O Ibovespa encerrou o pregão desta segunda-feira (27) com leve alta de 0,2%, aos 138.136 pontos, resistindo ao cenário externo positivo, mas sendo limitado por fatores domésticos e setoriais. Apesar das fortes altas nas bolsas internacionais, a Bolsa brasileira não conseguiu acompanhar totalmente o movimento, impactada por três principais vetores: baixa liquidez, derretimento do preço do minério de ferro e incertezas após o aumento do IOF.
Baixa liquidez reduz força do mercado local
O feriado nos Estados Unidos e no Reino Unido, que manteve fechadas as bolsas desses países, reduziu consideravelmente a liquidez no mercado brasileiro. Apenas os contratos futuros operaram, e como quase metade do volume financeiro da B3 é movimentado por investidores estrangeiros, a ausência deles esvaziou os negócios por aqui.
Esse movimento é típico em sessões com feriados internacionais, quando a liquidez seca e as oscilações tendem a ser mais contidas.
Queda do minério de ferro pressiona ações da Vale e siderúrgicas
Outro fator relevante para a performance modesta do Ibovespa foi a forte queda do minério de ferro na madrugada desta segunda-feira na Bolsa de Dalian, na China. A commodity recuou 2,20%, pressionando especialmente as ações da Vale (VALE3) e das siderúrgicas listadas no índice.
A retração do preço do minério está relacionada à percepção de menor demanda chinesa e ao excesso de oferta no curto prazo, preocupações que afetam diretamente o desempenho da Bolsa brasileira, fortemente exposta a esse setor.
Aumento do IOF gera incertezas e afeta o mercado
O ambiente de desconfiança se agravou com a recente decisão do governo federal de aumentar o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). Apesar de um recuo parcial no anúncio do Ministério da Fazenda, investidores ainda mostram receio quanto a potenciais novas intervenções governamentais na economia.
A elevação do IOF encarece o crédito para empresas, funcionando como uma espécie de aperto monetário equivalente a uma elevação da Selic entre 0,25 e 0,50 ponto percentual, segundo analistas.
Aposta em queda da Selic movimenta dólar
Paradoxalmente, o mesmo aumento do IOF que gerou cautela no mercado também provocou uma mudança nas expectativas em relação à política monetária brasileira. Muitos economistas passaram a apostar que o Banco Central poderá cortar a Selic até o final do ano, diante do efeito contracionista do novo imposto.
Esse cenário levou o dólar a subir 0,5% no dia, encerrando cotado a R$ 5,67. A expectativa de juros mais baixos, que reduz a atratividade do real, somada à menor liquidez internacional, pressionou a moeda americana para cima.
Bolsas globais sobem com alívio tarifário nos EUA
No exterior, o dia foi de forte otimismo após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recuar da imposição de novas tarifas sobre produtos da União Europeia, reduzindo as tensões comerciais. Esse alívio impulsionou os mercados na Europa e também os futuros em Nova York.
Contudo, mesmo com esse bom humor internacional, o Ibovespa não conseguiu replicar o desempenho devido aos fatores domésticos que pesaram sobre o mercado.
Selic: cenário muda rapidamente
A elevação do IOF, somada a um ambiente econômico ainda frágil, alterou as projeções para a taxa básica de juros no Brasil. Antes, parte relevante do mercado acreditava que o Banco Central poderia voltar a subir a Selic para conter pressões inflacionárias. Agora, surgem apostas de que um corte de juros pode ocorrer ainda em 2025, com o IOF já atuando como um freio sobre a atividade econômica.
A redução dos juros, contudo, pode ter efeitos distintos: favorece o mercado acionário, mas desvaloriza a moeda nacional, como observado no pregão desta segunda.
Encerramento: Ibovespa se sustenta, mas com desafios
O fechamento positivo do Ibovespa demonstra uma certa resiliência do mercado brasileiro, mas também evidencia as limitações impostas pela conjuntura interna. Com minério de ferro em queda, liquidez reduzida e incertezas políticas e fiscais, o mercado segue atento aos próximos movimentos do governo e do Banco Central.
Para os investidores, o cenário é de cautela: as commodities seguem voláteis, o ambiente político apresenta riscos, e a política monetária pode passar por ajustes inesperados.
O dia foi marcado por um misto de forças contraditórias: alívio externo com o recuo das tarifas de Trump, pressão interna com o IOF e a queda das commodities. O investidor brasileiro deve manter atenção redobrada nos próximos dias, principalmente em relação à evolução das expectativas sobre a Selic, que agora volta a ser um elemento chave para definir o rumo dos mercados.
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