Essa obra de terror desafia todos os limites com alta violência e vingança

“Aos mais sensíveis – que nem deveriam estar por aqui – alertamos que esta revista é de terror, contém altas doses de violência e absurdos físicos, morais, psicológicos e sociais. Mas não enquanto apologia e, sim, como elementos para causar asco e repugnância. Se você quer final feliz e um mundo perfeito onde todos são legais uns com os outros e plenamente conscientes e integrados com aquele tal universo que conspira a nosso favor, vá ler outra coisa”.A escrachada recomendação acima abre o volume dois de Pandemonium, sequência do quadrinho baiano de terror lançado durante a pandemia. A energia é a mesma. Ao focar em histórias de terror fantástico que remetem às clássicas páginas de quadrinhos produzidas a partir da década de 1950 até o início dos anos 1980 por editoras como EC Comics, Warren e pela própria Marvel (em uma época de maior ousadia e riscos assumidos), Pandemonium vol. 2 dosa com precisão o mesmo tipo de conceito.Após o lançamento da edição de cinco anos atrás, Val Oliveira, idealizador e um dos desenhistas e roteiristas com histórias nas duas revistas, reuniu uma nova equipe, mas mantendo alguns dos nomes que ajudaram na criação do volume 1. O que não mudou, como já frisado na citação que abre esse texto, foi a proposta ousada de abordar um tipo de narrativa fantástica que utiliza sem privações de violência e com uma premissa de narrativas calcadas na influência da literatura macabra e do cinema de gênero de terror slasher e, também, tragicômico.“A abordagem da Pandemonium não se encaixa muito na produção da maioria dos quadrinhos nacionais. Pelo menos na forma que procuramos gerir as histórias e o direcionamento da revista. O que procuramos é tentar contar boas histórias, onde o leitor possa se envolver, se divertir ou até mesmo se espantar”, pontua Val Oliveira em entrevista ao A TARDE.

|  Foto: Divulgação

Liberdade de terrorIndo contra a corrente do politicamente correto e distante de qualquer medo de cancelamento por detratores puritanos, a Pandemonium deixa evidente em suas páginas que o espaço ali é específico de uma corrente narrativa que não busca ofender, mas delimita bem o seu território narrativo.Conhecendo bem seu público alvo e as referências cinematográficas e literárias, a publicação ousa em narrativas de contos curtos ilustrados e consegue um resultado empolgante em histórias dentro de um realismo fantástico.Sobre essa liberdade de criação e espaço focado na fidelidade a um estilo, Val Oliveira deixa claro que a ideia, aqui, não é seguir cartilhas, mas extravasar criatividades tendo como meta uma recompensa divertida para quem se aventurar pelas páginas de Pandemonium Vol. 2.“Tem muitos autores brasileiros que abordam temas atuais, buscando o fator de representatividade, tratar de temas atuais que são extremamente importantes. E eles fazem isso muito bem. No nosso caso, o fator que procuramos é a diversão do leitor. Que ele se divirta! Que ele leia e releia, e que possa escolher suas historias ou autores preferidos em nossa publicação. Em Pandemonium Vol. 2, a equipe de autores se alterou um pouco. Ainda estão presentes autores premiados como Hector Salas, Hélcio Rogério e Romeu Martins, e tendo como novidade a contribuição de Luan Zuchi, Daniel Paz, Rafael Oliveira, Sandro Zambi, Joe Santos e Lui C.Q.”, destaca o idealizador do projeto.

|  Foto: Divulgação

Leia Também:

Musical de Gal Costa abre audições para atores de Salvador

Quarta que Dança volta com 32 espetáculos e 32 oficinas gratuitas na Bahia

Festival literário da Chapada Diamantina discute futuro do planeta com arte

Outros projetosNessa meta de diversão aos leitores que apreciam o gênero do horror, encontramos histórias instigantes de vingança como as brutais Pedaços, assinada por Rafael Oliveira com arte de Rodrigo Vinicius, e Tem Coisas que Não se Consegue Esquecer, de Hector Salas e do próprio Val Oliveira.Na seção “Microcontos”, Turno da Noite (texto de VB Felipe e arte de Rodrigo Vinicius), referencia os clássicos Contos da Cripta e Graveyard Shift, clássico de Stephen King, que se faz presente em uma ambientação arrepiante junto a uma recompensa de impacto com seu final aterrorizante.

|  Foto: Divulgação

Outro destaque vai para a história Entrelaçados, de Romeu Martins e Sandro Zambi, que mescla elementos de religiosidade em um texto que também aborda aspectos científicos juntamente a uma premissa de vingança usando vudu. “A dupla Romeu e Zambi lançou recentemente uma adaptação de Nosferatu pela Kaiju Editora, baseada no clássico alemão expressionista, e que está recebendo ótimas criticas no mercado editorial brasileiro”, comemora o artista gráfico.A parceria já rendeu outros frutos, como uma premiada adaptação de H.P. Lovecraft, que contou com o trabalho de Sandro Zambi e Romeu Martins, bem como a arte de Val Oliveira. “Lançamos A Cor que Caiu do Espaço em 2020, pela Editora Skript. Com ela, conquistamos o Troféu Odisseia Fantástica de Melhor Adaptação na categoria Quadrinhos e concorremos ao Troféu HQ Mix de 2021 de Melhor Adaptação para os Quadrinhos”, relembra Val.“A Pandemonium é uma empreitada minha, do Rodrigo Vinicius e Hector Salas, através do coletivo Quadrinhos de Emergência. Ela surgiu para suprir a falta de quadrinhos de horror no mercado editorial baiano. Infelizmente, temos pouco apoio a esse tipo de gênero produzido na Bahia. Mas, seguimos firmes. A revista também tem o apoio de meu outro projeto, a Mostra de Cinema Cine Horror, que este ano chega em sua décima edição, esperando ir além”, finaliza o autor.

|  Foto: Divulgação

Adicionar aos favoritos o Link permanente.