O Forte de São Diogo dispõe, ainda do Bistrô Mirante, uma opção para apreciar a gastronomia baiana e assistir ao pôr do sol, estando aberto de terça a domingo, das 15h às 22h.INFOEndereço: Rua do Forte de São Diogo, s/n, Porto da BarraAno de fundação: Entre 1609 e 1613Ano de tombamento:Programação atual: Espaço Carybé de ArtesCemitério dos InglesesPatrimônio histórico da Colônia Britânica na Bahia, fundado no começo da segunda década do século XIX, o Cemitério Britânico de Salvador, conhecido como Cemitério dos Ingleses, está implantado entre o Outeiro de Santo Antônio da Barra o Yacht Clube da Bahia, na Ladeira da Barra. Do alto, a vista panorâmica é para a Baía de Todos-os-Santos e, no chão, estão as lápides e túmulos que remontam à chegada da Família Real Portuguesa ao Brasil com a fuga da corte lusitana, antes do exército de Napoleão Bonaparte invadir aquele país europeu. Considerado um sítio histórico pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac), o monumento foi tombado, em 1993, pelo órgão do Governo da Bahia.Historiadores registram que a construção do cemitério se deu em um ato de retribuição de Dom João VI aos navios de guerra britânicos, comandados pelo embaixador Lorde Stanford, que escoltaram a esquadra portuguesa em 27 de novembro de 1807 até a chegada ao Rio de Janeiro, em 7 de marco de 1808. Desse modo, em 19 de fevereiro de 1810, foi assinado o Tratado de Comércio e Navegação que, além da redução dos impostos para a comercialização dos produtos britânicos, concedia aos cidadãos britânicos residentes no Brasil o direito de construir seus próprios necrópoles. Para tanto, o governador da Bahia à época, Marcos Noronha de Brito, expropriou um terreno pertencente à Arquidiocese de Salvador e o doou à comunidade britânica. A primeira lápide data de 1813 e, no local, estão sepultados nomes como o médico britânico John Ligertwood Paterson.O arquiteto e professor da Universidade Federal da Bahia, Nivaldo Andrade, afirma que a presença de ingleses em Salvador foi significativa desde a chegada da Família Real escorraçada de Portugal pela ameaça de uma invasão de Napoleão e escoltada até o Brasil pela Marinha Real Britânica. “No século XIX, alguns dos principais comerciantes da cidade eram ingleses e a presença dessa comunidade era tal que existia uma igreja anglicana no Campo Grande, hoje desaparecida. O Cemitério dos Ingleses, que remonta a 1814, foi criado para o sepultamento dos corpos dos membros dessa comunidade, que eram em sua maioria protestantes e não podiam ser enterrados nos cemitérios católicos”.Entre 2003 e 2006, foi firmado um acordo com a Fundação Clemente Mariani para a preservação do jazigo dos ingleses. Com o apoio do Governo da Bahia, se deu a realização de obras de restauração das muralhas de retenção, das covas e da capela, bem como o conserto do sistema sanitário e a iluminação. “Tive a oportunidade de acompanhar a obra e penso que o apoio e a atuação da família Marini foram fundamentais para que a restauração tivesse acontecido, marcando um forte passo no resgate de nossa história, até então muito pouco explorada que foi a influência britânica”, registra o autor do projeto de restauração, o arquiteto e urbanista Ernesto Carvalho, mestre em Conservação e Restauração e doutor em Urbanismo pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).O Cemitério dos Ingleses pode ser visitado todos os dias, gratuitamente, até as 17 horas, com tempo de permanência de uma hora de visita. O local recebe cerca de 200 visitantes mensalmente, muitos atraídos pela beleza silenciosa do lugar.INFOEndereço: Av. Sete de setembro, nº 3346 – Ladeira da Barra, entre a Igreja de Santo Antônio da Barra e o Yacht Clube da Bahia. Tel. (71) 3336-2306Ano de fundação: 1814Ano de tombamento: 1993, pelo IpacProgramação atual: Visitas todos os dias da semana, inclusive feriados, das 8h às 12h e das 13h às 17h.Igreja de Santo Antônio da Barra
Igreja de Santo Antônio da Barra
| Foto: Shirley Stolze / Ag. A TARDE
Relíquias da arte sacra baiana estão guardadas na Igreja de Santo Antônio da BarraTesouros da arte sacra estão guardadas e preservados no Outeiro de Santo Antônio da Barra, um dos mais ricos patrimônios da história religiosa-cultural de Salvador, ainda hoje procurada para casamentos e outras cerimônias religiosas. Fundada na segunda metade do século XVI, a Igreja de Santo Antônio da Barra consta em sua história que as primeiras escavações ocorreram em 1583, com o lançamento da pedra fundamental em 1587 e a construção entre 1595 e 1600, conforme registro de historiadores. Localizado na Ladeira da Barra, o templo cristão foi tombado em 1985, pelo Instituto Patrimônio Histórico Artístico Nacional (Iphan).A Igreja de Santo Antônio da Barra abriga as relíquias de primeiro grau de Santo Antônio (partes do seu corpo, consideradas tesouros pelos católicos); o crucifixo com resplendor; e a imagem em tamanho natural de madeira