O Comitê de Política Monetária (Copom) aumentou a Taxa Selic em 0,25 ponto percentual, elevando os juros básicos da economia para 15% ao ano. Esta é a sétima alta consecutiva e leva a Selic ao maior patamar desde julho de 2006, quando estava em 15,25% ao ano. Com o avanço dos juros, o custo do crédito sobe, especialmente em financiamentos de bens duráveis como automóveis. Na prática, isso significa parcelas mais caras e maior dificuldade de acesso ao crédito.Comprar por impulso, para quem não é endinheirado (a), é péssima ideia neste momento. O cenário exige atenção e muito planejamento. Antes de fechar negócio na compra de um carro financiado, especialistas recomendam plano financeiro e avaliação cuidadosa das condições de pagamento. “Pessoas com renda a partir de quatro salários mínimos podem planejar a compra do carro, novo ou seminovo, com ou sem entrada. Já quem ganha menos que isso deve evitar comprometer a renda com aquisição ou manutenção de um veículo, devido ao alto impacto no orçamento”, alerta o economista e vice-presidente do Corecon-BA, Edval Landulfo.“Os juros praticados no Brasil são assustadores e a Selic funciona apenas como uma referência, porém os bancos podem utilizar qualquer percentual para seus financiamentos. Isso vai depender de suas planilhas de custos, onde entra a conta da inadimplência, do atraso, e claro, o famoso spread bancário brasileiro, um dos mais altos do mundo”, explica o economista.“Quem compra carro financiado vai pagar duas, três vezes o valor original do veículo. Então não pense apenas se a prestação vai caber no meu bolso, coloque tudo na planilha e faça as contas para saber quanto vai pagar pelo bem”. Ele lembra que no consórcio os juros são menores, mas nesse caso não há a posse imediata. “É preciso esperar para ser contemplado ou oferecer um sinal para receber o carro ou a carta de crédito”.O economista afirma que o ideal é pagar à vista para obter descontos, ou vantagens como pagamento do IPVA, emplacamento etc. “Dar o carro como entrada em geral não é bom negócio, porque esse carro é avaliado por um valor menor, às vezes se perde de 3 a 5 mil reais”, ensina. “Não se pode perder dinheiro em um momento tão difícil. Melhor pagar o carro à vista ou dar uma entrada maior, para financiar o mínimo”, ressalta.Dinheiro na mão confere poder, então o especialista sugere que o melhor dos mundos é fugir de financiamentos, consórcios e afins. “Caso vá utilizar um carro usado na compra, melhor seria vender o carro usado antes e usar o dinheiro como alavanca na negociação com a concessionária”, orienta.Comprar ou investir?Quem tem dinheiro para pagar um carro à vista deve avaliar o quanto economizaria em relação ao financiamento. Também vale considerar se aplicar esse valor pode render mais do que o custo dos juros. Nesse caso, o rendimento do investimento pode ajudar a pagar as parcelas, permitindo adquirir o bem sem comprometer todo o capital de uma vez. Avaliações como essa são estratégicas e fazem diferença no planejamento financeiro.A compra à vista segue como a modalidade ideal, mas poucos brasileiros têm capital suficiente para pagar um carro integralmente. O consórcio, por sua vez, apresenta dificuldades: as taxas administrativas estão altas, os preços dos veículos nas alturas, o que torna as parcelas mais caras. “Na prática, o consórcio acaba não compensando pelo tempo de espera, a burocracia do processo e o reajuste das parcelas”, explica o presidente da Associação de Revendedores de Veículos da Bahia (Assoveba), Ari Pinheiro Junior.Uma alternativa tem sido o cartão de crédito, que oferece juros um pouco menores do que o financiamento tradicional. “Hoje, o consumidor analisa se consegue arcar com as parcelas e, dentro dessa realidade, fecha a compra”, afirma o presidente da Assoveba.A economista e educadora financeira Laura Lavigne adverte que “a parcela do financiamento do carro não deve comprometer mais de 10% dos rendimentos”. E é preciso colocar na planilha custos com IPVA, seguro, manutenção e combustível. “Se não for para uso comercial, o carro é uma despesa pessoal fixa e pesada, que pode se tornar um problema em tempos de juros altos, como o que estamos vivendo”, alerta.Contadora organizadaA contadora Camila Ataides comprou um Chevrolet Onix Plus 2020 por R$ 80 mil. Após dar uma entrada robusta, financiou R$ 35 mil em 48 parcelas com o banco BV. A taxa de juros mensal foi de aproximadamente 1,3% — cerca de 17% ao ano.Segundo Camila, o processo de aprovação foi rápido e sem dificuldades. Ela diz que as condições do financiamento foram adequadas ao seu planejamento. A parcela, que representa entre 10% e 12% da sua renda mensal, não compromete o orçamento. “Ainda consigo pagar minhas contas e manter meus investimentos”, explica.Como dica para quem pretende financiar um carro, Camila recomenda cautela: “Veja se a parcela realmente cabe no seu bolso. E se puder dar uma entrada maior, melhor ainda – isso reduz os juros. Também é fundamental comprar em uma loja de confiança”.
Alta dos juros exige cautela na hora de comprar carro
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