Fundos de crédito privado: ainda vale a pena investir em 2025?

Nos últimos 12 meses, os fundos de crédito privado — especialmente os que investem em debêntures incentivadas high grade — surpreenderam com uma rentabilidade média de 13,4%, superando os fundos de ações (8,5%), multimercados (6%) e até mesmo o CDI (11%). Essa performance atraiu os olhares de muitos investidores. Mas será que essa tendência se sustenta para os próximos meses?

O que impulsionou os ganhos recentes?

Boa parte dessa valorização veio de eventos pontuais e de uma dinâmica de mercado específica. No início de 2023, crises corporativas envolvendo empresas como Americanas e Light provocaram resgates massivos dos fundos de crédito. Com isso, os gestores precisaram vender ativos no mercado secundário para cobrir os saques.

Esse movimento gerou pressão vendedora e aumento nos spreads de crédito (a “taxa extra” paga por assumir o risco de uma empresa). No segundo semestre, com a normalização do mercado, os spreads começaram a cair gradualmente — e quem comprou no auge do pânico foi premiado com valorização.

Já no início de 2024, uma nova resolução do Conselho Monetário Nacional limitou a emissão de títulos isentos de imposto como CRIs, CRAs, LCIs e LCAs. Isso fez com que investidores buscassem debêntures incentivadas disponíveis no mercado secundário, elevando a demanda e provocando novo fechamento de spreads — desta vez mais rápido e intenso.

Por que os spreads fazem tanta diferença?

Quando o spread de crédito cai, o preço dos títulos sobe. Esse movimento gera ganho de capital para os fundos que detêm esses papéis. Em um ambiente de queda dos spreads, os fundos de crédito se valorizam — foi isso que vimos em 2023 e início de 2024.

Mas, atualmente, os spreads dos títulos mais seguros — os chamados triple A — já estão em níveis historicamente baixos. Para manter a mesma rentabilidade, seria necessário novo fechamento expressivo de spreads, o que parece improvável no cenário atual.

O risco de investir agora

O investidor que olha apenas a rentabilidade passada pode cair numa armadilha. Como os spreads estão comprimidos, a margem de ganho futuro é limitada, especialmente em títulos mais seguros. Há espaço, sim, para fechamento de spreads em papéis de risco maior — como double A ou triple B —, mas esses trazem mais incerteza e exposição.

Além disso, com a forte captação nos últimos meses, alguns fundos estão sendo fechados temporariamente, como o Absolute Hydra, que saltou de R$ 325 milhões para R$ 3 bilhões em menos de um ano. Isso indica que os gestores enfrentam dificuldade para encontrar bons ativos no mercado.

Comparativo com títulos do Tesouro

Outro ponto importante: com os spreads de crédito mais baixos, o prêmio pago por assumir risco de empresas ficou muito próximo da rentabilidade oferecida pelos títulos públicos IPCA+ do governo, que estão pagando em torno de 6,5% ao ano mais inflação (IPCA). A diferença de retorno pode não justificar o risco adicional de investir em crédito privado, que não conta com proteção do FGC.

Alternativas mais seguras?

Diante do cenário atual, pode fazer mais sentido focar em títulos públicos indexados à inflação, que oferecem boa rentabilidade sem risco de crédito. Fundos de crédito privado só devem ser considerados com base em análise criteriosa, e não apenas por desempenho recente.

O post Fundos de crédito privado: ainda vale a pena investir em 2025? apareceu primeiro em O Petróleo.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.