de Santo Antônio, que se encontra no altar-mor da igreja, ostentando a faixa oficial do exército. Destaque, ainda, para as imagens de Nossa Senhora da Conceição e do Cristo ressuscitado (ambas no altar lateral) e seis quadros pintados que retratam a vida de Santo Antônio, além da cruz processional em prata.Padre Ivan Dias, religioso da Companhia de Jesus e ex-reitor do Santuário Santo Antônio da Barra, ressalta que, na sacristia, próximo ao altar-mor, duas grandes arcas dos tempos coloniais ocupam uma das partes laterais. “Outra peça antiga é a imagem de Nossa Senhora Sant’Ana, que se encontra no interior de um nicho embutido na parede. No teto da mesma sacristia há uma pintura de Santo Antônio, com o Menino Jesus nos braços, completando a beleza do conjunto”, observa o religioso. A última restauração dos altares e de algumas peças, registra, foi realizada há 12 anos, pela empresa Restaurações de Obras de Arte – Stúdio Argolo.Ornamentação e pinturas – Doutor em História da Arte, o professor da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Luiz Alberto Freire, explica que o acervo da Igreja de Santo Antonio da Barra é constituído de ornamentação entalhada e pinturas. “Sua importância se fundamenta na tradição do modelo retabular, cultivado na Bahia do século XIX, e no tipo de pintura do forro da nave, que apresenta solução específica do hibridismo estilístico de um rococó simplificado e do neoclássico”. O especialista reporta que o pintor e escritor abolicionista Manuel Querino atribuiu a confecção do retabulo-mor ao entalhador Cândido Alves de Sousa, provavelmente executado na segunda metade do século XIX. Já a pintura e o douramento do mesmo foram realizados pelo pintor Severiano Alves de Sousa.“O tipo de retabulo-mor segue um dos modelos mais reproduzidos na Bahia do século XIX, ao que denominamos ‘parietal arrematado por sanefa’ e deriva do retabulo-mor da Igreja de Nossa Senhora da Vitória, assemelhando-se aos das igrejas de Nossa Senhora da Ajuda e de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Há, ainda, nas paredes laterais da nave seis pinturas, sendo três em cada lateral. É um conjunto artístico representativo da transição do século XVIII para o XIX”, explica Luiz Freire.O estilo arquitetônico da Igreja de Santo Antônio da Barra, ainda segundo o especialista, pode ser entendido como “maneirista” com características marcantes, como o frontão triangular e as torres mais elevadas que de costume, bem como a galilé (recinto coberto, geralmente sustentado por pilares ou colunas) de três arcos; quatro janelas no pavimento do coro, com um espaço maior entre elas no centro da fachada. “Muito marcante é a sua localização no alto de um outeiro, tendo à frente uma escadaria dominando o espaço composto por pequeno largo e uma gruta dedicada à Nossa Senhora de Lurdes. O conjunto é um dos poucos preservados em Salvador, quase imutável, preservando o recorte do templo no céu azul e a vegetação do entorno. Constitui-se, para além do valor religioso, um elemento que qualifica a paisagem desde o século XVII, eternizado na pintura de Alberto Valença”, ressalta.Luiz Alberto Freire enfatiza que cada monumento representa momentos históricos marcados pelas relações sociais, projeções de poder e dominação, bem como pela necessidade das crenças para a resolução dos problemas e pelo provimento da vida. “Em cada igreja há manifestações artísticas únicas que comprovam a capacidade operativa dos artistas baianos ou dos que ali trabalharam. As pinturas cumpriam a função de comunicarem as narrativas bíblicas e dos evangelhos apócrifos, reforçando o conhecimento veiculado pela oralidade. Não só ensinavam os artigos da fé, como favoreciam ao fervor religioso diante das imagens que representam as divindades católicas, suas histórias de martírio, piedade e milagres operados, explicando, assim, como a igreja articulou um discurso que inculcou os valores cristãos, tabus e preconceitos na população”, opina.Pergaminhos históricos – Devido a sua localização, o padre Ivan ressalta que a Igreja de Santo Antônio da Barra tem os seus pergaminhos históricos, tendo o lugar testemunhado, em 1549, aportarem Tomé de Souza e o seu séquito, entre os quais o Padre Manoel da Nóbrega e a Companhia de Jesus com o primeiro grupo de jesuítas chegados ao Brasil, em 1624, assistiu ao desembarque dos holandeses na sua primeira invasão em terras brasileiras. “Segundo a tradição popular, os holandeses foram rechaçados graças à intervenção de Santo Antônio”, conta. Anexa à igreja, acrescenta, se encontrava uma casa que acolhia os peregrinos e romeiros devotos do santo e, durante séculos, serviu de casa de verão aos arcebispos da Bahia. “Hoje, esse casarão pertence a uma família suíça, que a comprou na década de 1940, mas depois a vendeu para uma família brasileira, que procura cuidar, zelar e manter esse patrimônio”.Em 1911, a Igreja de Santo Antônio da Barra foi