Mãe da pequena Cecília, de 9 meses, a enfermeira Karina Borges conhece, na prática, os benefícios do leite materno para a saúde dos bebês. Ainda durante a gestação, ela estabeleceu como meta a doação do leite excedente.“Eu já conhecia o trabalho dos bancos de leite e, assim que Cecília nasceu, me mobilizei para fazer parte dessa rede de solidariedade”, conta. “É uma sensação incrível poder ajudar. Gosto de pensar que poderia ser a vida da minha filha que dependesse dessa doação.”A amamentação é recomendada pelo Ministério da Saúde até os 2 anos ou mais. Estudos apontam que, fornecido na quantidade adequada, o leite materno é capaz de reduzir em até 13% as mortes por causas evitáveis em crianças menores de 5 anos.Na Bahia, atitudes como a de Karina nunca foram tão necessárias. Um levantamento feito pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesab) aponta que menos de 10% dos Bancos de Leite Humano mantêm estoques adequados.Atualmente, a rede estadual conta com dez Bancos de Leite e um posto de coleta, distribuídos entre Salvador, Feira de Santana, Itabuna, Jequié, Vitória da Conquista e Barreiras.Segundo a diretora da Gestão do Cuidado da Sesab, Liliane Mascarenhas, os Bancos de Leite cumprem um papel essencial no apoio à amamentação.“O leite materno é o único alimento padrão-ouro para recém-nascidos e bebês”, explica. “Além disso, as orientações dos profissionais que atuam nesses espaços contribuem tanto para a manutenção da amamentação de prematuros internados quanto para o sucesso da amamentação em mães que procuram ajuda.”Ela reforça que, por não poder ser produzido artificialmente, o leite humano depende exclusivamente da solidariedade de quem pode doar. “A doação é fundamental para nutrir bebês que não podem se alimentar diretamente com o leite da própria mãe, especialmente os que estão internados nas Unidades Neonatais – e nossos bancos operam com estoques muito abaixo do ideal”, alerta.Para reverter o cenário de baixas doações, a Sesab tem investido em estratégias para ampliar o número de doadoras e, consequentemente, o volume arrecadado. Uma parceria entre a secretaria e o governo federal vai viabilizar a implantação de novos bancos de leite e postos de coleta em 17 municípios baianos, fortalecendo ainda mais essa rede que salva vidas.“Os novos Bancos de Leite e Postos de Coleta vão funcionar em unidades estaduais e municipais, ampliando o alcance da rede e oferecendo mais oportunidades para que mulheres se unam a esse gesto de amor e solidariedade”, afirma Liliane. “Serão mais 12 bancos e 8 postos em cidades como Alagoinhas, Guanambi, Senhor do Bonfim, Luís Eduardo Magalhães, entre outras, espalhadas por todas as regiões da Bahia.”Coleta itineranteAlém da ampliação da rede de Bancos de Leite Humano, as doadoras baianas contam com estratégias que garantem mais conforto e segurança na hora de fazer o bem. Uma delas é a coleta domiciliar, que permite a doação sem que a mãe precise sair de casa — como no caso da manicure Rafaela Santos.
Rafaela Santos
| Foto: Bárbara Silveira
“Sempre produzi muito leite e, quando descobri que estava grávida da minha bebê, que hoje tem 2 meses, comecei a procurar formas de compartilhar esse leite”, afirma Rafaela. “É importante que as pessoas saibam que doar não diminui a produção. Já ouvi muitos mitos sobre isso, mas são apenas desinformações. Doar é um ato de amor e não atrapalha em nada, pelo contrário.”Ela é doadora do Banco de Leite da Maternidade de Referência Professor José Maria de Magalhães Netto, em Salvador, e recebe semanalmente a visita de uma enfermeira e uma nutricionista da unidade.“Ter essa opção de doar em casa torna tudo mais fácil”, relata. “Elas trazem os frascos, orientam com várias dicas. Doar é um gesto de amor. Gosto de pensar que, de alguma forma, estou ajudando a tornar o mundo um lugar um pouco melhor.”A coordenadora do Banco de Leite da maternidade, Laís Nascimento, destaca que a coleta domiciliar tem sido fundamental para manter o fornecimento de leite materno aos recém-nascidos acolhidos. “A rota domiciliar ainda é a principal estratégia para garantir volume”, avalia. “Mais de 50% do que arrecadamos hoje vem dessa modalidade. Atendemos de segunda a sexta-feira em bairros de Salvador, Lauro de Freitas e outros municípios da Região Metropolitana. Atualmente, conseguimos cerca de 20 litros por mês com a coleta externa, mas já chegamos a receber até 50 litros.”Segundo a Sesab, todos os bancos de leite do estado oferecem o serviço de coleta domiciliar, facilitando a adesão de mais mães à rede de doação.DoaçõesPara se tornar doadora, é preciso que a candidata apresente exames de HIV, HTLV, Sífilis e Hepatite B, realizados ainda no período da gravidez e válidos por um ano. Toda mulher que amamenta pode fazer a doação de leite, basta estar saudável e não tomar nenhum tipo de medicamento que interfira na amamentação. Com a liberação da equipe médica, a mãe pode iniciar a doação do leite por duas formas: presencial, nos postos de coleta, ou de casa, contando com o serviço de coleta domiciliar.
| Foto: Bárbara Silveira
“Nós temos o WhatsApp institucional (71 99628-0855) e todo o atendimento é feito de forma on-line, de forma cômoda e prática”, explica Laís. “Todo leite materno doado passa por rigorosos controles de qualidade e por um processamento que garante a segurança do alimento a ser ofertado aos bebês. Qualquer mulher que tenha excesso de leite pode se tornar doadora, desde que seus exames estejam aptos para tal. Com o cadastro aprovado, enviamos os frascos para a casa da doadora e coletamos semanalmente.”