O Banco do Brasil (BBAS3) anunciou um novo pagamento de Juros sobre Capital Próprio (JCP) referente ao segundo trimestre de 2025, no valor de R$ 0,09 por ação. O montante ficou abaixo das expectativas do mercado e reforça a percepção de um resultado fraco no balanço do segundo trimestre. O pagamento será realizado em 12 de junho, com a data de corte (data com) em 2 de junho.
Este novo provento, somado ao JCP anunciado anteriormente no valor de R$ 0,33 por ação, resulta em R$ 0,36 líquidos por ação, após o desconto de 15% de Imposto de Renda, o que representa um dividend yield de 1,42% sobre a cotação atual, em torno de R$ 25,26.
Mercado projeta lucro mais fraco e dividendos menores
A sinalização de um JCP inferior ao esperado levanta preocupações sobre a qualidade do balanço do segundo trimestre de 2025. Segundo estimativas do mercado, o Banco do Brasil deve reportar um lucro líquido entre R$ 6 bilhões e R$ 7 bilhões no período, com expectativa de recuperação apenas no segundo semestre deste ano.
O payout atual indica que, mantida a distribuição de proventos no mesmo patamar, o BB poderá pagar aproximadamente R$ 1,44 por ação ao longo de 2025, o que corresponde a um dividend yield anual de 5,7%, relativamente modesto frente ao histórico da instituição e ao retorno oferecido por outros bancos, como Itaú, Bradesco e Santander.
Impactos da inadimplência e da nova regulamentação
A deterioração dos resultados do Banco do Brasil está relacionada a diversos fatores. A inadimplência cresceu em todas as frentes — pessoas físicas, jurídicas e setor rural — afetando diretamente as provisões para devedores duvidosos, que dobraram no primeiro trimestre em relação ao mesmo período do ano passado.
Além disso, a Resolução nº 4.966, recentemente implementada, também impactou fortemente o banco, comprimindo as margens financeiras e reduzindo a lucratividade. De acordo com o diretor financeiro do BB, as provisões relacionadas ao agronegócio foram especialmente relevantes, e a inadimplência no setor rural deve permanecer elevada ao longo do segundo trimestre.
Apesar disso, a análise histórica demonstra que picos de inadimplência no agronegócio são cíclicos e tendem a se normalizar em um horizonte de um a um ano e meio.
Valuation: Banco do Brasil negocia com desconto
Mesmo diante desse cenário desafiador, o Banco do Brasil está sendo negociado com um desconto relevante em relação ao seu valor patrimonial. O patrimônio líquido atual da instituição é de R$ 30,47 por ação, resultando em um P/VPA (preço sobre valor patrimonial) de 0,8, ou seja, um desconto de cerca de 20% frente ao valor considerado justo, de acordo com a expectativa de retorno sobre o patrimônio (ROE) em linha com o custo de capital.
Esse desconto sugere que o mercado já precifica boa parte do cenário adverso. Para investidores de longo prazo, há a possibilidade de valorização, uma vez que o patrimônio líquido do banco cresce de forma consistente, podendo impulsionar o valor justo das ações para patamares superiores, como R$ 33, R$ 35 ou até mais, dependendo da evolução dos lucros e da capacidade de reinvestimento.
Cálculo do retorno esperado: Banco ainda atrativo?
Considerando o lucro projetado de R$ 30 bilhões para 2025 e a atual capitalização de mercado de R$ 145 bilhões, o Banco do Brasil está sendo negociado a um múltiplo P/L (preço sobre lucro) estimado em 4,8 vezes, abaixo da média histórica de 6,6 vezes.
Esse múltiplo resulta em um earnings yield (lucro sobre preço) de aproximadamente 20,7% ao ano. Desse retorno potencial, cerca de 8,2% podem ser distribuídos como proventos, assumindo um payout de 40%. O restante (60% do lucro retido) poderá ser reinvestido com uma rentabilidade projetada de 16% ao ano, o que acrescentaria um retorno incremental de 9,6%.
Somando o retorno via dividendos e reinvestimento, o retorno total potencial embutido no preço atual das ações chega a 17,8% ao ano, o equivalente a inflação (IPCA) mais cerca de 12,2%, assumindo inflação anual de 5%. Comparativamente, esse retorno é superior ao Tesouro IPCA+ 2035, que atualmente oferece cerca de IPCA + 7,2%.
Histórico de rentabilidade: Banco do Brasil supera inflação
Apesar do cenário atual adverso, o histórico de desempenho do Banco do Brasil impressiona:
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Últimos 2 anos: +35% de valorização
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Últimos 5 anos: +151%
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Últimos 10 anos: +273%
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Últimos 15 anos: +488% (média de 12,5% ao ano)
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Últimos 20 anos: +1.887% (média de 16,1% ao ano)
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Desde 2000: +9.292%, o que representa um retorno médio de 20% ao ano, ou inflação +12,8%.
Esses números reforçam a resiliência da instituição no longo prazo, apesar das flutuações pontuais no lucro e na distribuição de dividendos.
Reflexão: hora de comprar ou ajustar o preço teto?
Com a queda na cotação das ações para o patamar de R$ 25 e a revisão para baixo nas projeções de lucro, os investidores precisam reavaliar seus preços de entrada. O analista responsável pelo estudo sugere atenção para faixas entre R$ 20 e R$ 23, onde considera que o risco estaria mais bem precificado, especialmente em função da nova perspectiva de lucro mais baixo.
O momento exige cautela, mas, para quem tem visão de médio e longo prazo, o Banco do Brasil segue como uma oportunidade relevante, principalmente para quem valoriza retornos acima da renda fixa e está disposto a conviver com a volatilidade de curto prazo.
O anúncio de JCP abaixo do esperado reforça a percepção de um segundo trimestre desafiador para o Banco do Brasil, mas a atratividade do papel, especialmente para o investidor de longo prazo, permanece. O desconto frente ao valor patrimonial, o histórico de rentabilidade consistente e o potencial de retorno embutido na ação são fatores que sustentam essa visão.
Investidores devem, no entanto, ajustar suas expectativas quanto aos proventos no curto prazo e acompanhar de perto a evolução da inadimplência e das provisões, que continuarão impactando os resultados trimestrais.
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