confiada aos jesuítas pelo 21º arcebispo primaz da Arquidiocese de São Salvador da Bahia, Dom Jerônimo Tomé da Silva (1849-1924). “Há mais de um século, a Companhia de Jesus, fundada por Santo Inácio de Loyola, realiza com dedicado zelo apostólico a missão de animar a vida espiritual e devocional nesta igreja de tradição franciscana”, enaltece o padre Ivan.Mansão Clemente MarianiFoi no Morro Clemente Mariani – segunda maior reserva de mata atlântica dentro de Salvador, na Ladeira da Barra – onde se construiu, no final do século XIX, a Mansão Clemente Mariani. A propriedade privada de uma influente família de comerciantes e proprietários de terras tinha como patriarca o banqueiro, advogado, jornalista e militante da vida política e econômica do país, Clemente Mariani Bittencourt (1900-1981). O imóvel de estilo colonial possui uma área de 61 mil m2, situada em frente ao Yacth Clube da Bahia e ao Cemitério dos Ingleses. Na sua fachada principal, adornada por um portal em arco flanqueado por colunas de ordem coríntia, o revestimento é com pedra de lioz (tipo de pedra calcária importada de Portugal). O jardim interior é incrementado por uma fonte e um chafariz e, internamente, a casa é decorada com móveis e objetos de arte do século XIX, incluindo lustres de cristal, espelhos e tapeçarias.Mesmo sendo um dos poucos exemplos da arquitetura neoclássica brasileira que ainda se mantém erguida na região e ter testemunhado a história da Barra, a Mansão Clemente Mariani não é “patrimônio cultural da Bahia” e sim uma propriedade particular, conforme o arquiteto e professor da Universidade Federal da Bahia, Nivaldo Andrade. Conselheiro do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), ele afirma que nem o imóvel e nem o morro foram tombados pelo órgão. “O Iphan não atua na preservação ambiental e sim na preservação do patrimônio cultural. A mansão foi declarada pertencer a uma área não edificante, já que o Morro Clemente Marini foi incluído, na década de 1970, no Savam (Sistema de Áreas Verdes) da prefeitura municipal, cuja legislação impede novas construções no local. É uma lei especial municipal, não tem nada a ver com patrimônio cultural, nem com tombamento”, justifica.O historiador, arquiteto e urbanista, Francisco Senna, especialista em conservação e restauração de monumentos e conjuntos históricos, reforça que a propriedade particular dos Marini nunca foi tombada. “O que acontece é que o local onde foi construída se tornou uma área de preservação ambiental e, com isso, a legislação não permite a construção de prédios no entorno do morro. Com a especulação imobiliária, as áreas verdes da cidade estão desaparecendo cada vez mais. Na Barra, por exemplo, só restaram o Morro Clemente Mariani e o Morro do Gavazza”, afirma Senna.Nivaldo Andrade reforça que o mais importante da mansão situada no topo de uma colina, o Morro dos Mariani, é a imensa área verde que a circunda. “A antiga residência de Clemente Mariani não possui grande interesse arquitetônico, embora seu projeto seja atribuído a Diógenes Rebouças, o mais renomado arquiteto baiano entre as décadas de 1940 e 1960, autor de projetos como o do antigo Estádio da Fonte Nova, o Hotel da Bahia, a Escola Parque, a Escola Politécnica e a Faculdade de Arquitetura da UFBA”, pontua o arquiteto, cuja tese de doutorado foi sobre a Arquitetura na Bahia no período em que Clemente Mariani foi ministro da Educação e da Saúde.“Roça dos Mariani” – Conhecida, na década de 1920, como “Roça dos Mariani”, a Mansão Clemente Mariani é ocupada, atualmente pela terceira geração de descendentes de Salvador Pereira, que foi quem adquiriu a propriedade, na década de 1880. Naquela época, até a metade do século XX, esse tipo de construção, meio urbana e meio rural, era comum na Ladeira da Barra. A existência do imóvel que toma boa parte da Barra e tem discreta entrada pela Ladeira da Barra é pouco conhecida pela maioria da população.Em 1972, durante seu primeiro mandato frente ao Governo da Bahia, Antônio Carlos Magalhães desapropriou a Mansão Clemente Mariani, mas a decisão foi revogada pela justiça. A atitude do então governador baiano se deu por conta de um conflito político com o proprietário do imóvel, seu adversário político, por ter negociado o controle acionário do Banco da Bahia, do qual era presidente, com o Banco Brasileiro de Descontos (Bradesco), ao invés de ter dado preferência ao banco dos Calmon de Sá, amigos dos Magalhães.Clemente Mariani, por sua vez, tinha outras ambições políticas. “Reza a lenda que, nessa disputa política, o então mandachuva da política baiana, Antonio Carlos Magalhães, decidiu decretar como ‘área não edificante’ toda a propriedade dos Mariani, isto é, todo o morro. Com isso, se impediu a verticalização da área e se preservou, às custas da família, essa que é, sem dúvida, uma das principais áreas verdes do bairro e de toda essa região da cidade”, exalta Nivaldo Andrade.